Um mal entendido, desde o início. Uma suspeita, a averiguação feita por militares de folga, que estavam à paisana, e o medo de um homem, com passagens pela polícia, em ser preso foram as causas do assassinato do cabo da Polícia Militar Rafael Delgado Will Nogueira, de 35 anos. O crime ocorreu na madrugada do dia 28 de setembro, no Bairro Santa Terezinha, na Pampulha, em Minas Gerais, próximo à Boate La Rock. Os autores, de 24 e 38 anos, foram presos. Eles estão sendo indiciados por homicídio triplamente qualificado.


A série de equívocos começou quando o cabo Will, como era conhecido na PM, ligou para um amigo, cabo Fabrício, que está detido no Batalhão Rotam, chamando-o para sair, a fim de comemorar que ele tinha ficado solteiro, depois de terminar um namoro.


Os dois, que eram amigos há sete anos, se encontraram e foram a um bar beber cerveja, por volta das 22h. Resolveram, já de madrugada, ir para uma boate, pois o cabo Will queria encontrar uma garota que ficasse com ele.




 

Eles se dirigiram de carro à Boate La Rock, na Avenida Heráclito Mourão de Miranda. O porteiro deixou que eles entrassem, apesar de o estabelecimento estar perto do horário de fechamento.


Os dois deixaram suas armas na portaria e entraram, voltando a beber. Como a boate estava vazia, resolveram ir embora. Saíram do local, quando viram duas mulheres e resolveram abordá-las. Pararam na rua e ali ficaram, mesmo depois de as mulheres terem saído.


O outro lado


Coincidentemente, os suspeitos do vindouro crime estavam no Bairro Santa Fé, acompanhados de suas namoradas. O carro deles estava com o para-choque dianteiro solto.


 

Já de madrugada, os suspeitos resolveram, também, ir para a La Rock. Lá, não conseguiram lugar para estacionar o veículo e deram três voltas no quarteirão.


Um vigia lhes fez sinal e disse que o para-choque dianteiro estava solto. Um dos amigos desceu do carro, para olhar tentar prender a pela novamente.


 

Só que pararam do lado contrário do rua onde estava estacionado o carro dos policiais. O cabo Fabrício estranhou ao ver o homem descendo do carro e mexendo no para-choque.


O cabo Will, por sua vez, resolveu verificar os ocupantes do veículo. Ao se aproximar e perguntar o que faziam ali, um dos homens se assustou, pois percebeu, pela abordagem, se tratar de um policial. Sacou, então, o revólver e atirou, atingindo o cabo Will, que também disparou, mas acertando apenas um dos pneus do carro do amigo, cabo Fabrício.


O desenrolar


Apavorado, Fabrício corria de um lado para o outro. O motorista do outro carro entrou no veículo, passou por cima do corpo do cabo Will e fugiu.


 

O cabo Fabrício saiu correndo do lugar, retornando posteriormente, tentado auxiliar o amigo, mas percebeu que ele estava sangrando muito. Com o celular, fez três ligações para o serviço 190, da PM. Em seguida, entrou no seu carro e saiu do local.


Ele foi para a casa de sua namorada e contou a ela o que havia acontecido. A mulher não conseguia entender direito o que o namorado falava.


Ao chegar ao local e ver o cabo Will caído, ensanguentado, ela perguntou ao namorado. “Mas o que aconteceu aqui? O que houve? Como o Will está morto?".

 

No local já havia duas viaturas da PM, que deram voz de prisão ao cabo Fabrício, por omissão de socorro.


Perseguição e prisão


Segundo o delegado Lucas NUnes, da Delegacia Especializada de Homicídios Noroeste, os dois criminosos, que já tinham ficha criminal, por tráfico de drogas e tentativa de homicídios, ao deixar o local do crime, foram para a casa das namoradas, deixando-as lá.


Em seguida, continuaram a fuga, com o objetivo de chegar a Três Marias. No entanto, quando passaram por Corinto, o carro sofreu uma pane. Eles, então, ligaram para as namoradas, que pegaram outro carro e foram ajudar os dois criminosos.


“A Polícia Militar, no entanto, já estava no encalço deles e conseguiu cercá-los. Um dos criminosos, no entanto, conseguiu escapar e ficou escondido no mato, por dez dias, de 29 de setembro a 8 de outubro, quando foi preso. Nesse tempo, ele ficou comendo frutas e pedia comida aos moradores locais. Contava uma série de histórias, para despistar. No entanto, esses mesmos moradores que o alimentaram, passaram a desconfiar do homem e o denunciaram”, diz o delegado Lucas Nunes.


Indiciamentos


Segundo o delegado, o cabo Fabrício, detido no Batalhão Rotam, não foi indiciado. “Ele é testemunha, pois também é vítima”, afirma o delegado.


“Os dois homens confessaram o crime. O que atirou, de 38 anos, disse que teve medo de ser preso, pois percebeu que tinha sido interpelado por um policial militar, embora este estivesse à paisana. Por isso atirou. Não queria ser preso novamente”, conta o delegado Lucas Nunes.


O outro criminoso, de 24 anos, era o motorista, que passou com o carro por cima do corpo do cabo Will.


As duas mulheres, namoradas dos criminosos, foi registrada por meio de um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e também serão chamadas na Justiça.


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