Minas Gerais inicia no próximo mês uma campanha de multivacinação com o objetivo de atualizar cadernetas de crianças e adolescentes para recuperar índices de cobertura vacinal que têm caído nos últimos anos. Embora sejam anunciadas mais de 1,9 milhão de doses de vacinas contra várias doenças, uma preocupação paira sobre a campanha: não há, por ora, disponibilidade de vacinas contra a catapora (varicela) e a COVID-19, já ausentes do cronograma de imunização de alguns municípios mineiros há meses por falta de estoques.


A campanha, que acontecerá entre os dias 4 e 29 de novembro, tem como público-alvo crianças e adolescentes menores de 15 anos e prevê distribuir 1.947.000 doses de vacinas. Dessas, 1.253.000 já estavam em estoque no estado, e 694 mil foram enviadas este mês pelo Ministério da Saúde, remessa recebida na última quarta-feira (16/10). Nas próximas semanas, o governo do estado fará a distribuição das doses aos municípios. Os imunizantes incluem vacinas como tríplice viral, hepatite B e A, HPV, pentavalente, contra febre amarela e contra poliomielite, entre outras.

 




No entanto, a ausência na lista das vacinas de COVID-19 e varicela, que já enfrentam um problema de abastecimento em diversas regiões do estado há cerca de quatro meses, preocupa especialistas e gestores de saúde. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o déficit é resultado do envio insuficiente de doses pelo Ministério da Saúde, órgão responsável pela aquisição e distribuição dos imunobiológicos aos estados.

 

Ainda assim, a SES-MG garantiu que as demais vacinas estarão disponíveis em quantidade suficiente para a realização da campanha. A secretaria não detalhou o número de crianças e adolescentes que compõem o público-alvo, nem esclareceu por que a campanha foi lançada neste momento do ano.

 


Se novos lotes das vacinas contra COVID-19 e varíola não forem enviados pelo Ministério da Saúde nas próximas semanas, a campanha de novembro terá que seguir sem essas doses, o que pode prolongar a vulnerabilidade de muitas crianças e adolescentes mineiros. Em setembro, a Associação Mineira de Municípios (AMM) alertou para o desabastecimento de imunizantes contra a varicela, que afeta 93% dos 211 municípios consultados em pesquisa feita pela entidade. A lacuna também se estende à vacina contra a COVID-19.

 

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não esclareceu se haverá envio de novas remessas ao estado antes do início da campanha. Em nota, sem citar Minas Gerais, o órgão informou que adquiriu 2,7 milhões de doses de varicela no fim do ano passado, 150 mil serão entregues em novembro. A expectativa, segundo a pasta, é que os estoques sejam regularizados no primeiro semestre de 2025. Já em relação à vacina contra a COVID-19, o órgão anunciou o início da distribuição de 1,2 milhão de doses aos estados nesta semana. Além disso, a pasta antecipou a compra de mais de 60 milhões de doses, que serão entregues conforme a adesão da população e as atualizações aprovadas pela Anvisa.


Os mutirões de vacinação são um esforço para reverter a queda nos índices de imunização e evitar que doenças controladas ou erradicadas voltem a ameaçar a população. Desde 2022, a baixa cobertura contra a poliomielite, por exemplo, coloca Minas Gerais em uma posição vulnerável para a volta da doença, erradicada no estado há quase 40 anos. “A cobertura vacinal cria uma barreira de proteção que impede a propagação de doenças. Esse é um dos princípios da imunidade de rebanho, que depende da participação de toda a população”, afirma o médico infectologista Leandro Curi.


A percepção pública de risco, segundo o especialista, desempenha um papel importante na adesão à vacinação. Quando essas doenças eram comuns e causavam mortes ou sequelas visíveis, a população via a vacinação como uma questão de sobrevivência. As fake news também contribuíram na redução das coberturas, diz. Ele defende campanhas de vacinação mais enfáticas sobre a importância da imunização, a fim de reduzir mitos e fortalecer a confiança na eficácia das vacinas. O especialista lembra que não há limite para a quantidade de vacinas que uma criança pode receber no mesmo dia.

 

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1.947.000

Total de doses que o governo do estado pretende distribuir ao longo da campanha

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