O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta sexta-feira (25/10), os dados do Censo 2022 que apontam o aumento no número de mulheres responsáveis por domicílios em Minas Gerais. O levantamento feito no estado em 2010 indicava que 35,6% das residências do estado tinham mulheres como responsáveis. Em 2022, esse percentual subiu para 45,9%. A proporção aumentou 10,3 pontos percentuais. 

 

No Brasil, também houve um incremento entre as pessoas responsáveis pelas unidades domésticas. Na data da última pesquisa, 50,9% eram homens (37 milhões) e 49,1%, mulheres (36 milhões). Houve mudança importante em relação a 2010, quando o percentual de homens responsáveis (61,3%) era substancialmente maior que o de mulheres (38,7%).

 



 

 

 

A enfermeira Meiriele Correia, de 44 anos, faz parte dessa estatística. Moradora da Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, ela vive mora com a filha de 10 anos em um apartamento. Em 2016, passou a ser responsável pelo lar, após um divórcio. “É mais difícil manter a qualidade de vida, ter tempo de qualidade com os filhos e dar conta de tudo”, explicou Meiriele, que diz enfrentar outras barreiras na posição de chefe de família – como as pressões da sociedade. “Até para financiar meu apartamento sofri preconceito”, conta. “Sempre perguntam se tenho marido. Quando contrato algum tipo de serviço de manutenção, além de questionarem sobre a ausência de um homem, por eu ser mulher, tentam cobrar mais caro pelo trabalho.” 

 

 

 

Também foi devido a uma separação que Priscilla Antunes, de 40 anos, passou a morar somente com os dois filhos no bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte. “Me tornei chefe da casa em 2019, após passar por um processo de separação. Precisei assumir não só as responsabilidades financeiras, mas também todo o aparato psicológico que requer o esteio familiar, além da carga quádrupla de trabalho: cuidar das tarefas domésticas, da faculdade, do trabalho e dos filhos”, explica ela ao Estado de Minas.

 

Priscilla Antunes de 40 anos mora somente com os dois filhos na Região Leste de Belo Horizonte

Arquivo Pessoal

 

 

 

Priscila diz ter aprendido a lidar com os preconceitos, mas relata já ter sofrido com o afastamento de algumas pessoas por não ter mais uma "família tradicional". “O preconceito se estendeu às crianças, quando na escola não eram chamados para festinhas de aniversário de coleguinhas por conta do nosso contexto social e econômico fragilizado”, desabafa a pedagoga. 

 

Elma Oliveira é outra que já faz parte desse grupo há 15 anos. A bibliotecária mora sozinha, em um apartamento no Bairro Luxemburgo, Região Centro Sul de Belo Horizonte, e conta que às vezes sente falta de companhia nos finais de semana. No entanto, ela afirma que, no geral, não enfrenta grandes dificuldades na vida solo. “Acho ótimo ter minha liberdade e minha privacidade. Sempre quis morar sozinha e assim que tive condições financeiras realizei minha vontade”, diz ela, que não tem filhos.

 

Para ela, a vida solo é também uma oportunidade de desenvolvimento pessoal, aprendizados nos cuidados com a casa e melhor gestão financeira. “Percebo a admiração de muitas pessoas por eu ser uma mulher independente e ter minha liberdade. Nunca tive ajuda financeira, mas sempre busquei ter minhas coisas”, diz.

 

Segundo o IBGE, a realidade de Elma, Meiriele e Priscila é a majoritária em 10 estados, nos quais o percentual de mulheres responsáveis pela unidade doméstica foi maior que 50%: Pernambuco (53,9%), Sergipe (53,1%), Maranhão (53,0%), Amapá (52,9%), Ceará (52,6%), Rio de Janeiro (52,3%), Alagoas e Paraíba (51,7%), Bahia (51,0%) e Piauí (50,4%). 

 

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

 * Estagiária sob supervisão do subeditor Fábio Corrêa

 

compartilhe