As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 representam um momento de extrema pressão na vida de milhares de jovens pelo Brasil. Este ano, alunos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro podem ter que lidar com mais uma variável: os jogos da final da Copa do Brasil. 


Em janeiro deste ano, a CBF divulgou o calendário da competição, incluindo as partidas de ida e volta da decisão, marcadas para os dias 3 e 10 de novembro, às 16h. Em maio, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o cronograma do Enem, com a aplicação do exame para os mesmos dias, entre 12h e 19h, no primeiro dia, e 18h30, no segundo.




 

Os times que disputam o título são Atlético e Flamengo, que têm grandes torcidas. Isso levou à preocupação com o barulho que as partidas, em especial em BH e no Rio, podem gerar nas duas capitais dada a importância do título para as equipes e torcedores. 

 

Eventos proibidos

No último dia 18, a Prefeitura de Belo Horizonte decretou a proibição de eventos nos dias de prova para assegurar o silêncio e a tranquilidade para os participantes. 

 

De acordo com o documento, foi considerada a importância do vestibular e o comprometimento do município em garantir que a cidade proporcione aos participantes as melhores condições, especialmente quanto ao deslocamento da população até os locais das provas e evitando ruídos excessivos nas proximidades.

 

Procurada pela reportagem, a PBH afirmou que o decreto não afeta jogos de futebol, uma vez que os estádios já possuem licenciamento para as atividades esportivas, e que "a portaria se refere apenas às atividades que necessitam de autorização como evento na cidade".


Pedidos de alteração dos jogos

Na última semana, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) solicitou à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a revisão das datas dos jogos. Na nota, o órgão reconheceu a “relevância” de ambos os eventos, mas disse acreditar que a coincidência de datas “pode acarretar dificuldades logísticas para os participantes do exame, como congestionamentos e agitação de torcedores”.


“Podem ocorrer ainda dificuldades quanto à frequência, se o estudante preferir terminar mais cedo a prova para ir ao jogo ou até mesmo optar por não participar do Enem”, diz o documento.


Professores, pais e responsáveis também buscam uma alternativa para o impasse. Um professor da rede particular de BH que não quis se identificar enviou cartas para a CBF e para o Inep solicitando a mudança do horário da decisão para as 19h30, a fim de não atrapalhar o desempenho dos candidatos.

 

 

“Uma pessoa próxima a mim teve uma experiência anterior a qual o Enem coincidiu com dia de jogo. Foguetório, gritaria e buzinaço atrapalham, né? É um momento importantíssimo na vida da pessoa, que está estudando o ano inteiro e, na hora da prova, fica aquele barulho inadequado que atrapalha”, declarou.


O professor de física Beto Andrade, que leciona em colégios e em cursinhos, relata que os alunos têm reclamado ostensivamente sobre a coincidência de datas, seja por não querer perder o jogo, seja por ser prejudicado com a logística ou barulho durante a prova. Ele também enviou uma carta à CBF expressando “descontentamento com a insensibilidade” da organização em ignorar os milhões de inscritos.


“Além de influenciar diretamente o psicológico do vestibulando, que não poderá acompanhar dois dos mais importantes jogos de futebol do ano, atrapalha toda a logística de prova, um trânsito que precisa deslocar quase 80 mil torcedores para o Maracanã e quase 50 mil torcedores para a Arena MRV”, diz a mensagem de Beto para CBF. “O torcedor e/ou estudante merece mais importância nas decisões”, finaliza.


Ansiedade em jogo

Além de questões relacionadas ao trânsito e ao barulho, outro ponto importante é a ansiedade dos torcedores de Atlético e Flamengo. Em caso de comemorações, eles podem dispersar a atenção ou ficar ansiosos imaginando se seus times estão ganhando ou perdendo.


Um desses alunos é o atleticano Bernardo Campos, de 18 anos, que vai prestar o vestibular para o curso de direito. Ele tem o costume de acompanhar todos os jogos do Atlético no estádio ou pela TV. 


O jovem, que faz cursinho desde o início do ano, contou que ficou chateado quando viu que o jogo do título iria cair no mesmo dia do vestibular. Apesar da paixão pelo futebol, a responsabilidade com o futuro falou mais alto e ele vai tentar focar toda sua atenção na prova. Entretanto, não descarta a possibilidade de se prejudicar caso ouça alguma comemoração de gol.

 


“Isso pode tirar minha atenção na hora da prova e ficar pensando no jogo que tá acontecendo. Mas o jogo não vai impactar muito na minha vida, então é mais importante tentar focar na prova. Espero que mudem o horário”, diz Campos.


Ao Estado de Minas, a CBF informou que, até o momento, não há previsão de alteração da data ou horário das partidas. 

 

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