O Complexo de Morro Velho será revitalizado. Projeto recém-aprovado pretende transformar uma área do complexo de exploração minerária já desativada em espaço de cultura, lazer e preservação da memória. Inaugurada em 1725, a Mina Velha marcou o início da exploração aurífera no complexo e na região, encerrando suas atividades em 2003, quando foi sucedida pela Mina Nova. A Mina Grande, por sua vez, iniciou suas operações em 1892, tornando-se conhecida como a mais profunda do mundo naquela época. Sua história se entrelaça com a da Villa Nova de Lima, atual Nova Lima, até o encerramento de suas atividades em 1995.
Após duas décadas de inatividade, a área de 260 mil metros quadrados (m²) no centro de Nova Lima onde as minas Velha e Grande operavam, será revitalizada pelo projeto Nova Vila, que tem a previsão de conclusão das obras em 10 anos. A iniciativa, idealizada pela AngloGold Ashanti, em parceria com a construtora Concreto e apoio da Prefeitura de Nova Lima e do governo de Minas, prevê a criação de um centro de convivência multifuncional, que permeia três bairros da região central da cidade: Rosário, Mingu e Boa Vista.
O projeto foi aprovado pela Câmara de Atividades de Mineração (CMI), do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), nos termos da Deliberação Normativa (DN) COPAM nº 220/2018. Trata-se do primeiro Plano Ambiental de Fechamento de Mina (Pafem) orientado e analisado pela Gerência de Recuperação de Áreas de Mineração da Diretoria de Gestão de Barragens e Recuperação de Área de Mineração e Indústria da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).
A proposta de revitalização de mais de 19,6 mil m² de estruturas históricas, utilizando o conceito de museu de território, busca valorizar o patrimônio histórico-cultural da região, aliado à preservação ambiental. A área verde será um dos destaques do projeto, com 25% do espaço total destinado à criação de corredores ecológicos e áreas de preservação da Mata Atlântica. A preocupação com o meio ambiente também se reflete na baixa densidade de ocupação prevista para o local, com taxas para moradias inferiores às permitidas pelo Plano Diretor do município, visando minimizar o impacto ambiental.
O projeto prevê a construção de uma nova via de 2 quilômetros de extensão e de uma ciclovia, com o objetivo de melhorar o fluxo de veículos e incentivar a mobilidade sustentável na região. Essa nova infraestrutura viária vai conectar a parte baixa da cidade ao centro de Nova Lima, proporcionando alternativas de acesso à área revitalizada. Além disso, haverá áreas verdes, espaços culturais, áreas comerciais e de serviços, além de moradias, e espaços dedicados à prática de esportes, educação, economia criativa e inovação na indústria.
SUSTENTABILIDADE
Roberto Junio Gomes, diretor de Gestão de Barragens e Recuperação de Área de Mineração e Indústria da Feam, destaca a importância de projetos como o Nova Vila para a sustentabilidade no cenário de transição das atividades de mineração no estado. Segundo ele, a proposta da AngloGold Ashanti, especialmente a Operação Urbano Consorciada Nova Vila, é inovadora no Brasil e em Minas Gerais, com impacto positivo para a cidade de Nova Lima.
O plano, elaborado de acordo com a Deliberação Normativa COPAM nº 220/2018, garante a recuperação ambiental da área e define as diretrizes para seu uso futuro sustentável. Gomes ressalta que a Feam acompanhará a implementação das ações de fechamento da mina por meio das condicionantes previstas no parecer técnico GRM Feam número 69 de 2024, que subsidiou a decisão do Copam.
As ações incluem a atualização de cronogramas, relatórios periódicos de avanço da execução do Pafem, laudos de inspeção de toda a área do empreendimento, além do programa de monitoramento ambiental. O plano de fechamento de mina da Mina Velha também prevê a estabilização de taludes, bloqueio de shafts subterrâneos e tratamento de água da mina para recarga do Ribeirão Cardoso.
RESERVA ECOLÓGICA
Além disso, segundo a previsão, será criada uma reserva particular ecológica de aproximadamente 64 mil metros quadrados na área do empreendimento que contém fragmentos florestais. Essa reserva será implementada paralelamente à operação urbana consorciada Nova Vila, e a FEAM acompanhará as condições biológicas da fauna e flora durante a implementação da operação.
A AngloGold Ashanti calcula que a iniciativa poderá gerar cerca de 350 empregos temporários diretos e 600 indiretos durante a fase de construção. Após a conclusão das obras, a previsão é que mais de 260 novos postos de trabalho permanentes sejam criados nos três primeiros anos de operação do "Nova Vila", impulsionando a economia local.
REAÇÃO DOS MORADORES
Segundo Guabiroba, diretora na AngloGold Ashanti, o projeto Nova Vila tem sido apresentado à comunidade por meio de diálogos com a sociedade civil, comunidades, associações e instituições. Já de acordo com Gomes, da Feam, foram realizadas duas reuniões públicas no município para apresentação da proposta de novo uso e coleta de opiniões, sugestões e críticas da população, principalmente em relação à implementação da Operação Urbana Consorciada à Nova Vila e para o traçado da nova via pública. “Destaca-se que uma dessas reuniões públicas, realizada em 20 de fevereiro de 2024, visava atender aos procedimentos previstos na DN Copam 220/2018, que norteou todo o trâmite de aprovação do plano de fechamento de mina”, disse.
No entanto, moradores de Nova Lima ouvidos pelo Estado de Minas disseram não ter informações detalhadas sobre o projeto. Cláudio Luiz Silva, marceneiro de 55 anos e morador antigo da cidade, afirmou desconhecer os detalhes do empreendimento. Segundo ele, a empresa não contatou a população sobre as obras. “Eu sou nascido e criado dentro de Nova Lima e não estou sabendo de nada disso, não. Acredito que poucas pessoas estejam sabendo disso aí”, disse o morador.
Porém, ele supõe que a implementação da Vila Nova será benéfica para a região. “Seria bom, já que fica aí esse espaço inválido, parado, que está praticamente abandonado, né? Já tem anos que está desse jeito”, comentou. Já outro morador, que preferiu não se identificar e mora no Bairro Rosário há 20 anos, relatou ter acesso apenas às informações divulgadas pelo jornal local, sem ter uma opinião formada sobre o projeto, uma vez que, segundo ele, a prefeitura e a empresa não contataram a população, exceto para alertar sobre riscos na região. “Só vieram falar ano passado que havia risco de uma barragem se romper por ali perto”, afirmou.
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