Minas Gerais é o estado que tem a maior quantidade de pontos de vulnerabilidade para exploração sexual de crianças e adolescentes localizados em rodovias federais, aponta a 10ª edição da cartilha do Projeto Mapear, feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em conjunto com a organização internacional Childhood Brasil. São 3.581 locais de risco espalhados por 9.205 quilômetros de estradas controladas pela União.
Chama atenção na pesquisa o fato de a Região Sudeste, apesar de Minas Gerais liderar o ranking entre os estados, ser somente a segunda com maior número de pontos de risco: são 5.041 locais com potencial de exploração sexual de crianças e adolescentes. O Nordeste é a região com mais zonas vulneráveis, 6.532. Na sequência vêm as regiões Sul, com 2.474; Centro-Oeste, com 2.210; e Norte, com 1.430.
A rodovia com maior número de locais com atividades potencialmente exploratórias de crianças e adolescentes atravessa Minas Gerais de norte a sul: é a BR-116, também conhecida como Rio-Bahia, na qual existem 2.398 pontos de risco. Dos mais de 4.500 quilômetros de extensão da estrada, 817 estão localizados em território mineiro.
Em todo o Brasil, o levantamento apontou a existência de 17.687 pontos de vulnerabilidade para crianças e adolescentes em rodovias federais. Assim, houve um aumento de 83,2% em comparação ao biênio anterior, quando o levantamento mapeou 9.653 locais de risco. As estatísticas incluem, entre outros locais, estabelecimentos comerciais, hotéis, motéis e postos de combustíveis localizados às margens das estradas. O Projeto Mapear classificou ainda os pontos de risco em quatro níveis: baixo, médio, alto e crítico.
O inspetor Aristides Júnior, chefe da Comunicação Social da PRF-MG, explica que, apesar de os dados aparentemente apontarem um grande crescimento, na verdade essa diferença é resultado de um monitoramento mais cuidadoso da situação das estradas. Nesse ponto, cabe destacar que a PRF e a Childhood Brasil realizam o levantamento desde 2009.
“A existência de pontos de vulnerabilidade não significa, necessariamente, que esteja ocorrendo prostituição", pontua Júnior. O agente destaca que o próprio mapeamento dos pontos de risco já constitui uma ação da PRF, que, então, pode monitorá-los. "Nós minimizamos a possibilidade de o crime acontecer, porque, constantemente, esses locais serão alvo de fiscalização”, afirma.
Vale do Jequitinhonha
Outros policiais ouvidos pela reportagem também avaliam que, graças ao maior monitoramento, os casos de exploração sexual infantil nas rodovias federais que cortam o estado vêm diminuindo. Segundo o delegado Thiago de Carvalho Passos, a realidade hoje é bem diferente em relação ao passado, observa o delegado Thiago de Carvalho Passos, que atualmente à frente da Delegacia da Polícia Civil de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. Ele atua na região há 12 anos e já foi delegado também em Medina, município localizado às margens da BR-116. “Os pontos vulneráveis podem continuar existindo. Mas os casos de exploração sexual de crianças e adolescentes em nossa região, se estiverem ocorrendo, são mais pontuais”, afirma.
Ele salienta que, em conjunto com o trabalho de vigilância permanente da Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Civil reforçou o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades do Vale do Jequitinhonha situadas ao longo da Rio-Bahia, com diversas operações ao longo dos últimos anos.
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APOIO ÀS CRIANÇAS
Passos chama a atenção também para a importância do trabalho de entidades que intensificaram o combate à exploração sexual ao longo da BR-116, com atividades voltadas para o apoio às crianças e adolescentes de baixa renda e às respectivas famílias. Entre essas instituições, o delegado cita a ONG Menina Dança, que montou unidades em três municípios cortados pela BR 116: Medina e Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, e Cândido Sales, na Bahia.
Outra entidade que atua na proteção da infância e da adolescência na região é a Associação João Paulo II, em Medina e Itaobim, sendo que essa última é mais uma cidade ao longo do trajeto da Rio-Bahia. "Há um trabalho de conscientização dos caminhoneiros e dos demais trabalhadores do transporte ao longo da rodovia no sentido de prevenir a exploração sexual das crianças e adolescentes. Essa conscientização também vem surtindo efeito”, complementa Passos.
A reportagem conversou também com um policial rodoviário federal que trabalha na BR-116 na região de Itaobim. “De fato, a situação na nossa região agora está bem mais tranquila”, afirmou a fonte da PRF, que preferiu não se identificar, acrescentando que a corporação se mantém atenta, com vigilância constante junto a postos de gasolina e em outros locais considerados vulneráveis para a exploração sexual infantil de crianças e adolescentes.