Dos atingidos que não verão mais os filhos aos indígenas que tiveram tradições ancestrais soterradas pela lama do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (2015), o sofrimento de quase uma década e a luta por justiça que chegou aos tribunais do Reino Unido estão entre os temas de documentário a ser lançado em 2025, ao fim das audiências de indenização do processo no exterior.
O documentário de nome ainda não divulgado é concebido pela Vertical Productions, produtora brasileira do cineasta Renan Flumian, em co-produção com a produtora chilena Quijote Films.
A ponte entre a devastação das comunidades atingidas pelo rompimento transcende a fragilidade das vítimas ao mostrar a coragem na batalha pela justiça que deixou as discussões no Brasil em busca de solução nos tribunais da Inglaterra.
"O documentário que estou captando tem como espinha dorsal uma ação coletiva que tramita na justiça inglesa. Isso me permite estabelecer marcos temporais precisos, definindo início e fim para o filme, além de criar uma linha narrativa clara. Essa ação também possibilita uma exploração das diversas camadas dessa história, retratando a complexidade do mundo atual sem filtros. Na teoria do drama, chamamos esse recurso de 'fugas homogêneas'.", afirma Flumian.
Entre os personagens estão mães que perderam seus filhos, viúvas, quilombolas e indígenas. O povo simples da bacia do Rio Doce que teve a vida destroçada pelos mais de 45 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de minério de ferro despejados neste que foi o pior desastre sócio-ambiental do Brasil.
"O que busco com o documentário? Ainda é cedo para ter toda certeza, pois não terminei de filmar e muitas coisas ainda vão acontecer. Além disso, o cinema é uma arte dialógica; cada espectador, com suas experiências e referências culturais, interage com a obra e a interpreta de maneira única. Mas se eu tivesse que destacar algo preliminarmente, seria a intenção de aprofundar a conversa, já que o debate público, na sua grande maioria, está refém de conversas superficiais e barulhentas — para a alegria dos algoritmos.", pondera o cineasta.
“E estou extremamente feliz em contar com a Quijote Films como co-produtora do projeto, que é uma produtora chilena reconhecida por suas obras autorais de alcance internacional, premiadas e exibidas ao redor do mundo, e sua parceria potencializa ainda mais o alcance do documentário.”, afirma Renan Flumian.
O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, a 120 km de Belo Horizonte, lançou cerca de 45 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e lama na bacia hidrográfica do Rio Doce, entre Minas Gerais e o mar entre o Espírito Santo e o sul da Bahia.
Ao todo foram 46 municípios e 700 mil pessoas atingidas. Morreram 19 pessoas, sendo que um corpo jamais foi recuperado e uma grávida perdeu seu filho. A linha de poluição segue por 675 quilômetros só nas calhas dos rios Gualaxo do norte, do Carmo e Doce. Foram recolhidas 11 toneladas de peixes mortos e devastados 800 hectares de mata atlântica.
O valor da indenização é estimado em R$ 248 bilhões (44 bilhões de dólares). São representados pelo Pogust Goodhead 620 mil atingidos, 46 municípios e 1.500 empresas, autarquias e instituições religiosas.
Em paralelo, no Brasil, há um acordo de cerca de R$ 170 bilhões para indenizar entes de governo, municípios, vítimas e familiares pelo rompimento em Minas Gerais e no Espírito Santo. A negociação foi feita entre a Samarco, que é a mineradora que operava a barragem rompida, a BHP Billiton e a Vale - controladoras da Samarco - e os governos de Minas Gerais e Espírito Santo.
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Segundo a BHP, a Fundação Renova já teria destinado mais de R$ 37 bilhões em auxílio financeiro emergencial, indenizações, reparação do meio ambiente e infraestrutura para aproximadamente 430 mil pessoas, empresas locais e comunidades indígenas e quilombolas.