Os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já podem deixar o local de prova, mas sem o caderno de questões. Na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc Minas), Região Noroeste de BH, um dos locais de prova na capital, estudantes estão divididos sobre o nível de dificuldade da prova objetiva e redação.
João Vitor Hendrix, de 19 anos, foi o primeiro a cruzar o portão. “Eu fui eliminado. Meu celular estragou, não consegui desligar e me ligaram no meio da prova. Eu não cheguei a fazer a redação, mas acho que teria ido bem. A prova estava mais fácil que o ano passado”, conta.
O jovem quer cursar fisioterapia e pretende tentar outros vestibulares, mas não virá fazer a segunda etapa do Enem no próximo domingo.
Já o estudante David Marques quer cursar engenharia mecânica e avalia que a prova de ciências humanas estava mais complexa que a de linguagens. “Achei tranquilo. O tema da redação foi um bom tema, engloba muitas coisas de hoje em dia, as questões das matrizes africanas. Deu para fazer, estou confiante”, diz.
Para Felipe Bueno, de 17 anos, o tema da redação estava difícil. “Eu fiz o que dava ali e estou tranquilo. Quero cursar relações internacionais. Mas saí mais cedo, o mais rápido possível, para ver o jogo do Galo”, revela.
Gabriel Fernandes, de 18 anos, também avalia que a prova de redação estava complicada. “Eu me preparei bem, mas achei o tema complicado. Com os textos de apoio para ajudar eu consegui fazer”, conta.
Os participantes podem permanecer no local de prova até as 19h30 no horário de Brasília.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) são mais 200 mil mineiros participando da avaliação entre os quatro milhões de brasileiros. No primeiro dia de exame, os estudantes farão 90 questões das áreas de linguagens e ciências humanas, além da redação.
Fácil, mas pode complicar
O tema da redação deste ano foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”
O professor de Literatura e Redação do Curso Determinante, Flavio Castro, classifica o tema como “importantíssimo, oportuno, atual, necessário e urgente”. Ele destaca que a proposta pode ser considerada fácil, porém, por ter muitos recursos argumentativos, pode acabar complicando para os alunos desenvolverem o texto.
“Mas acho que um ponto de partida interessante é a Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana no Brasil. Eles podem argumentar no sentido de zelar pelo cumprimento e incremento desta lei. Também é possível citar uma série de fontes, como música africana e culinária”, descreve.
O professor ressalta ainda o papel do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em promover a valorização do patrimônio material e imaterial. “Quando se pensa em festas populares, capoeira, artistas negros. Mais que isso, é também nas escolas, por meio da educação, a valorização desse patrimônio, seja por meio da música, da arte negra e da literatura”.
Em relação à literatura, Castro cita duas referências que podem ser exploradas pelos candidatos. “No livro ‘Úrsula’, de Maria Firmina dos Reis, tem um personagem na obra que fala sobre o valor dessa herança e, como mulher negra, reconhece isso”. Ele ressalta que o livro se passa no século XIX. A outra referência é a escritora mineira Conceição Evaristo, que, segundo ele, vem sendo cobrada nos vestibulares e foi eleita, recentemente, para a Academia Mineira de Letras.
“A música que se faz hoje tem componentes africanos e, como isso, pode ser protegida pelo Iphan”.
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Como proposta de intervenção, o professor sugere que vá além do Ministério da Educação. “Que se instituam esses programas de patrimônio, sobretudo imaterial. O Dia da Consciência Negra ter se transformado em um feriado obrigatório também".