Os delegados Otávio Luiz de Carvalho, de Betim, e Lucas Nunes, da Delegacia Noroeste, de BH -  (crédito: Ivan Drummond/EM/D. A. Press)

Os delegados Otávio Luiz de Carvalho, de Betim, e Lucas Nunes, da Delegacia Noroeste, de BH

crédito: Ivan Drummond/EM/D. A. Press

Um duplo homicídio, ocorrido em 2 de novembro de 2023, que teve como vítimas Isabela Santos Barcelar Ferreira, de 25 anos, e Neylon Vitor Ribeiro dos Santos, também de 24, foi elucidado pela Polícia Civil.

 

Quatro suspeitos de serem autores foram indiciados: o mandante, de 63 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas, na Penitenciária Dutra Ladeira; um homem de 23 anos, outro de 36 anos; e um homem de 18 anos de idade, que na época tinha 17, já esteve preso e foi liberado pela justiça. Outros dois envolvidos estão foragidos, um homem de 30 anos e uma mulher de 25.

 

 


O caso foi investigado num trabalho conjunto de duas delegacias, a 3ª de Homicídios de Betim, sob comando do delegado Otávio Luiz de Carvalho, e a Delegacia de Homicídios Noroeste de BH, do delegado Lucas Nunes.


 

O começo de tudo


Tudo começou quando o homem de 63 anos, que tinha um celular dentro do presídio, determinou que Neylon fizesse um levantamento da área do Jardim Alterosa, em Betim, para que eles passassem a controlar o tráfico de drogas.


E dentro do planejamento para dar sequência ao plano de tomada do ponto de drogas do jardim Alterosa, Neylon contactou Isabela, para que ela fizesse um levantamento da área, na verdade, uma espionagem.

 

 

Assim, ela passou a fotografar e a interagir com os vendedores de drogas. As fotos e as informações eram passadas para Neylon. Eles eram amigos. E Neylon, enviava tudo para o traficante maior, na Penitenciária Dutra Ladeira.


A trama acabou sendo descoberta pelo chefe do tráfico no Jardim Alterosa, que passou a perseguir Neylon. Espalhou que iria matá-lo. Isso fez com que Neylon se mudasse para Belo Horizonte. Foi morar no Bairro Glória.


 

Temendo pela própria vida, Neylon chegou a criar um perfil no Instagram, em que anunciava a própria morte. Lá, pessoas enviaram pêsames. Uma das postagens anunciava, inclusive o enterro. Isabela chegou a postar os sentimentos pela morte do amigo.


Mas o golpe acabou sendo descoberto.


As mortes


Para matar Neylon, o traficante chefe contratou três matadores, um de 17 anos, um de 30, e um terceiro homem, que ninguém sabe dizer quem é e que ficou de máscara durante o tempo em que os três estiveram juntos, até o homicídio.


Na noite de 2 de novembro, os quatro sequestraram Isabela, em Betim. Ela foi trazida para Belo Horizonte. E com o celular dela, conseguiram contato com Neylon, através do Whatsapp.


 

Isabela foi atraída para ir a uma festa por uma mulher, conhecida dela, de 25 anos, em 2 de novembro. Já na casa onde seria a festa, a mulher a chamou para comprar cigarro em um bar próximo. Quando saíram, os quatro homens já a esperavam e levaram Isabela.


Passando-se por Isabela, os criminosos enviaram uma mensagem para Neylon, chamando-o para ir à festa em um sítio. E disseram que estavam a caminho para pegá-lo.


Neylon passou o endereço de onde estava e, depois de se aprontar, foi para a porta do prédio onde estava morando, no Bairro Glória.


Ele estava no passeio, na frente do portão de acesso ao prédio, quando os quatro homens chegaram, em um carro preto, que era dirigido pelo traficante de 36 anos, o mandante.


Um dos homens, assim que o carro parou, deu o primeiro tiro. O homem, de 23 anos, e o menor de idade saíram do banco de trás, atirando. Além de Neylon um morador do prédio que estava saindo de casa também foi atingido por um tiro, teve um ferimento leve, foi socorrido por vizinhos e sobreviveu.


Atingido por vários disparos, Neylon conseguiu retornar ao apartamento dele, onde acabou morrendo. Ele foi encontrado pela Polícia Militar.


Desespero


O desaparecimento de Isabela deixou o pai dela em pânico. O que o alarmou foi quando o pai dos filhos de Isabella chegou em sua casa, com as crianças, de 2 e 3 anos. Ele disse que uma amiga de Isabela tinha levado as crianças até ele, que passou a noite com os meninos.


O pai, desesperado, decidiu publicar nas redes sociais o desaparecimento da filha. E assim repetiu, por vários dias, o mesmo pedido.


Segundo o delegado Otávio, a Polícia descobriu, posteriormente que a mulher de 25 anos decidiu acobertar o desaparecimento de Isabela por uma noite. “Depois dos crimes cometidos, ela foi até a casa de Isabela e pegou os meninos. No dia seguinte, o entregou ao pai, que era separado da mãe”.


Caso desvendado


A partir de imagens de uma câmera no prédio onde ocorreu o crime, os policiais conseguiram - com a ajuda de uma testemunha do crime - identificar dois dos autores, o homem de 23 anos, e o menor, à época, com 17.


Isso permitir aos policiais primeiro apreender o menor, poucos dias depois do crime. Pelo fato de ser menor de idade, acabou sendo liberado. Mas conseguiram, a partir dele, chegar ao homem de 23 anos, que foi preso no Bairro Brasiléia, em Betim.


Em seguida, os policiais conseguiram localizar e prender o chefe do tráfico, de 36 anos. Já maior de idade, o jovem que tinha sido liberado foi preso novamente, no Bairro Sítio da Baviera, em Betim. Mas ele acabou liberado mais uma vez, beneficiado pelo argumento de que, na época do crime, era menor.


O delegado Otávio, acredita que ele não será preso e condenado, mas terá de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).


“Está claro que os crimes ocorreram por disputa de um ponto de drogas, por duas facções. São duas gangues lutando pelo controle no Jardim Alterosa. O homem de 30 anos já está preso. Sabemos onde está o menor. O chefe do tráfico, de 36 anos, também está preso, assim como o homem de 63 anos. São, portanto, dois foragidos, o homem de 23 anos, e a mulher de 25”, diz o delegado Otávio.


Todos, segundo ele, serão indiciados por duplo homicídio triplamente qualificado, associação criminosa e ocultação de cadáver. O corpo de Isabela ainda não foi encontrado. “Mas os indícios são, todos, de que ela também foi assassinada”, diz o delegado Otávio.