Bacia da Avenida Vilarinho: pesquisador avalia que estrutura é dispendiosa, acionada durante poucos dias e não permite outros usos pela população -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A press)

Bacia da Avenida Vilarinho: pesquisador avalia que estrutura é dispendiosa, acionada durante poucos dias e não permite outros usos pela população

crédito: Jair Amaral/EM/D.A press

Desde a entrada em funcionamento das bacias de detenção em Belo Horizonte, a partir de 2009, áreas que frequentemente inundavam como a Avenida Teresa Cristina (Barreiro/Oeste) não tiveram registro de prejuízos tão frequentes como ocorria no passado. Mas, segundo a análise de trabalho de geografia e urbanismo de pesquisadores da PUC Minas que catalogou as estruturas da capital mineira, os chamados “piscinões” são caros, demorados, dependem de manutenções constantes e imobilizam grandes porções de terreno, na maioria das vezes apenas para segurar as águas das tempestades. Mesmo com a construção de mais sete estruturas em andamento, soluções contra alagamentos e enxurradas precisariam ser ampliadas em vista de chuvas registradas em volumes cada vez maiores. Uma das saídas apontadas como menos caras e mais sustentáveis são as drenagens em parques lineares e parques ecológicos, alguns já em funcionamento na capital mineira.

 


“Desde 2009, a Prefeitura de Belo Horizonte privilegia a construção de bacias de detenção para reter a água em períodos de chuvas expressivas, minimizando os efeitos das enchentes e inundações nos picos de tempestades mais extremas, que têm uma recorrência cada vez maior. Mas essas são medidas mitigadoras e paliativas para minimizar o problema. São estruturas muito caras e requerem desapropriação de terrenos caros. Quando estiverem todas prontas, vão minimizar o problema, mas continuaremos enfrentando alagamentos”, afirma o professor Antoniel Fernandes, do Departamento de Geografia e Biologia da PUC Minas.

 

 

Fernandes é um dos autores do artigo científico “Contribuições da Geografia para a gestão sustentável das águas na cidade de Belo Horizonte”, apresentado no 10º Congresso para o Planejamento Urbano (Pluris 2024) da Universidade do Minho, em Portugal. Com informações de 2024 da Diretoria de Gestão de Águas Urbanas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), foram mapeadas 18 barragens de detenção em funcionamento que, caso operem em capacidade máxima, impedem que 1,418 milhão de metros cúbicos (m3) de água com detritos ingressem em rios e córregos (veja mapa). O volume é pouco menor do que o de 15 barragens como a existente no Bairro Santa Lúcia, na Região Centro-Sul, completamente cheias.


Os campeões de armazenamento


Venda Nova é a regional com mais bacias em operação atualmente, com sete estruturas capazes de drenar 288 mil m³. Mas na segunda região administrativa da capital com mais reservatórios temporários, o Barreiro, com quatro até o momento, a capacidade é maior, chegando a 790 mil m³, metade do total da cidade, tudo influindo na Sub-Bacia Hidrográfica do Ribeirão Arrudas e por consequência na Avenida Teresa Cristina.

 

 

Com duas bacias aparecem a Pampulha, com armazenamento total de 151 mil m³, Centro-Sul (150 m³) e Norte (19 m³). Na Regional Nordeste, a única bacia é a do Parque Real, com capacidade de 20 mil m³.
Há, ainda em curso, sete bacias em construção atendendo à capital mineira. Destas, três entre BH e Contagem, na Grande BH, na confluência dos córregos do Ferrugem e Água Branca. Outras duas são reservatórios profundos em Venda Nova, a Praça das Águas na Região Norte e o Bairro das Indústrias, no Barreiro, sendo a única com volume final fechado, de 120 mil metros cúbicos.

 

Mas, mesmo nos reservatórios já construídos há problemas. A equipe de reportagem do Estado de Minas encontrou mato alto, árvores crescendo por falta de capina, depósitos de lixo e entulho irregular e animais pastando nas bacias Túnel/Camarões (Barreiro) e Liège (Venda Nova). São situações que reduzem a efetividade, diminuindo os espaços que deveriam estar livres para deter a água das chuvas e enxurradas.

 

A Bacia Túnel/Camarões é a maior da capital mineira, com capacidade de 400 mil metros cúbicos de água e detritos – equivalente a quatro barragens de Santa Lúcia. É uma das poucas que têm espaços associados para uso da comunidade, como campos de futebol, pista de caminhada, hortas e áreas de convivência.

 

Expectativa na Região Nordeste


As fortes chuvas de outubro fizeram a população da Avenida Bernardo Vasconcelos, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de BH, reviver os prejuízos com alagamentos do Córrego Cachoeirinha e aumentou a ansiedade para a conclusão de uma bacia que promete acabar com essa situação.

 

“Para reduzir esses alagamentos, está em construção a Bacia Praça das Águas, entre a Avenida Cristiano Machado e a Estação São Gabriel. O Córrego Cachoeirinha nasce perto do Cemitério da Paz, percorre toda a Avenida Américo Vespúcio, segue no canteiro central da Avenida Bernardo Vasconcelos e, chegando ao Minas Shopping, o leito faz um giro de quase 90 graus para encontrar com o Córrego da Pampulha perto da Estação São Gabriel, formando o Ribeirão da Onça. Estão fazendo a bacia ali e ampliando a capacidade, porque essa água do Cachoeirinha estava sendo retida e inundando o curso a montante (na direção da nascente), alagando a Avenida Bernardo Vasconcelos”, indica o professor Antoniel Fernandes. Segundo o Executivo municipal, a Praça das Águas deverá estar pronta em 2025.


As soluções que viraram problema


Utilizando os registros de ocorrências de alagamentos e enxurradas da Defesa civil de Belo Horizonte, os autores do artigo científico sobre a gestão sustentável das águas na capital traçaram as zonas onde mais desses danos relacionados a fortes chuvas ocorreram entre 2009 e 2023. As áreas com mais dessas ocorrências são a da Avenida Vilarinho, em Venda Nova, a Avenida Cristiano Machado, na Região Noroeste, e a Avenida Teresa Cristina, entre as regiões Oeste e do Barreiro.

 

Em Belo Horizonte, estruturas construídas ao longo do tempo para tentar disciplinar as águas de córregos e ribeirões ajudam a explicar os maiores alagamentos e enxurradas, desde 1924, quando as primeiras intervenções foram feitas no Ribeirão Arrudas e no Córrego Acaba Mundo, o que seguiu se agravando entre as décadas de 1970 e 1990, segundo o artigo.

 

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“Os cursos de água têm seus meandros, que são as curvas que fazem ao passar pelos terrenos. Quando o manancial passa por essas curvas, a velocidade da água vai sendo reduzida. As canalizações acabaram com os meandros ao retificar os rios, levando as águas a escoar com mais velocidade para as partes baixas ou mais estreitas, onde se acumulam e extravasam em forma de alagamentos”, aponta o professor Antoniel Fernandes, da PUC Minas, acrescentando que pavimentações e construções que impermeabilizaram o solo também direcionam todo o volume de água das chuvas, sobrecarregando áreas de drenagem.

 

Outros obstáculos dentro das próprias canalizações, como lixo acumulado, e as próprias restrições de capacidade e traçado das galerias também geram acúmulo de água e alagamentos. “É o que acontece na Avenida Francisco Sá: as galerias levam a água e encontram um estreitamento na forma de sifão; com isso, a água coletada desde a parte alta acaba retida, sem conseguir desaguar rapidamente no Ribeirão Arrudas, alagando na baixada”, avalia o pesquisador, indicando que o mesmo ocorre na Avenida Silva Lobo, que recentemente teve parte do pavimento arrancado pelos alagamentos e enxurradas.

 

Os dutos de drenagem e canalizações de afluentes que desembocam em ângulo de 90 graus no curso principal também acabam tendo reduzidas suas capacidades quando o canal já está inundado, o que provoca retenção e alagamento. “Na natureza, os afluentes geralmente deságuam em forma de 'Y', uma forma natural e equilibrada para que a água chegue ao curso principal com menor retenção. Como é mais barato canalizar em linha reta e despejar a água diretamente na canalização principal, essa pode ser bloqueada e provocar alagamentos”, observa o professor da PUC Minas.