Itabira – Foi em meados da década de 1990 que vi, pela primeira vez, o sobrado no qual Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) passou parte da infância, mais exatamente dos dois aos 16 anos. Na época, fiquei impressionado ao notar o casarão fechado, pedindo socorro, e bem atento me mantive aos inúmeros apelos de moradores para que um patrimônio tão valioso não se perdesse.
Pois agora, passadas quase três décadas, o imóvel do século 19, ícone da Praça do Centenário, se encontra restaurado e com uma finalidade cultural espetacular: sediando uma exposição comemorativa dos 122 anos do poeta, escritor, jornalista e ilustre filho da terra. Com o nome de “Menino Antigo, Poeta Moderno”, a mostra de longa duração foi inaugurada na data de nascimento de Drummond – 31 de outubro –, e tem atraído muita gente para ver a novidade, (re)conhecer o espaço e curtir um bem tombado da comunidade.
Monumentos, casarões, igrejas e demais construções de relevância história devem ser preservados e, principalmente, estar sempre abertos ao público. Se portas e janelas estiverem trancadas, não valeram o esforço empregado e os recursos aplicados. Quanto mais jovens circulando pelos ambientes, melhor ainda. Na solenidade de abertura, crianças e adolescentes do programa sociocultural “Drummonzinhos”, em cena desde 2001, tendo à frente a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), encantaram os presentes declamando poesias do livro “Boitempo I” e ativando as emoções itabiranas.
VOCAÇÃO
Desapropriado pela prefeitura local em 2002, o casarão foi totalmente restaurado, sendo reaberto em grande estilo com 21 espaços reservados à mostra, patrocinada pelo Instituto Cultural Vale, que apresenta temas ligados à vida e à obra do poeta. Ex-drummonzinho, Marcos Alcântara, superintendente da FCCDA, órgão gestor cultural do município, externa seu entusiasmo destacando Itabira como “cidade da poesia”, uma vocação importante para estimular a economia e o turismo, entre outros setores.
Além da Casa de Drummond, quem for a Itabira poderá fazer um circuito que inclui ainda a Fazenda do Pontal, a sede da fundação, com teatro, galeria e biblioteca, e a Casa do Brás, construída em 1857, de propriedade, no passado, ao fotógrafo Brás Martins da Costa, que registrou o cotidiano das famílias de Itabira, entre eles os Drummond.
Há boas notícias para o patrimônio cultural. O prefeito reeleito de Itabira, Marco Antônio Lage, anuncia outras obras de requalificação do Centro Histórico da cidade, tendo como carro-chefe o prédio do antigo hospital, imponente construção do século 19. Para o distrito de Ipoema, estão previstos o resgate do Museu da Farmácia e todo o projeto expográfico do Museu do Tropeiro.
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL PARA...
Da “cidade dos profetas” para a Rua Congonhas, em Belo Horizonte. Educação patrimonial, literatura e muita curiosidade trouxeram à capital uma turma de alunos da Escola Municipal Engenheiro Oscar Weinschenck. Animados, meninos e meninas de Congonhas vieram conhecer a rua “xará” da sua cidade. As 13 casas antigas dessa via pública, no Bairro Santo Antônio, foram tombadas em 2011.
…PRESERVAR DESDE CEDO
Na Rua Congonhas, os estudantes viram o local onde foi gravado, em 1995, o filme “O Menino Maluquinho”, baseado na obra do escritor e chargista Ziraldo (1932-2024). A ação faz parte do programa pedagógico “Ziraldo e Congonhas”, coordenado pelas professoras Regiana Gonçalves, Eliana Vasconcelos e Raquel Rodrigues. O técnico do Iepha-MG, Adalberto Mateus, falou para a garotada sobre a importância da preservação do patrimônio e dos cuidados necessários, desde cedo, aos bens culturais.
MESTRE DA CANTARIA
Especialista em história da arte e graduada em história, Patrícia Urias, mineira de Caeté, pesquisou durante muito tempo sobre a vida e o trabalho de um mestre de obras no período colonial. Assim nasceu o livro “Francisco de Lima Cerqueira – a atuação do mestre português em Minas Gerais entre os anos de 1754 e 1808”. Segundo Patrícia, doutora e mestre em arquitetura e urbanismo, Francisco foi um dos mais importantes profissionais da cantaria no século 18. O livro pode ser adquirido no site da Editora Fino Traço .
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CORES E TÉCNICAS
Será aberta amanhã (12/11), às 19h, no Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto, a exposição Cores & Técnicas Construtivas em Ouro Preto, fruto da pesquisa de Adelaide Dias e Fernando Cardoso, com curadoria de Guilherme Horta. A mostra apresenta ações dos projetos “As cores originais – Estudo para identificação da paleta de cores das fachadas de Ouro Preto” e “Mãos, madeira e barro – Preservação das técnicas mistas de construção em Ouro Preto”, ambos contemplados via Plataforma Semente, do Ministério Público de Minas Gerais. A realização é do Instituto Avaliação, a Pique Arquitetura e Memória e MPMG. Visitação de quarta-feira a 5 de dezembro.
MARCO DA CONSERVAÇÃO
Ouro Preto recebe até sexta-feira (15/11) especialistas de vários países para debates sobre desafios e inovações na preservação do patrimônio cultural. Na primeira cidade brasileira reconhecida como Patrimônio Mundial, ocorrem a Assembleia Geral e o Simpósio Científico Icomos, que é o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios. No evento, são celebrados os 60 anos da Carta de Veneza, marco global da conservação do patrimônio. As atividades serão no Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), com apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.
PAREDE DA MEMÓRIA
Fé e esperança movem os moradores de Serranos, no Sul de Minas, que sonham com a volta da imagem de Nossa Senhora do Bonsucesso, desaparecida há mais de 30 anos. O furto, ocorrido em 14 de julho de 1994, deixou desolada a comunidade católica, que, a cada 8 de setembro, data consagrada à padroeira, renova seus votos para resgatar seu bem mais precioso. E segue, em procissão, a réplica da peça sacra. Procedente de Portugal, a imagem original era esculpida em cedro com detalhes em ouro.