O artista plástico Elias Layon, de Mariana, na Região Central do estado, responsável pela estátua de Aleijadinho, esculpida em pedra-sabão -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O artista plástico Elias Layon, de Mariana, na Região Central do estado, responsável pela estátua de Aleijadinho, esculpida em pedra-sabão

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Reverência eterna à memória do gênio do Barroco. Autor dos 12 profetas em pedra-sabão e das 64 esculturas em cedro do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, e de dezenas de imagens e altares em Minas, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ganha, finalmente, uma estátua – um “retrato esculpido”, como diz o responsável pelo trabalho, o artista plástico Elias Layon, de Mariana, na Região Central do estado. A escultura em pedra-sabão com policromia será apresentada na segunda-feira (18/11), em Ouro Preto, dia das homenagens pelos 210 anos da morte do patrono das artes no Brasil.

 

 

Com 65 centímetros de altura, a peça já está no Santuário Nossa Senhora da Conceição, no Bairro Antônio Dias, no Centro Histórico de Ouro Preto, onde será inaugurada logo após a missa das 19h, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Edmar José da Silva. Inicialmente, ficará no Museu Aleijadinho, localizado na igreja onde também o artista se encontra sepultado, sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte. “É o primeiro retrato esculpido de Aleijadinho. A primeira homenagem que ele recebe ao longo de séculos”, conta Elias Layon, que fez as pesquisas para chegar ao resultado final durante 30 anos.

 

 

Layon explica que a “imagem-retrato” foi concebida a partir de algumas informações fundamentais à pesquisa. Em primeiro lugar, se espelhou nos dados fisionômicos fornecidos por Rodrigo José Ferreira Bretas (1814-1866), em 1858, em seu “Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa”, coletados, possivelmente, da nora do Aleijadinho e publicados no Correio Oficial de Minas.

 

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O texto diz o seguinte: “Antonio Francisco era moreno escuro, tinha uma voz forte e falar exuberante, temperamento irritável, estatura baixa, corpo obeso e mal conformado, o rosto e a cabeça redondos, essa volumosa, cabelos negros bem crespos, barba cerrada, testa larga, nariz regular e um pouco pontudo, lábios grossos, orelhas grandes e pescoço curto”.

Para compor a figura de Aleijadinho, como, por exemplo, a postura da mão esquerda e o capote azul, Layon se baseou ainda no quadro exposto no Museu de Congonhas. No local, há um pequeno ex-voto pintado por Euclásio Penna Ventura, retratando um escultor mulato que se supõe ser o Aleijadinho. “O ex-voto foi reconhecido oficialmente pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais como o verdadeiro retrato de Antônio Francisco Lisboa. Jair Afonso Inácio fez uma cópia desse retrato, que está no acervo do Museu Aleijadinho, em Ouro Preto.”

 

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Outra base é a projeção morfo-psicológica. “Essa terceira fonte, importantíssima, e que não poderia deixar de ser considerada, seria a projeção morfo-psicológica: curioso instinto que leva os artistas a darem a seus personagens, principalmente ‘aqueles imaginados', seus próprios traços físicos, os de seu rosto ou mesmo de seu corpo.” O escultor observa que há, nas esculturas do Aleijadinho, quase um constante, além de outras particularidades – “olhos de mulato transparecendo piedade, pescoço curto, orelhas grandes, nariz pontiagudo”.

Outros detalhes para concluir a obra e dar afinidade e consistência ao trabalho foram extraídos das próprias técnicas usadas pelo Aleijadinho em suas esculturas, entre elas a postura da imagem: um pé na linha de equilíbrio (linha imaginária vertical traçada da cabeça ao pé, muito usada nas composições artísticas de figura humana) e o outro jogado pra trás em movimento, os sapatos de ponta virada em ângulo reto, os talhes vigorosos, o corte dos panejamentos (vestes), o desenho das barbas, os lábios semiabertos , os recortes das unhas, os olhos em diagonal etc. “A base do retrato foi tirada da imagem de São João Nepomuceno, de sua autoria, pertencente ao acervo do Museu Arquidiocesano de Mariana.”

 

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HOMENAGENS

Até segunda-feira (18/11), Aleijadinho será alvo de homenagens em sua terra natal, Ouro Preto, e em Sabará, onde morou para trabalhar na Igreja Nossa Senhora do Carmo, do século 18, uma das joias do Barroco mineiro. Veja alguns destaques da programação:

Ouro Preto, na Região Central

Domingo – 17/11

10h – Cerimônia de aposição de coroa de flores no túmulo de Aleijadinho e entrega da 47ª Medalha do Aleijadinho, no Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição

Segunda-feira - 18/11, Dia do Aleijadinho

12h – Toque de sinos em homenagem ao mestre do Barroco

19h – Missa solene de Réquiem, no Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, presidida por dom Edmar José da Silva, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Após a missa, haverá a inauguração da estátua do Aleijadinho esculpida pelo artista Elias Layon

 

Sabará, na Região Metropolitana de BH

Domingo – 17/11

8h30 – Missa de Exéquias, na Igreja do Carmo, seguida de canto da “Ave Maria” para Aleijadinho

Segunda-feira - 18/11, Dia do Aleijadinho

10h – Dobre fúnebre do sino-mor da Igreja do Carmo, lembrando os 210 anos da morte de Aleijadinho

19h – Recital de música colonial, no órgão francês Debain, comprado em 1875 do engenheiro Henrique Dumont, pai de Santos Dumont. Na sequência, também na Igreja do Carmo, palestra “Aleijadinho em Sabará”, pelo professor de museologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Célio Macedo Soares.