Eu me lembro bem da grande expectativa em Diamantina, em abril de 1999, diante da possibilidade de o Centro Histórico da cidade receber o título de Patrimônio Mundial, pela Unesco, o que ocorreria oito meses depois. Além de ser um cartão de visita e gerar visibilidade internacional, a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura poderia abrir portas ao turismo, com efeitos no comércio e na restauração de bens culturais, e marcar novos tempos na cidade do Vale do Jequitinhonha.
Passados 25 anos – o título foi anunciado em 1º de dezembro de 1999, após decisão do conselho da Unesco reunido em Marrakech, no Marrocos – a terra do ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-governador de Minas e ex-presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek (1902-1976), e da lendária Chica da Silva (1732-1796, escravizada alforriada, mulher do contratador de diamantes, João Fernandes, respira outros ares, apresentando os resultados do sopro de requalificação do patrimônio cultural. “O título mudou profundamente a relação da cidade com o Centro Histórico e o turismo cultural. Embora antes a região fosse um núcleo essencial à história e à memória de Diamantina, havia muitos casarões e igrejas coloniais mostrando os sinais de desgaste, com desafios para manutenção e uso dos espaços públicos”, diz o secretário Municipal de Cultura e Patrimônio, Alberis Mafra.
A prefeitura local, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial (OCBPM), vai festejar a data com uma programação especial de eventos culturais e lançamento de novas obras de restauração “que consolidam o compromisso de Diamantina com a preservação e valorização de seu patrimônio”. As mudanças permitiram maior fluxo cultural, com a visita de brasileiros de todos os estados e estrangeiros, junto à “atração de investimentos, ampliação de serviços voltados ao turismo, criação de novas oportunidades de consumo e fruição do espaço urbano”.
CIDADE ABERTA
Caminhar pelo Centro de Diamantina mais parece um mergulho na história iniciada no Arraial do Tijuco e concretizada nas edificações de grande beleza, com a moldura da Serra dos Cristais e das pedras capistranas. Estão em cena, para encantamento de moradores e visitantes, construções dos tempos coloniais, como o Mercado, a casa de Chica da Silva, as igrejas Nossa Senhora do Carmo e São Francisco de Assis e outros destaques a exemplo do Caminho dos Escravos, via de importância na Trilha dos Diamantes da Estrada Real.
No jubileu de comemoração do título, Diamantina prepara exposições, conferências e uma edição especial da de eventos musicais. Especialistas em patrimônio cultural vão participar de uma conferência que abordará o impacto do título da Unesco na preservação e no desenvolvimento do turismo em Diamantina. Os eventos ocorrem paralelamente às obras de restauração do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas.
Entre os projetos concluídos, estão o Casarão dos Orlandi, agora Escola de Artes e Música Maestro Francisco Nunes e sede da Orquestra Sinfônica Jovem de Diamantina, e reforma das praças JK, Largo Dom João e Praça Sagrado Coração de Jesus, que receberam nova infraestrutura para acolher eventos, moradores e visitantes. Em andamento, conforme a prefeitura, podem ser vistas restaurações como a do antigo Diamantina Tênis Club, uma das obras projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) na cidade, do sobrado da Antiga Intendência – futuramente o Centro de Interpretação do Patrimônio Mundial –, do sobrado da Secretaria de Cultura, prestes a ganhar acessibilidade para melhor atendimento ao público, e do casarão do antigo Hotel Roberto, que sediará projetos culturais e educacionais.
E mais: a Igreja Nossa Senhora do Carmo, a Praça Dom Joaquim e o adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário estão com obras em fase de contratação. “O reconhecimento da Unesco transformou o Centro Histórico em espaço ativo e dinâmico, onde a história é vivenciada não apenas pelos moradores, mas por um público crescente de visitantes que encontram, aqui, uma experiência cultural singular”, ressalta Alberis.
Mas ainda há muito a ser feito, incluindo a salvação do ex-Grande Hotel, erguido no início do século 20 e desativado há cerca de três décadas. Fica num ponto icônico do núcleo central tombado pelo Iphan em 1938 – a Rua da Quitanda com o Beco do Mota. Alberis conta que a desapropriação do imóvel está em andamento.
Para mais detalhes sobre a programação de aniversário e as obras de preservação, os interessados podem acessar o site oficial da Prefeitura de Diamantina, no endereço www.diamantina.mg.gov.br)
“BÁRBARA BELA, DO NORTE ESTRELA...
O verso (entre aspas) é da poesia dedicada pelo inconfidente Alvarenga Peixoto (1742-1792) à sua esposa, Bárbara Heliodora (1759-1819). Tais palavras soam muito bem no século 21 para preservar a memória. Na terra da poetisa, São João del-Rei, está em restauro a Casa Bárbara Heliodora, do século 18, obra prevista para terminar em janeiro. Investimento de R$ 997,3 mil proveniente da prefeitura local, via Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio e do Fundo Municipal do Patrimônio Cultural.
...QUE O MEU DESTINO SABES GUIAR”
Conforme a Prefeitura de São João del-Rei, a iniciativa de restaurar o imóvel de meados do século 18, desapropriado em 1968, faz parte do esforço para preservar a rica história da cidade. As intervenções contemplam a estrutura do casarão, partes hidráulica e elétrica, revitalização de áreas externas. O sobrado onde Bárbara Heliodora nasceu e se casou (1781) é um dos raros exemplares de edificação setecentista da cidade. No local, vai funcionar a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
PAREDE DA MEMÓRIA
Fez história o Cine Metrópole, demolido em 1983 para dar lugar a um banco. Com suas linhas elegantes, ficava na esquina das ruas Goiás e Bahia, no Centro de BH, um ponto chique para grandes estreias. Tanto na tela como na sala de exibição, era sucesso de público e crítica, tanto que recebeu a visita, em 1961, da atriz Janet Leigh, a loura de “Psicose”, de Alfred Hitchcock. Funcionando como cinema desde 1942, o Metrópole, antes do “escurinho do cinema”, foi o Theatro Municipal de Belo Horizonte.
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ALEIJADINHO 1
Todas as homenagens, hoje, a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, quando são lembrados os 210 anos de sua morte. Com tantos livros e estudos publicados, ainda há muitos equívocos sobre a vida dele, diz Marcos Paulo de Souza Miranda (foto), vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Autor do recém-lançado “O Aleijadinho Revelado”, Souza Miranda conta que já escreveram até que o mestre do Barroco foi vereador em Tiradentes, o que é lenda. Nas pesquisas, descobriu também que o mestre do Barroco nunca estudou no Seminário dos Franciscanos Donatos do Hospício da Terra Santa, em Ouro Preto. Pelo visto, falta muito para se conhecer o artista por inteiro.
ALEIJADINHO 2
Ouro Preto mantém a tradição do toque de sinos ao meio-dia de hoje, lembrando a morte do filho ilustre. À noite (19h), no Santuário Nossa Senhora da Conceição, haverá missa, seguida da inauguração de uma estátua do mestre, feita pelo artista Elias Layon. Já em Sabará, onde Aleijadinho morou numa casa (foto) perto da Igreja do Carmo, os sinos vão dobrar, em sinal fúnebre, às 10h. À noite, no mesmo templo, os presentes ouvirão um recital de música colonial, seguindo-se a palestra “Aleijadinho em Sabará”, pelo professor Célio Macedo Soares, professor de museologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
ALEIJADINHO 3
Há 10 anos, nas solenidades do bicentenário da morte do artista, surgiu a brilhante ideia de se fazer um levantamento completo sobre a trajetória do patrono das artes no Brasil. Seria formada uma comissão de notáveis, Iphan à frente, com essa finalidade. Com tantas pesquisas e novas descobertas, era fundamental um catálogo “raisonné” com os trabalhos do artista, dados sobre a família e outras informações de importância para pesquisadores e demais interessados nessa história. Pois agora completa uma década dessa proposta e nada saiu do papel.