Na Praça Sete, o comerciante Otelírio Tavares mostra pote com escorpiões encontrados nos arredores de seu estabelecimento, localizado na Rua Rio de janeiro -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Na Praça Sete, o comerciante Otelírio Tavares mostra pote com escorpiões encontrados nos arredores de seu estabelecimento, localizado na Rua Rio de janeiro

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Moradores de Belo Horizonte estão tendo que conviver ultimamente com um aumento no aparecimento de escorpiões pela cidade. Como mostrou reportagem do Estado de Minas, relatos de picadas e encontros frequentes com os aracnídeos, que figuram entre os principais causadores de acidentes com animais peçonhentos no Brasil, preocupa quem transita pelos bairros Estoril, na Região Oeste, e no Centro.

 

Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) revelam que, entre janeiro e a primeira quinzena de novembro deste ano, foram registradas 620 solicitações de controle de escorpiões na cidade, número que corresponde a quase 60% do total de registros feitos ao longo de todo o ano passado, que somaram 1.086.

 

Para evitar encontros indesejados, é importante manter sacos de lixo bem fechados, jardins e quintais limpos e evitar acúmulo de entulho, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das residências. O diretor de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, Eduardo Gusmão, não recomenda a utilização de inseticidas para o controle de escorpiões. 


Esses produtos, além de não terem, até o momento, eficácia comprovada para o controle do animal em ambiente urbano, podem fazer com que os escorpiões deixem seus esconderijos, aumentando o risco de acidentes. “Pode causar justamente um efeito contrário, e o desalojamento de escorpiões que saem de ambiente de menor risco de acidente para dentro de casa”, alerta Gusmão.


 

Os acidentes acontecem quando o ser humano toca no animal, geralmente escondido dentro de um sapato ou gavetas. A aparição deles em qualquer ambiente é um sinal de alerta, por isso recomenda-se acionar a zoonoses por meio dos canais oficiais: portal de serviços, aplicativo ou pelo telefone 156. Na rua, vale prestar atenção a partir do entardecer e início da noite. 


“Por causa do hábito noturno deles, temos que tomar mais cuidado. Esses animais acabam usando esses ambientes mais escuros e úmidos, como dentro de sapatos e gavetas, para se esconder”, ressalta a bióloga e professora do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) Fernanda Raggi. 


 

A espécie do aracnídeo vista no Estoril e na Praça Sete é do chamado escorpião amarelo, de nome científico Tityus serrulatus, mais encontrado em Minas Gerais e no Sudeste como um todo, explica Fernanda. O animal, de pernas e cauda da cor amarelo-claro e o tronco escuro, é a principal espécie de seu gênero, e que causa acidentes graves, com registro de óbitos, principalmente em crianças e idosos. 


 

Atendimento médico

A gravidade de uma picada de escorpião está relacionada à proporção de veneno, idade e à massa corporal da pessoa que a recebeu. Felizmente, os casos leves, que não necessitam da aplicação do antiveneno, representam cerca de 87% do total de acidentes, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda assim, em caso de picada, o morador de BH deve procurar atendimento médico imediatamente no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, referência nacional em atendimentos envolvendo bichos peçonhentos.

 


O diretor da Zoonoses alerta, ainda, que não há evidências científicas de que tratamentos caseiros, como chupar o veneno, funcionem. “Não se pode perder tempo, principalmente quando se fala em crianças e idosos. Não precisa capturar o animal, nessa hora não é o mais importante. Se tem a possibilidade, coloca um balde com peso em cima ou até mesmo pode esmagar o animal, o importante é correr para o hospital”, ressalta o diretor da Zoonoses de BH.


 

O que diz a prefeitura

Acidentes com animais peçonhentos em Minas Gerais resultaram em 56.808 notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde no ano passado. Entre esses casos, os ataques por escorpiões representaram a maior parcela, totalizando 38.527 ocorrências, ou 67,8% do total. No estado, 446 episódios foram classificados como graves, com 67 levando ao óbito. Na capital, foram registrados 721 casos, dos quais 12 apresentaram maior gravidade, segundo dados do Ministério da Saúde.


 

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte informou, por meio de nota, que não recebeu solicitações recentes para vistoria na Praça Sete, mas que realizará uma inspeção preventiva no local. A área no entorno do Cine Theatro Brasil Vallourec foi vistoriada em julho, quando nenhum escorpião foi encontrado. Já na Rua Paulo Piedade Campos, uma vistoria estava agendada para esta terça-feira (19/11).

 


Ainda de acordo com a prefeitura, os Agentes de Combate a Endemias (ACE) realizam vistorias constantes para identificar o aparecimento de animais peçonhentos. Essas visitas são feitas em atendimento às demandas da população e também como rotina. As ações têm caráter educativo quanto às medidas preventivas e protetivas para evitar a presença desses animais e a ocorrência de acidentes. “Baseado em uma análise individualizada, as equipes vão orientar o responsável pelo imóvel da forma mais assertiva”, afirma o diretor de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, Eduardo Gusmão.


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Fique de olho

 

  • Verifique calçados, roupas, toalhas e roupas de cama antes de usá-los
  • Limpe caixas de gordura e ralos de banheiro e de cozinha.
  • Mantenha camas e berços afastados da parede
  • Evite que lençois toquem no chão
  • Use telas nas aberturas dos ralos, pias e tanques
  • Feche frestas nas paredes, móveis e rodapés para que não sirvam de esconderijo para os escorpiões


Veja como agir em caso de picada por animal peçonhento:

 

  • Levar a vítima a um serviço de saúde o mais rápido possível
  • Caso o animal tenha sido capturado, levá-lo, em segurança, com a vítima ao serviço de saúde
  • Se não for capturado, caso seja possível, fotografe o animal de vários ângulos e leve ao serviço de saúde onde a vítima for atendida
  • Lavar o local da picada com água e sabão
  • Não fazer torniquete
  • Não furar ou tentar chupar o local da picada
  • Não oferecer água ou alimentos à vítima


O teleatendimento de Toxicologia do Hospital João XXIII funciona 24 horas, todos os dias. Em caso de acidentes, o CIATox pode ser acionado para orientações sobre os primeiros socorros até o encaminhamento à unidade de saúde. Os telefones são (31) 3224-4000, 3239-9390, 3239-9308 ou 0800-7226001.