Manifestantes se reuniram na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, para a 15ª Marcha da Consciência Negra -  (crédito: Marcos Vieira/Em/D.A Press)

Manifestantes se reuniram na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, para a 15ª Marcha da Consciência Negra

crédito: Marcos Vieira/Em/D.A Press

O primeiro feriado nacional e municipal da Consciência Negra foi comemorado nesta quarta-feira (20/11) em Belo Horizonte com a 15ª Marcha da Consciência Negra da Região Metropolitana. 


Com o tema “Povo Preto em Luta por Reparações e pelo Bem Viver”, a ação reuniu manifestantes na Praça Sete, no Centro de BH. A ação seguiu pela Avenida Afonso Pena em direção ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti e se concentrou em frente às Estátuas de Carolina Maria de Jesus e de Lélia Gonzalez.

 


“É a primeira vez que é feriado nacional e municipal, o que parece pouco, mas para nós é muito significativo porque foram muitos anos de luta do Movimento Negro e muitas vidas que foram deixadas no meio do caminho e nos deram condições para que hoje a gente tivesse um feriado nacional”, reflete Luana de Souza, jovem negra, periférica e Umbandista, integrante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).


Marco Antônio Pereira, um dos organizadores do evento, conta que a 15ª Marcha marca uma retomada. A edição anterior aconteceu em 2014, e sua continuidade foi interrompida pois os idealizadores sentiram que não era viável continuar. “O retorno hoje para as ruas é porque nós sentimos que há uma possibilidade do povo ir para as ruas sem medo de sofrer alguma represália”, declara. 


O organizador afirma que a marcha deste ano é totalmente diferente, uma vez que as outras manifestações tinham reivindicações específicas. Já nesta, o clima foi de comemoração pela conquista do feriado nacional e municipal.


“Essa conquista representa que a luta daqueles que vieram antes valeu e ainda vale a pena. É por isso que a gente vem para a rua, para mostrar para as gerações futuras que as nossas lutas também vão valer muito a pena”, diz Marco. 


Luta e resistência 


Ao microfone, representantes do Movimento Negro se revezaram para exaltar a cultura negra e também expor mazelas do governo: a violência e o assassinato de jovens negros pelas forças de segurança foram lembrados, assim como episódios de racismo. 


Marielle Franco esteve também esteve presente nas falas dos manifestantes, que tomaram a Avenida Afonso Pena cantando “Marielle perguntou, que também vou perguntar: quantos terão que morrer para o país mudar?”. 


 

Houve manifestações contra a escala 6x1, onde manifestantes afirmavam que se tratava de uma nova forma de escravidão. O ato, no entanto, também teve espaço para vocalizar os sonhos da população com um futuro mais justo.


“Espero um futuro onde a gente possa ocupar lugares de poder, que possamos ser escutados, que tenhamos direito à voz e vez. Um futuro onde nosso país reconheça que somos a maior parcela da população e por isso precisamos de políticas públicas e reparação histórica para nosso povo”, defendeu Luana de Souza.   


Conquista do Movimento Negro


O Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro por marcar o dia da morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, um dos mais importantes do país durante o período da escravidão. 


Marcos Cardoso, militante do Movimento Negro, filosofo e professor de história da África, explica que este ano o dia é uma comemoração à memória do líder e uma conquista de mais de 40 anos de luta. 


 

“Se tem vários outros feriados nacionais, que celebram datas religiosas, feitos heroicos de outros protagonistas da história do Brasil, e hoje, pela primeira vez, comemoramos um protagonista negro e quilombola. Esse feriado é a celebração dessa conquista, de uma história construída por nós, de baixo para cima, não uma história contada para nós”, afirma Cardoso.


Legado de força


A marcha reuniu pessoas de todas as idades com o propósito de celebrar o reconhecimento da luta negra e quilombola pelo poder público. Entretanto, o dia já era de grande importância para a comunidade negra em todo o país. 


“Todos nós, do povo negro, viemos reverenciar nossos antepassados, nossa ancestralidade, porque hoje é um marco. O 20 de novembro sempre foi motivo de muito orgulho para nós, mas hoje é mais ainda por ser o primeiro feriado que reconhece a nossa luta de nossos antepassados”, declara Tina Caldeira, defensora dos direitos humanos.


Acompanhada da irmã e da filha, ela conta que sempre participa de atos promovidos pelo Movimento Negro. “É muito importante passar para as outras gerações a luta do povo negro e mostrar para os jovens a importância dessa caminhada. Estar aqui hoje me dá a sensação de que alcançamos um objetivo e estamos fazendo com que nossos ancestrais tenham orgulho de nós”, afirma Caldeira. 


 

Feriado em BH


Em abril o prefeito Fuad Noman sancionou o Dia da Consciência Negra como feriado municipal. A nova legislação foi sancionada após aprovação do projeto de lei (PL) proposto pelos vereadores Wagner Ferreira (PV) e Iza Lourença (PSOL). 


A diretora e Políticas de Reparação e Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Belo Horizonte, Pamela Felício, esteve presente na marcha e afirmou que se trata de um dia histórico para  a luta do Movimento Negro de BH.


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“Quando o prefeito sanciona essa lei ele reconhece a luta do movimento social negro na cidade. Então trazer um feriado nacional para o nível municipal é trazer para a cidade de Belo Horizonte esta responsabilidade de cuidar do povo negro e de reparar os quase 400 anos de escravidão nesse país”, afirmou Felício.