A 150ª Companhia do 35° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) está recolhendo doações para uma família que vive em condições insalubres no Bairro Olaria, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo a Polícia Militar, a corporação foi acionada para atender a um chamado anônimo de maus-tratos contra menores de 14 anos em uma residência. No entanto, ao chegar ao local, os militares se depararam com Stefani Renata Anário Silva, uma mãe desempregada de 32 anos que sofre de câncer terminal e depressão. Ela alega não ter condições de limpar a casa devido a fortes dores na região das axilas, onde apresenta tumores em estágio avançado.
Segundo o sargento Romualdo, do 35° Batalhão, que estava na equipe que atendeu ao chamado da denúncia, a situação da residência era "lastimável". Ele conta que a casa apresentava aspectos de abandono. "Estava inabitável", afirmou o sargento.
Em entrevista ao Estado de Minas, ele relatou que, quando Stefani abriu a porta da residência, os policiais se depararam com a mulher e uma criança de três anos em meio a um acúmulo de objetos. Dentre os itens encontrados espalhados pelo chão e superfícies da casa, estavam alimentos estragados, roupas e colchões velhos, além de alimentos apodrecidos na pia da cozinha, no fogão e dentro de uma geladeira velha.
O ambiente ainda contava com a presença de ratos, baratas, moscas e mosquitos que circulavam pelo local, fezes de cachorro espalhadas, além de um odor "putrefato" que impossibilitava a permanência no interior do imóvel, segundo o sargento Romualdo.
Pouco recurso para seis moradores
De acordo com o boletim de ocorrência, a mulher mora com três filhos - a criança de três anos, outra de oito e um adolescente de 13 anos. Além deles, ainda moram com Stefani a nora, uma adolescente de 16 anos, grávida de quatro meses do garoto de 13 anos, e o atual companheiro da mulher, Cristiman Roberto dos Santos Lisboa.
Nenhuma das crianças que moram na residência frequenta a escola e não recebem nenhum tipo de apoio no âmbito educacional. Na casa, elas também não têm condições adequadas de higiene ou de convívio.
O boletim da PM também registrou que a mulher tem outros dois filhos, um adolescente de 15 anos e uma jovem de 18 anos, que não moram com ela.
À equipe policial, Stefani relatou que faz tratamento de câncer há cerca de um ano e meio. Segundo ela, a doença afetou seus seios, axila e braço direitos. Além disso, ela também recebe tratamento para depressão e ansiedade.
A mulher disse que a família vive com R$ 500, que vem do trabalho de Cristiman, além de uma pensão de R$ 350 do pai do filho de 13 anos. No entanto, ela disse que não recebe esse valor há cerca de dois meses.
Apesar das condições da casa, as crianças pareciam estar saudáveis e sem sinais de desnutrição ou agressão física. Um cachorro vira-lata, também encontrado na residência, não apresentava sinais de maus-tratos.
De acordo com o boletim de ocorrência, a residência, em “condições extremamente degradantes”, estava inadequada para abrigar as crianças e os adolescentes. Stefani foi levada à delegacia para prestar esclarecimentos, enquanto as crianças ficaram sob os cuidados de uma vizinha, amiga da mulher, Maria do Socorro Campos Pimenta.
Segundo a PMMG, não foram encontrados representantes do Conselho Tutelar de Santa Luzia nem familiares da mulher no momento da ocorrência.
Auxílios desbloqueados, mas não acessíveis
Ao EM, Stefani relatou que o Conselho Tutelar visitou a família na manhã desta quinta-feira (21/11). Segundo ela, os agentes informaram que o auxílio foi desbloqueado, mas ela ainda não consegue sacar o dinheiro. "Eu não tenho identidade, então preciso resolver isso primeiro para conseguir retirar", contou.
Ainda nesta manhã, a mulher recebeu a ajuda da vizinha, Maria do Socorro, de 60 anos, na limpeza da casa. À reportagem, ela contou que Stefani "precisa de tratamento, carinho e sensibilidade". "Eu não sabia que ela vivia nesta situação, vi pela televisão", contou.
Por sua vez, a Prefeitura de Santa Luzia informou que "tomou conhecimento do caso envolvendo uma mãe, portadora de câncer, denunciada por maus-tratos e abandono de seus filhos". "A situação foi tratada com a devida seriedade e sensibilidade, considerando o contexto de vulnerabilidade apresentado", acrescentou.
Ainda de acordo com o Executivo municipal, o Conselho Tutelar e a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania foram acionados. As crianças estão sendo atendidas e a mãe será acompanhada e encaminhada de acordo com as necessidades apresentadas por ela. Por fim, a prefeitura afirmou que novas informações serão compartilhadas conforme o andamento do caso, respeitando o sigilo e a privacidade dos envolvidos.
A 150ª Companhia do 35° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais está recebendo doações em nome da família. Eles precisam de ajuda financeira para a compra de eletrodomésticos, alimentos, roupas, produtos de limpeza e de higiene. A família também necessita de voluntários para ajudar na limpeza da casa. Quem quiser ajudar, pode levar doações ao batalhão, que fica na Praça Presidente Eurico Gaspar Dutra s/n, bairro Boa Esperança, Santa Luzia.
Relembre outro caso
Em 2022, também no município de Santa Luzia, um garoto de 11 anos pediu ajuda à Polícia Militar alegando estar com fome. Na ligação, a criança pediu que uma viatura fosse até a sua casa, pois ele, os quatro irmãos e a mãe estavam passando fome.
“Só tem farinha e fubá para comer. Você pode ajudar a gente?”, disse o menino.
Quando a guarnição chegou ao local, a mãe, Célia Arquimino Barros, de 46 anos, alegou que não sabia que o garoto havia feito a ligação. Os policiais do 35° Batalhão chegaram ao local suspeitando de maus-tratos, mas encontraram a casa limpa e arrumada, e as crianças também estavam bem.
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De acordo com a PMMG, Célia contou que tenta driblar a fome dos filhos com água e fubá, mas não está conseguindo resolver o problema. Ela recebe o auxílio do Bolsa Família, mas disse aos policiais que há muito tempo o benefício não tem sido suficiente.
Diante da situação, os policiais decidiram comprar uma cesta básica e outros mantimentos para que a mãe pudesse alimentar a família. Na ocasião, o batalhão também recolheu doações para a família.