O professor emérito de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ivo Porto de Menezes faleceu neste sábado (2/11) aos 96 anos de idade em Belo Horizonte. Ele, que já havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em março, morreu cerca de uma semana após o falecimento da esposa Maria Beatriz Veloso de Menezes, com quem foi casado por 69 anos.
O professor será velado neste domingo (3/11) a partir das 9h e sepultado às 11h, no Cemitério Parque da Colina, no bairro Nova Cintra, em BH.
"Era um ser humano de coração imenso, profissional, pai e esposo. Exemplo de amor pela esposa e simplicidade até nos momentos finais. Ele sempre dizia que só partiria depois da esposa, que não poderia deixá-la. E ela me disse sábado passado que queria partir, que não suportaria viver sem o esposo. Ela disse isso no sábado [26/10] e faleceu no domingo [27/10], dormindo. Depois de dois dias, ele teve morte cerebral, após longa enfermidade. A tristeza da partida é imensa, resta o consolo de que eles continuam juntos na eternidade", afirmou a filha Márcia.
Nascido na capital mineira, Menezes se formou em arquitetura em 1954 quando a universidade ainda se chamava Universidade de Minas Gerais, adotando o nome federalizado apenas em 1965 por determinação do Governo Federal.
O professor foi um dos responsáveis pelo projeto de desapropriação que deu origem à Avenida Cristiano Machado, uma das principais vias da cidade, também fez o levantamento de uma rodovia que ligaria BH ao Rio de Janeiro, que depois foi batizada de Avenida Nossa Senhora do Carmo. A implementação de trólebus - modelo de ônibus elétrico - que funcionou na capital até 1969 também contou com a ajuda de Menezes nos estudos. Também foi estagiário no escritório do arquiteto Lúcio Costa e realizou pesquisas sobre a origem das construções históricas em Minas Gerais e Portugal.
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Em nota, a Arquidiocese de Belo Horizonte lamentou a morte. “Parte para junto de Deus um homem de mente brilhante, que muito contribuiu para a cultura de Minas Gerais, para a identidade do povo mineiro, com trabalhos notáveis no campo da arquitetura e do urbanismo. A sua obra tem inestimável valor na salvaguarda da arte sacra e dos bens culturais. Neste momento em que somos tocados pela tristeza de sua partida, possamos nos unir em oração, para agradecer pelo dom de seu legado, de sua história, tão notável. Supliquemos ao Pai que o acolha em sua infinita misericórdia, dando-lhe o eterno descanso.”
O pesquisador, conhecido por sua atuação na área de patrimônio cultural, foi chefe de Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Ouro Preto, onde conviveu com outras figuras importantes da cultura mineira, como Rodrigo Mello Franco de Andrade, primeiro presidente do instituto, e Carlos Drummond de Andrade, escritor e funcionário.
O filho Marcos Veloso de Menezes também deixou destacou a relação do pai com o cristianismo, mas ponderou que ele sempre foi defensor de celebrações ecumênicas. "Na família, ele fez a dedicação maior a confissão pedida por Cristo que é amar a todos. Amou profundamente os filhos, netos, cunhados, noras, irmãos, sendo um exemplo de dedicação para a família", afirmou.
O professor encontrou, em meio a uma de suas pesquisas, um documento em Lisboa, capital de Portugal, onde um lusitano que estava em Minas Gerais no século XVII ficou sabendo da aparição de Nossa Senhora em uma serra mineira, que era a Nossa Senhora da Piedade. "Esse documento existe e foi entregue ao Frei Rosário, capelão da igreja na Serra da Piedade, que virou basílica", completou.
A neta Laura destacou que o avô era uma referência intelectual e "sempre vai ter muito para contribuir com cada livro, palavra, palestra que ele já deu".
Marcos Menezes destacou a importância do apoio de Roseli que se tornou cuidadora de seus pais durante os momentos mais difíceis e do taxista Rogério, inicialmente chamado para transportar os dois para passeios e atividades, veio a se tornar um amigo pessoal do professor Ivo Porto de Menezes.
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A atuação em defesa e pela valorização de símbolos mineiros o levou a ser um dos associados do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), onde ocupou a cadeira 71, que tem como patrono José Joaquim Viegas de Meneses, padre ouro-pretano - quando o local ainda se chamava Vila Rica - e jornalista. Além da atuação profissional e universitária, o professor escreveu diversos livros focados na arquitetura e patrimônio cultural.