O prefeito eleito de Betim, Heron Guimarães (União Brasil), acredita que o próximo ciclo de desenvolvimento econômico da cidade será no setor logístico. Ano passado, a multinacional de e-commerce Shopee implantou um centro de distribuição no município, que já abrigava grandes lojistas, como Amazon e Mercado Livre. Segundo o jornalista, que vai assumir a prefeitura da terceira maior cidade da região metropolitana em 1º de janeiro, a inauguração do Aeroporto de Betim, previsto para ser entregue em 2026 ou 2027, deve acelerar a transformação da cidade de polo industrial para polo logístico.


As declarações de Heron Guimarães foram feitas em entrevista ao “EM Minas”, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e Portal Uai. Durante a conversa, conduzida pelo jornalista Benny Cohen, o político detalhou seus projetos para resolver os principais gargalos, especialmente na saúde e na mobilidade urbana. O prefeito eleito também falou sobre o projeto do Rodoanel, defendido pelo governo estadual, e como pretende dar uma “cara própria” à gestão da cidade.


A entrevista com o prefeito eleito foi ao ar na noite deste sábado (2/11) na TV Alterosa e está disponível na íntegra no canal no YouTube do Portal Uai.


Pesquisas mostram que a saúde é um dos principais problemas da cidade reconhecidos pela população. Como o senhor pretende encarar este desafio?

 


Betim evoluiu bastante do ponto de vista da infraestrutura. Hoje, nós temos equipamentos. Obviamente algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) precisam ser reformadas ou reconstruídas. Mas, do ponto de vista da infraestrutura, Betim está razoavelmente bem e evoluiu bastante nesses últimos 7 anos e 10 meses. Nosso maior desafio é, justamente, a atenção básica, o primeiro acolhimento. E acabar com as filas. Temos uma situação bem complicada com recursos humanos também. Os nossos pilares de melhorias da saúde passam pela construção do anexo do Hospital Regional, que será um prédio de seis andares e já tem recursos garantidos, inclusive da Vale. É um anexo do Hospital Regional de Betim, que atende outros 17 municípios. Então, é para região do Médio Paraopeba toda.


Meio que Betim vive os problemas de Belo Horizonte.
É uma cidade polo da região do Médio Paraopeba, e não atende só a sua população, mas também 1 milhão de pessoas de outras cidades. E temos ainda um grande problema: somos cortados por grandes rodovias: a MG-050, a BR-381 e a BR-262, além da BR-040, que não passa por Betim, mas tem influência, pois muitos acidentes que acontecem são atendidos por aqui. Nosso desafio maior é valorizar e aumentar a questão médica, de recursos humanos e das especialidades. Nós precisamos aumentar o número de mutirões. Temos a questão da ortopedia, que é um grande problema justamente por causa dos acidentes que essas vias provocam, e também pelos aplicativos de moto. Nosso hospital tem muitos leitos sendo ocupados por politraumatizados e isso cria uma fila enorme.

O transporte público também é uma mazela complicada em Betim. Como planeja encarar esse desafio?

 




No próximo dia 5 vence nosso contrato com o sistema de transporte público convencional. Betim tem uma peculiaridade: de todo transporte público ofertado aos passageiros, 70% é realizado por transportadores de baixa capacidade, que são os antigos perueiros que foram regularizados. E os outros 30% são feitos por uma empresa, que está licitada no contrato de 20 anos, renovado 10 mais 10, e que vence em 5 de novembro. E a gente precisou conversar com os dois sistemas. Tanto eu como o próprio Vittorio Medioli, prefeito atual, conversamos juntos com os dois sistemas para que conseguíssemos fazer uma renovação por alguns meses. A gente imagina que consegue a nova licitação do sistema convencional até o meio do ano que vem. E atrelamos essa licitação, que foi aprovada na Câmara Municipal, à prorrogação deste contrato convencional. Com isso, ganhamos tempo para trabalhar em cima de um edital, que vai ser feito ouvindo a comunidade. E, talvez, com algum tipo de subsídio para baratear a passagem.

Nós estamos falando apenas de solução via ônibus, mas há na sua mente, por exemplo, ideias para o transporte ferroviário, algo que seria importante pra cidade?
Tem um projeto puxado pela prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), que utiliza as vias ferroviárias, e seria bem eficiente. Porém, não é uma coisa que está na mão do município. Precisa da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), do governo federal, do governo estadual, e precisa de um conjunto de ações envolvendo Betim, BH e Contagem. A VLI vai ter a sua concessão colocada em prova em 2026. A ANTT pede uma antecipação para 2025, porém, é uma situação que cabe muito pouco ao município. O município sozinho não tem dinheiro para poder fazer isso. Se o governo federal compreendesse que esse transporte é algo que realmente faz diferença. Nos anos 1980, nós tínhamos o subúrbio. Eu mesmo já peguei de Betim para a Praça da Estação, demorava 1h30. Para vir aqui, saindo de Betim, eu gastei 1h25. Ou seja, hoje justificaria, plenamente, um trem.

E hoje, provavelmente, seria com um modelo mais rápido, como os trens elétricos.

 


Tem tecnologia para isso. A dificuldade, às vezes, são as bitolas, que mudam de um trecho para outro, e algumas desapropriações que têm que ser feitas, mas é uma solução muito mais barata do que o metrô, que é algo utópico para nós. E é uma solução, de fato, metropolitana. Hoje, nosso transporte público é muito mal avaliado, mas, sobretudo, porque cerca de 70% do transporte público em Betim é metropolitano – quem opera é o DER (Departamento de Estradas de Rodagem). E a Prefeitura de Betim também fica amarrada nesse tipo de serviço. O estado comprou alguns ônibus – vai fornecer, se não me engano, 60 ou 80 ônibus para Betim –, mas ainda assim é muito deficitário pelo que a gente precisa. E eu não poderia deixar de falar que a solução da mobilidade urbana, tem a questão do transporte de passageiros, mas tem a questão, também do Rodoanel.

E que a prefeitura está contra, certo?
Ao Rodoanel não. O Rodoanel é a solução não só para Betim, mas, principalmente, para esse meio de Contagem e Belo Horizonte. Betim é parte fundamental nisso porque começa aqui a solução para a resolução desses conflitos que nós temos hoje, com essa BR-381 terminando na Praça da Cemig, e tumultuando o processo todo na BR-040 e na Avenida Amazonas. Nós temos, sim, uma alternativa, um projeto. Nós temos recursos já reservados para fazer de forma municipal, mas não seria ideal. O estado deveria sentar conosco e entender que nós temos um projeto melhor do que aquele que ele insiste em propor. Porque, na verdade, ele não vai conseguir fazer esse projeto. No projeto do estado não está previsto, por exemplo, as desapropriações – que são inúmeras. O estado, por exemplo, prevê cortar a Teksid; pretende passar uma via no meio do Mercado Livre; pretende separar escolas dos alunos; prevê separar zonas quentes de criminalidade das unidades policiais. O transporte de passageiros fica totalmente comprometido. A gente precisaria de pelo menos 17 viadutos. No projeto do estado, só contempla três. Então, é um projeto errático e que o prefeito atual fez um enfrentamento muito grande. E a gente pretende convencer. O diálogo é a melhor forma de resolver todos os conflitos. E se o estado pegar para analisar o projeto que nós temos, certamente que ele vai chegar à conclusão que nós estamos certo.

A gente falou da Marília Campos, mas e a relação com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman? O senhor tem um bom relacionamento com ele?

 


Eu também tenho uma relação muito boa com ele. Participei, juntamente com ele, nos momentos de organização da campanha do Kalil para prefeito lá atrás. Ele também participava da coordenação junto comigo. Então nós temos, de certa forma, algum tipo de relacionamento que vai além das questões políticas. E o vice dele também é do União Brasil, o Álvaro Damião. Então, nós temos tudo para poder fazer uma integração muito boa aqui na região metropolitana.

Qual é a maior vocação de Betim na sua opinião? E o que pretende fazer para estimular ainda mais essa vocação?
Ainda é a indústria, mas nós sabemos que é uma indústria disruptiva. Nós estamos baseados na indústria automotiva. Nós temos a Stellantis hoje como a segunda maior geradora de impostos da cidade. A primeira é a Regap, é o refino de petróleo. Mas Betim, nesses últimos anos, sobretudo com o investimento muito forte que o Vittorio fez na área de logística, começa a pensar em outras formas de diversificação da economia. Nós sabemos que em alguns países da Europa o motor a combustão já é proibido. Isso vai, em algum momento, se modernizar, mudar, mas nós temos que pensar a cidade de uma maneira diferente. Não daqui a quatro anos, quando a gente encerra o mandato, mas daqui 40. Por isso nós temos a perspectiva de inaugurar um aeroporto, que já está com 27% das obras prontas. Esse aeroporto tem uma importância muito significativa para cidade, porque ele vai além de ser uma empresa. Ele é o que a gente chama de terceiro ciclo de desenvolvimento da cidade. No ano de 1968, chegou a Regap, que ainda é a nossa maior arrecadadora. Entre os anos 1974 e 1976, chegou a Fiat, hoje Stellantis. E a gente imagina que entre os anos de 2026 e de 2027, chegue ao aeroporto, que é a transformação ou a diversificação completa da nossa economia, baseada na logística e na indústria de alta tecnologia. Seja aeronaval, com esse pool aeroportuário que nós vamos ter, seja na questão do fortalecimento logístico, com um aeroporto que é, por vocação, de carga. Em princípio, voltada para carga e voos charter, voos executivos, mas que pode, perfeitamente, num futuro, de repente, ter as pontes aéreas.

Como é a sua relação com o governador Romeu Zema? Dentro da perspectiva que está traçando, eu vejo assim a necessidade de um relacionamento excepcional com o governo do estado para ajudar na solução desses problemas.

 

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O Romeu Zema esteve na minha campanha e, inclusive, participou de pelo menos um ato da campanha. O Mateus Simões (vice-governador) é uma pessoa que eu admiro muito, e a sua inteligência é um fator diferencial na política mineira, mas precisa de mais sensibilidade. Eu acho que o governo do estado, talvez por não estar mais próximo dos problemas como os prefeitos estão, acaba não compreendendo certas mazelas das cidades, o que prejudica para ser um governo ainda mais bem avaliado. O governador é uma pessoa, sem sombra de dúvida, muito honesta. Uma pessoa que está preocupada com gestão, mas eu acho que falta a sensibilidade de entender os projetos que estão precisando da presença dele na ponta. E acho que o Mateus tem muita afinidade, já que o próprio governador lançou-o candidato. Ele vai precisar entender os problemas da ponta para ter algum tipo de sucesso.

Sua caminhada para a conquista da prefeitura teve apoios importantes, como do Vittorio Medioli e do Wellington Sapão, que também era candidato, mas acabou desistindo. Como pretende, obviamente respeitando esses apoios todos, dar à sua gestão a sua cara e suas características?

 


O Vittorio Medioli pegou uma cidade toda fragmentada e arrasada do ponto de vista econômico e financeiro. Ele assumiu a cidade em 2017 com uma dívida de R$ 2 bilhões, uma vez e meia o valor do orçamento na época. Ele pega uma cidade com precatório de R$ 800 milhões com a Andrade Gutierrez, baixa para R$ 200 milhões, divide e encerra esse precatório agora em dezembro. Ele entrega uma cidade muito melhor do que ele pegou do ponto de vista da saúde financeira. O próximo prefeito vai ter uma liberdade maior de poder investir na área social. Talvez a minha cara esteja aí, de transformar ou criar políticas públicas que a cidade precisa. Seja mais voltada para o idoso, para a questão da infância e da adolescência, para o acolhimento da saúde. Talvez aí eu consiga pôr a minha identidade. (...) O Sapão foi um grande aliado, que recebeu muitas críticas quando me apoiou. Recebeu críticas da oposição, que queria o apoio dele. Na verdade ele demorou a decidir, e decidiu por um projeto que é mais seguro para a cidade. Certamente ele vai ter o seu espaço. 

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