Os charreteiros do Centro Histórico de Tiradentes, cidade do Campo das Vertentes, puderam dar uma breve viagem pelo protótipo de charrete elétrica, que vai substituir os veículos movidos por tração animal, durante a cerimônia de apresentação na última sexta-feira (1º/11). Agora, o veículo passará por pequenos ajustes antes de voltar aos testes, pois, já no primeiro dia, ficou visível para os engenheiros que o modelo ainda não está plenamente adequado às ruas da cidade mineira.


O secretário de turismo da cidade, Sérvulo Matias Filho, explica que o veículo tem sido desenvolvido, desde o começo, levando em consideração as particularidades de Tiradentes. “Nós temos um calçamento que é muito irregular e nossas ruas são muito íngremes, principalmente a ladeira da Igreja Matriz de Santo Antônio”, detalha.


De acordo com Sérvulo, os testes com a primeira unidade da carruagem elétrica marcam a segunda etapa para o projeto que visa substituir todos os veículos puxados por cavalos que servem ao passeio pelo centro histórico de Tiradentes. "Foram feitas várias reuniões, várias discussões, até se chegar nesse protótipo", explica.

 




Atualmente, os serviços são realizados por 60 cavalos, que conduzem cada carruagem em dupla. Já os carroceiros totalizam 30. O modelo de carruagem elétrica desenvolvido para Tiradentes conta com seis lugares, incluindo o condutor. Os veículos podem ser abastecidos em casa, por meio de tomadas de 220v.


Capacitação

A iniciativa “Transição da Tração Animal para a Inovação (Protótipo - Tiradentes)” teve o ponto de partida para o seu desenvolvimento em 2018, quando organizações locais levantaram pedidos para o fim do uso de tração animal nas carruagens da cidade. A condução para esta transição tem sido executada pelo Instituto Arbo por meio da plataforma Semente, que conta com apoio do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente (Caoma) - ligado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) - e do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS).


A articulação para o projeto inclui a Prefeitura de Tiradentes e a Associação dos Charreteiros, que representa a classe há 25 anos. O presidente da associação, Reginilson Ramalho, conta que o modelo da carruagem elétrica agradou os carroceiros que puderam conhecê-la na semana passada. “Ficou bacana. Fico no estilo da cidade, e bem charmosa também”, detalha.

 


A principal preocupação da entidade no momento é a capacitação dos carroceiros - temor este que vem desde o início do projeto. Segundo Reginilson, o fabricante das carruagens elétricas tem dito que não haverá necessidade de que os condutores tenham Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mas ainda há dúvidas se isso poderá mudar com o tempo - há muitos charreteiros analfabetos e, portanto, impossibilitados de tirar carteira.


Enquanto a discussão não é pacificada, os trabalhadores receberão um treinamento dos engenheiros responsáveis para aprenderem a conduzir os veículos. A capacitação, a princípio, vai durar dois dias e na próxima sexta-feira (8) o protótipo da carruagem elétrica estará disponível para um rodízio entre os charreteiros. "A nossa preocupação é fazer com que os carroceiros aprendam sobre o funcionamento das novas carruagens, para que as famílias não fiquem desamparadas", explica Reginilson.

 


Futuro inevitável

A iniciativa para substituição das carruagens puxadas por cavalos visa garantir maior bem-estar animal, sem tirar a fonte de sustento dos trabalhadores - algumas famílias estão na terceira geração de charreteiros. A diretora-presidente do Instituto Arbo, Patrícia Reis, explica que o destino dos equinos após a chegada das trinta carruagens elétricas está em pauta.

 

"Existe um diálogo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para que ela fique responsável pelos animais até que se faça uma destinação adequada. Será um processo de adoção, com termo de responsabilidade", defende.

 

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Com relação à capacitação dos charreteiros, Patrícia explica que o município de Tiradentes pode delimitar uma zona dentro da cidade onde as charretes podem ser utilizadas por condutores associados que tenham uma licença municipal, o que tiraria a necessidade de CNH. "O diálogo tem sido desafiador, mas hoje a gente tem aderência com a associação, que tem apoiado a iniciativa", detalha.

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