"A música é uma coisa boa para a alma, é uma terapia". Assim pensa Noriel Cohen, atleticano de 65 anos, aposentado há 12, que encanta o tradicional Bar do Joaquim, em Montes Claros, no Norte de Minas, com clássicos da música negra norte-americana dos anos 1970 e 1980.

 

 

Só no TikTok, as interpretações de Cohen já ultrapassam 6 milhões de visualizações, no perfil "Trilhas de Boteco".

 

Com quatro milhões de views, o vídeo mais conhecido do perfil é uma interpretação de Cohen do clássico "What a Wonderful World", de Louis Armstrong, cantor favorito de Noriel. Ele ouviu a canção pela primeira vez no filme "Bom Dia, Vietnã", comédia de 1987, estrelada por Robin Williams.

 



 

"Essa música é um hino – um bálsamo que precisamos para continuar acreditando que esse mundo é maravilhoso, apesar de tanta maldade, miséria e hipocrisia", recita Cohen, de forma poética.

 

Além da música negra norte-americana, Cohen admira e interpreta outros estilos de música, como a pop romântica italiana "Non Son Degno di Te", de Gianni Morandi, e "Faz Parte do meu Show", de Cazuza. Mas as canções populares dos Estados Unidos parecem ter um carinho especial de Noriel.

 

"Sempre gostei das músicas norte-americanas porque têm uma melodia muito rica. Elas me ajudaram a aprender inglês, porque quando fui morar lá eu só sabia poucas palavras. Eu gosto do pessoal mais antigo. Os negros norte-americanos possuem as vozes mais bonitas do mundo", revela.

 

Como Noriel viralizou

Noriel sempre gostou de cantar. Já teve banda e costuma se apresentar no Bar do Joaquim. Mas nunca havia sido filmado.

 

No dia da final do Campeonato Mineiro de 2024, Cohen estava se "concentrando" para assistir à partida entre Atlético-MG e Cruzeiro no Bar e Restaurante Godofredo, também em Montes Claros.

 

Porém, um amigo levou uma caixa de som, dessas de mão, e outro resolveu filmar a performance de Noriel. Herivaldo Carneiro, autor da gravação, tem uma conta no TikTok intitulada "Trilhas de Boteco". Ele gravou Cohen cantando "What a Wonderful World" e publicou na página.

 

 

Antes da publicação do vídeo, o perfil tinha 41 seguidores e 414 curtidas. No primeiro dia a postagem chegou a 200 mil visualizações. No segundo dia foi para 1 milhão e a turma do "Bar do Joaquim" ficou entusiasmada. Ela chegou a 4 milhões de views e outras duas bateram a marca de um milhão de reproduções.

 

"É engraçado porque Jarbas Soares Júnior, nosso Procurador Geral do Ministério Público de Minas Gerais, um grande atleticano, que é meu amigo há 28 anos, recebeu do Procurador Geral do Amazonas o mesmo vídeo e comentou comigo. A internet é incrível. A gente só estava se divertindo. E acabou viralizando", conta.

 

"Eu acredito!"

Em quase todo vídeo, Noriel aparece vestido com a camisa do Atlético-MG. "Tem coisas que parecem que nascem com a gente", ele diz.

 

Aos 12 anos, Noriel viu o Atlético-MG ser campeão brasileiro. Também viu seu time do coração ser bater na trave duas vezes no Brasileirão, de forma invicta em 1971, e em 1980. Mas também viu o Galo ser bicampeão da Copa do Brasil e quebrar o jejum de 50 anos da liga nacional em 2021.

 

"Tem que ter coração forte. Não é por acaso que eu sou do signo de escorpião", brinca.

 

O cantor boêmio é conhecido de Reinaldo, com quem mantém um bom relacionamento desde os anos 2000. Noriel esteve no aniversário de 50 anos do Rei no antigo Campo do Rei, em Montes Claros, onde fez muita farra, com carne de sol e arroz com pequi.

 

"Já tomamos muita cachaça e cerveja juntos. Ele é uma pessoa incrível. Mas, outro grande amigo das antigas que cultivo é o Fernando Roberto, o ‘Mastiguinha’, o ‘Tanque da Vila’, que está se recuperando de um transplante de fígado. Ele era o reserva de Reinaldo", continua.

 

Mesmo com o placar adverso no primeiro jogo das finais da Copa do Brasil deste ano, Noriel segue confiante no título. O mesmo vale para a Libertadores, em que o Galo enfrenta o Botafogo na decisão.

 

"Se têm duas palavras que traduzem o Atleticano, elas são: ‘Eu Acredito!’. Porque a nossa história de vida é sofrida, difícil e muito parecida com a do nosso time do coração. Cumprimos as exigências – estamos nas duas finais e, eu acredito que temos condições de levantar as duas taças. Acho que Hulk vai brilhar nas duas e Paulinho também", finaliza.

 

A história por trás dos vídeos

Nascido em Montes Claros, em 1959, Noriel Cohen é filho de um judeu, Gabriel Cohen Persiano, e de uma paraibana, Maria Dolores da Silva, que carinhosamente era chamada de Sônia. Viveu no interior de Minas até 1980, quando decidiu morar em Belo Horizonte.

 

Cohen rodou o Brasil e o mundo, tendo morado, inclusive, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lá, trabalhou como pintor e designer de interiores, mas após cinco anos no país decidiu voltar ao Brasil.

 

"Eu voltei porque não existe lugar melhor do que o Brasil e, com todo o respeito aos que preferem ficar por lá, quem batalha e faz concursos por aqui também consegue sobreviver, apesar da nossa péssima distribuição de renda. O que é bom nos Estados Unidos é a dignidade que qualquer emprego lhe dá", relata.

 

Seu retorno ao Brasil lhe reservou uma grande história de amor. Ele reencontrou Maria de Lourdes, sua primeira namorada, que não via há 23 anos. Eles namoraram, moraram juntos e se casaram. Sua esposa teve um câncer de mama em 2009, que foi curado apenas em 2013. Mas as metástases começaram no ano seguinte. Em 2020, ela faleceu vítima da doença.

 

"Foi um período dificílimo porque, apesar de um bom plano de saúde, as coparticipações e os remédios são muito caros e, até hoje, eu não consegui me restabelecer financeiramente" conta.

 

O "Severino"

Noriel Cohen costumava se intitular como um "Severino" (termo popular para se referir a um funcionário multitarefa), porque acumula profissões. Trabalhou como servente de pedreiro, atendente em bares e foi proprietário do "Tudo no Espeto". Atuou em setores da área administrativa, bombeiro e até gerente de posto de gasolina, além de ter uma relação com o jornalismo.

 

Cohen já fez assessoria para políticos e escreveu em jornais locais, além de fazer revistas comemorativas, sob encomenda. Em 2009, criou a "Revista Liberdade - O outro nome de Minas", que sobrevive até hoje.

 

"Sou um aprendiz de poeta. Publiquei uns dois livros que se esgotaram e tenho agora quatro originais de poesia de muito boa qualidade esperando um editor. Quem sabe eu consiga publicá-los, cuidar da minha aparência e restabelecer minhas finanças?".

 

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Quem quiser ajudar Noriel a publicar seus livros pode fazer uma doação via Pix por meio do telefone 31996009845.

 

Ele também conta que já foi aprovado em 19 concursos públicos. Hoje, vive a vida de aposentado. Gosta de jogar cartas na "Mesa Profana", como Cohen chama. É onde ele e seus amigos apostam um ou dois reais em jogos de buraco. Além disso, Noriel tem prazer em cozinhar e "tomar uma" de vez em quando, além, claro, cantar para "desabafar sua alma solitária", como ele mesmo diz.

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