O estado de calamidade na saúde provocado pela pandemia de COVID-19 e, mais recentemente, o surto de dengue e aumento dos casos de arboviroses ensejaram na Fundação Ezequiel Dias (Funed) a iniciativa de elaborar um plano de contingência contra surtos e epidemias.

 

Um comitê especial tem trabalhado no projeto, que visa revisar os procedimentos adotados nas experiências passadas e criar novos processos que possibilitem respostas mais eficazes nas próximas crises sanitárias. Ao todo, 24 profissionais de diversas áreas do instituto de pesquisa participam do comitê, que, apesar de temporário, não tem previsão exata para a conclusão dos trabalhos.


A execução deste plano de contingência está atrelada ao propósito da Funed, que é de forte buscar soluções de saúde para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). É o que defende Juliana Ramos dos Santos Maciel, coordenadora de gestão de processos de negócios da Funed. A gestora explica que a comissão tem caráter temporário pois, com a elaboração do plano, o próximo passo será a institucionalização dos novos processos elaborados. “Com a pandemia de Covid-19, a gente percebeu, tanto no cenário local da Funed quanto no cenário mundial, essa a necessidade de estruturar o contingenciamento”, disse.


 



O plano de contingência tem sido elaborado e executado utilizando separação por quatro ondas, cada qual com processos específicos. A distinção entre as ondas é semelhante às bandeiras coloridas adotadas nos índices de monitoramento durante a pandemia de COVID-19, onde a cor verde indicava situação sob controle, amarelo e laranja situavam o avanço do perigo e a cor vermelha simbolizava o ponto mais crítico.

 

Na primeira onda, o foco é o controle de doenças virais e da dengue. Em seguida, na segunda onda, é feito o controle e mitigação de demais agravos à saúde pública. A terceira onda estabelece a chamada “sala de situação”, onde será feita uma integração de dados de saúde. Por fim, na quarta onda há revisão e aprimoramento dos processos com base nas experiências anteriores.

 


Antecipação

Antecedendo a implantação da “sala de situação”, o plano de contingenciamento estabelece processos para que haja monitoramento constante de doenças virais, como as arboviroses dengue, chikungunya e zika. A coordenadora Juliana Ramos explica que um dos papéis do seu núcleo dentro do comitê é buscar ferramentas e técnicas que possam ser utilizadas nas etapas de monitoramento e avaliação das transmissões de doenças durante epidemias e surtos.

 

Ela exemplifica com a adoção de inteligência artificial na análise de dados das doenças. "Temos que nos preocupar com a integridade destes dados e garantir a segurança da informação, respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), mas pensando num processo que seja ágil e relevante", detalha.

 


Agilidade esta que tem sido a principal motivação para a criação do plano de contingência. Para Juliana, a chegada da COVID-19 promoveu uma verdadeira revolução em toda a área da saúde, contudo, é preciso estar preparado para ser mais assertivo em uma eventual pandemia. “Hoje, o nível de previsão [de endemias] pode variar muito. A gente tinha níveis de previsão com dados históricos, mas com a pandemia tudo mudou. Nós vimos que precisamos ir além e trabalhar com os dados o mais ágil possível, olhando para todos os cenários”, explica.


A coordenadora cita como exemplo dessa agilidade a divulgação pelo governo canadense, em junho deste ano, de um guia com recomendações para empregadores tratarem uma eventual nova pandemia.

 


Intersetorial

A Fundação Ezequiel Dias, administrada pelo governo estadual, atua em diferentes frentes da saúde, que vão desde a realização de exames virais à produção de medicamentos. O comitê de elaboração do plano de contingência abrange profissionais das mais distintas áreas do instituto, pois, justamente, tem-se a pretensão de promover uma integração entre todas os núcleos e, assim, agilizar o combate aos surtos e endemias.


Uma das áreas protagonistas neste combate é o serviço de virologia, responsável pela análise de exames. O chefe do núcleo, Felipe Iani, conta que tem colaborado com o comitê a partir das experiências de várias pandemias e surtos que o departamento já enfrentou, como as das arboviroses que se espalharam pelo estado este ano. “A gente viu um aumento repentino.. Geralmente, recebemos 50 amostras por dia, mas na época da COVID e este ano com a dengue chegamos a 5 mil. A gente vai mostrando pro pessoal os principais gargalos”, detalha.


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