A adoção de parques lineares ou parques ecológicos em Belo Horizonte, em vez das bacias de detenção, pode ser uma das soluções mais sustentáveis e baratas em conjunto com os 25 reservatórios já implementados (18) ou em construção (7), segundo a avaliação do professor do Departamento de Geografia e Biologia da PUC Minas, Antoniel Fernandes. Como um dos autores de artigo científico de geografia e urbanismo apresentado no 10º Congresso para o Planejamento Urbano (Pluris 2024) da Universidade do Minho, em Portugal, que mapeou o funcionamento das bacias de detenção da capital mineira, ele indica essa como uma solução possível para reduzir ainda mais as inundações que trazem risco de vida e prejuízos com os crescentes volumes de chuvas registrados nos últimos anos.

 

“As bacias são estruturas muito caras, que dependem de desapropriações de terrenos, de manutenção constante e limpeza. O funcionamento dessas estruturas é de três a quatro dias ao ano, quando poderiam ter atividades conjugadas. Em Belo Horizonte, existem formas mais baratas de se fazer a gestão das águas, como os parques do projeto Drenurbs/Nascentes, de 2008”, exemplifica Fernandes.

 




“Nos parques Nossa Senhora da Piedade e 1º de Maio há bacias de detenção, mas também um espaço verde. Isso permite a contemplação, a população pode usar, se torna espaço de lazer e é um espaço que permite a infiltração da água das chuvas, das enxurradas e do excedente de água. É uma outra forma, outra perspectiva de se trabalhar a questão dos riscos de enchentes e inundações”, pondera o professor da PUC Minas.

 

“Quando essas obras foram implementadas, custaram menos do que as bacias, como foi o caso da Bacia da Vilarinho, perto da Estação do Metrô. É uma bacia muito árida, em uma alça viária que não permite a aproximação da população nem um outro tipo de uso. Se tornou uma rotatória”, critica.


Trocando áreas de descarte por lazer


O Parque Nossa Senhora da Piedade, o Parque Baleares e o Parque 1º de Maio foram todos inaugurados em 2008, por meio do programa Drenurbs/Nascentes. O Nossa Senhora da Piedade foi criado ao largo do córrego de mesmo nome e ajuda a prevenir enchentes na Bacia do Ribeirão da Onça, no Bairro Novo Aarão Reis. Antes, as nascentes brotavam e corriam entre depósitos clandestinos de lixo. A área recuperada é de 58 mil metros quadrados, com um lago ao centro e árvores frutíferas.

 

 

O Parque José Lopes dos Reis (Parque Baleares) é um pouco menor, com 14 mil metros quadrados, no Bairro Europa, em Venda Nova, mas ajudou a reduzir os alagamentos na Bacia do Córrego Vilarinho. Também recebeu o plantio de árvores frutíferas, como mangueiras, jabuticabeiras e abacateiros.

 

O Parque Ecológico 1º de Maio era antes uma área com esgoto a céu aberto, com pilhas de entulho e lixo acumuladas. A área recuperada é de 33.700 metros quadrados ao longo do Córrego 1º de Maio, auxiliando no controle de enchentes, como um importante instrumento para a diversão da população e para preservação ecológica, beneficiando diretamente mais de 3 mil moradores da vizinhança.

 


Prevenção para evitar desastres


A Prefeitura de Belo Horizonte informa ter realizado ações para evitar problemas com as fortes chuvas recentes, que tiveram volume acima da média histórica. Entre elas estão obras de drenagem, como a implantação e melhoria de redes, serviços de manutenção durante o período seco, poda de árvores e limpeza de bocas de lobo. O Grupo de Gestão de Risco e Desastres foi criado para monitorar as chuvas e definir medidas emergenciais, utilizando mais de 4 mil câmeras para acompanhar a situação da cidade em tempo real durante os temporais.

 

A prefeitura destaca também duas grandes obras de drenagem na região do Barreiro para a Bacia do Ribeirão Arrudas: a Nova bacia nos córregos Olaria e Jatobá, já em funcionamento, com capacidade para 70 milhões de litros de água e investimento de R$ 73 milhões, e a terceira etapa do córrego Túnel/Camarões com canal em gabião, interceptor de esgoto, recomposição do pavimento e urbanização, ao custo de R$ 5 milhões.

 

A administração da capital citou ainda como fundamental para reduzir os alagamentos na Avenida Teresa Cristina a conclusão da Bacia B5 no Córrego Ferrugem, na Região Oeste, já em funcionamento e com capacidade para armazenar 274 milhões de litros de água ao custo de R$ 66 milhões.

 

 

Para evitar inundações nas regiões Norte, Nordeste e Pampulha, a prefeitura aposta em três grandes obras de drenagem: o novo canal subterrâneo da Avenida Cristiano Machado, que duplicou a capacidade de vazão das águas do Córrego Cachoeirinha e Ribeirão Pampulha (custo de R$ 45 milhões); a Praça das Águas, que inclui caixa de captação com capacidade para 27 milhões de litros de água (R$ 67,5 milhões); e o novo canal paralelo ao Ribeirão Pampulha na Avenida Sebastião de Brito, com previsão de término no segundo semestre de 2026 (R$ 139,7 milhões).

 

“Além disso, a PBH está elaborando projetos para a drenagem do córrego Cachoeirinha na Avenida Bernardo Vasconcelos, com previsão de conclusão no primeiro semestre de 2025”, informou a administração municipal.

 

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Drenurbs II


A Prefeitura de BH informa que trabalha na captação de recursos para uma segunda etapa do Programa Drenurbs junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o objetivo de reproduzir, em outros córregos da cidade, soluções como aquelas implantadas na primeira fase do projeto. "Há propostas de integração dos cursos d'água ao cenário urbano, com projetos executivos concluídos em fase de captação desses recursos para obras no Parque Linear da Pampulha, na Avenida Francisco Negrão de Lima, e também no Parque Ciliar Comunitário do Ribeirão do Onça, no Ribeiro de Abreu", informa a administração.

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