Depois de mais de cinco meses, a fachada do Conjunto Sulacap-Sulamérica, na Avenida Afonso Pena, 961, no Centro de Belo Horizonte, começa a tomar nova forma. Isso porque a administração municipal finalizou a demolição do anexo construído na década de 1970, que ficava entre as duas torres e transformava o projeto da edificação. A previsão é de que a obra de revitalização do espaço, pertencente ao programa de requalificação do hipercentro da capital, esteja concluída no primeiro trimestre de 2025.


Com a retirada de 2,8 mil toneladas de resíduos e aproximadamente 430 caçambas de entulhos, o conjunto que inclui espaços comerciais e residenciais já apresenta características de sua fachada original, com o espaço que vai abrigar a Praça da Independência no vão entre os prédios. Marcados pela arquitetura da primeira metade do século XX, os edifícios Sulacap e Sulamérica - localizados no quarteirão formado pela Avenida Afonso Pena, Rua da Bahia e Rua dos Tamoios - abrigavam uma vista privilegiada do Viaduto Santa Tereza.




 

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), estão sendo investidos R$ 3,42 milhões na intervenção para valorização do patrimônio histórico e cultural da região central. A previsão é de que a limpeza final dos destroços do imóvel seja realizada ainda em novembro deste ano. Além disso, a administração municipal afirma que as obras de reconstrução da praça, restabelecendo o projeto inicial, também deverão começar neste mês. 


 

Em agosto de 2023, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi) publicou edital de contratação para empresa que ficaria responsável pelo projeto de demolição. De acordo com a administração municipal, o empreendimento que apresentou a “proposta mais vantajosa” foi a Potenza Soluções Prediais e Facilities Ltda. De acordo com a PBH, a contratação direta sem licitação é possível por se tratar de projeto de baixo valor, dentro dos limites legais. Nesse caso, portanto, a lei não exige licitação.


 

A demolição do prédio teve que  acontecer de forma controlada, sem uso de explosivos, por vezes manual, e outras mecanizadas. O objetivo foi garantir a integridade das edificações limítrofes, situadas ao longo das vias que compõem o quarteirão.

 

Prós e contras


As torres do Sulacap e do Sulamérica, cada uma com 15 andares, foram erguidas em substituição ao Edifício Sudameris, que abrigava a sede dos Correios, transferida para o prédio ao lado da PBH. O projeto é de autoria do arquiteto italiano Roberto Capello. A demolição do “puxadinho” foi iniciada em 29 de maio. Na época, durante coletiva de imprensa, o prefeito Fuad Noman (PSD) afirmou que a estrutura era um “entrave” no objetivo do projeto Centro de Todo Mundo, cujo objetivo é “melhorar a cara do Centro de BH”. 


O produtor cultural Marcelo Santiago trabalha no Edifício Sulamérica, uma das torres do conjunto. Desde o início das obras, ele registrou todas as fases da demolição do anexo, chamado de Novo Sulamérica. Ao Estado de Minas, relatou que as intervenções não causaram tanto impacto na rotina de trabalho, uma vez que o “quebra-quebra” foi apenas um adicional ao barulho incessante da Avenida Afonso Pena e do hipercentro. 


Apesar de não ter se incomodado com a obra, Santiago enfatiza que foi contra a demolição do anexo. “Achei um grande absurdo derrubar um prédio em vez de dar uma utilização para ele. Porque já gastou milhões para construir o imóvel, e depois você gasta mais milhões para destruir. Pelo projeto, vão só abrir um espaço sem contribuição para a sociedade”. 


Do outro lado, a iniciativa da prefeitura para recuperar o projeto original do Conjunto Sulacap-Sulamérica encontra boa receptividade no Instituto dos Arquitetos do Brasil seção Minas Gerais (IAB-MG). Na época da divulgação do projeto, a entidade se mostrou disposta a colaborar nessa e em outras intervenções na capital, conforme afirmou a diretora de Cidades, Ana Maria Schmidt.


Experiente em projetos e planos urbanos, um deles participando como coordenadora, a arquiteta e urbanista explicou que quando o anexo foi construído houve protestos, mas a obra prosseguiu. “A intervenção causou indignação, pois configurava descaracterização do cerne de um projeto que ‘conversava’ com a cidade, gerando espaços de convívio e mirante.”

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