Familiares e amigos do policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes protestam na tarde desta quarta-feira (20/11) contra o genocídio do povo negro no Brasil. O subtenente do Corpo de Bombeiros Naire Assis Ribeiro é acusado de matar Wallysson, em 26 de fevereiro deste ano, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte.

 

 

O crime aconteceu na madrugada, quando Wallysson estava bebendo com o filho em um bar no Santa Tereza. Naire, ao avistar o policial penal, questionou o motivo dele estar armado. Wallyson se apresentou como militar. Os dois discutiram no local e o bombeiro foi em casa buscar um revólver.

 



 

Quando o bombeiro militar reformado, que estava embriagado, voltou, ele atirou contra o policial penal sem que este pudesse se defender. No total, foram cinco tiros. O bombeiro fugiu do local, de moto, mas acabou preso pela PM. A arma foi apreendida. O policial penal chegou a ser socorrido para o Hospital João XXIII, mas morreu na unidade.

 

Cerca de 100 pessoas participam da passeata que, como reforçam os parentes, não à toa acontece no Dia Nacional da Consciência Negra. "Meu primo morreu porque foi julgado e condenado à morte por ser um homem preto armado", diz o primo de Wallysson, Sirlan Vinicius Marques, de 43 anos.

 

À frente da caminhada que começou no Bairro Paraíso e seguiu para a Praça Duque de Caxias, no Santa Tereza, os manifestantes carregavam uma faixa dizendo: "Wallysson Guedes, morto por racismo. Assassino frio, calculista e preconceituoso não merece ser chamado de Bombeiro. Bombeiros salvam vidas, racistas tiram vidas". O grupo foi até a frente do bar na Rua Tenente Freitas, onde aconteceu o crime.

 

 

Sirlan conta que o policial penal só morreu porque lhe foi negado o  direito de andar armado, e com a própria arma. "O assassino implicou com ele por estar armado. E não acreditou que era policial, mesmo depois de Wallysson mostrar sua identidade funcional. Esse crime mostra que não avançamos em nada na pauta do combate ao racismo. Ganhamos um feriado, mas perdemos uma vida".

 

"Que as bênçãos de Deus caiam sobre nós. Está na Justiça, a justiça está correndo", disse a mãe da vítima, Rute Alves dos Santos.

 

"Wallysson era uma colega muito gente boa, trabalhador, honesto, um cara super tranquilo, amigo de todos. Perdeu a vida em uma crueldade. Não tinha motivo", relatou o agente penitenciário Walmir Silva, que trabalhava com Wallysson.

 

Também colega do policial no trabalho no sistema prisional, o agente penitenciário Gustavo Sales descreveu o amigo como uma excelente pessoa. "Não tinha necessidade de ter sua vida ceifada de uma forma tão brutal, um motivo torpe, o racismo. Em pleno 2024 acontecerem atos tão bárbaros que não cabem mais na sociedade. É preciso ter mais respeito pelo próximo, independente de raça, credo ou condição social. Queremos justiça".

 

Na Justiça 

Em abril, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentou à Justiça a denúncia contra o bombeiro. Ele foi indiciado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, por motivo torpe e risco ao perigo comum, e pelo crime de preconceito racial.

 

No documento da denúncia que foi encaminhado ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, há a transcrição de uma ligação feita por Naire para o número 190, em que pediu apoio policial, já que Wallysson estaria se apresentando como militar. O suspeito duvidava de sua profissão.

 

Na ligação, a atendente questiona o suspeito sobre a acusação, que desconversa sobre a situação. “Ele é haitiano (...) negro. Ele está se identificando como militar, que ele não é, está entendendo?”, disse Naire para a atendente. Sirlan lembra que, em nenhum momento, Wallysson disse ao criminoso que era haitiano.

 

A Polícia Civil ouviu nove testemunhas que presenciaram a discussão, tiveram acesso a ligação para o 190,  e concluíram a investigação como crime de racismo. O assassino está preso e irá a júri popular.

 

*Com informações de Ivan Drummond e Bel Ferraz

 

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