Na tarde dessa quarta-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, a entronização do retrato de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), marcou um momento inédito no Palácio da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. É a primeira vez que uma figura afrodescendente ocupa a Sala dos Grandes de Minas. No entanto, do outro lado da "reparação histórica" estão inúmeras personalidades femininas que também nunca estiveram entre os 48 homens brancos representados em retratos nas paredes.
A construção de 1864 foi sede do governo estadual por muitos anos, e atualmente funciona como equipamento cultural. A Sala dos Grandes de Minas abriga a fotopintura de todos os ex-governadores de Minas Gerais, e personalidades como Santos Dumont (1873-1932, o ‘Pai da Aviação’), de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792, expoente da Inconfidência Mineira), e agora, do patrono das artes no Brasil.
O secretário de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Leônidas Oliveira, diz que até o momento, por ter sido o antigo local de trabalho estadual, a sala é dos ex-governadores. "Todos eles estão lá, além daqueles que tiveram uma contribuição para Minas, o Brasil e para o mundo. Por isso estão Santos Dumont, Tiradentes e Aleijadinho", comenta.
Existem regras para ser um 'Grande de Minas'?
Os aspectos analisados para integrar a sala, segundo o secretário, não estão documentados ou registrados em lugar algum. "O critério é tradição e relevância mundial", diz. No entanto, desde 2013, quando o Palácio começou a fazer parte do circuito de centros culturais da Praça da Liberdade, a sala não recebeu nenhuma homenagem a uma mulher.
"Com a vinda de Aleijadinho nós estamos mudando. Os critérios estão sendo redefinidos pela Fundação Clóvis Salgado (FCS) para serem mais ligados ao mundo civil. Até então seguia-se uma tradição, mas estamos reformulando para ter mais representação feminina, do povo negro e indígena. Temos muitas pessoas além do mundo político que fizeram revoluções", garante Leônidas.
Já a seleção, ele conta que é de responsabilidade da curadoria de uma equipe de Artes Visuais da FCS. "A Fundação possui um acervo de obras de arte desde os anos de 1970. Esse acervo tem uma certa irregularidade por causa da época, ele acompanha o tempo, e a medida que vamos selecionando é preciso muita pesquisa", afirma a gerente de Artes Visuais da fundação, Uiara de Azevedo.
Ela explica que no Palácio da Liberdade, a FCS começou a ter mais "liberdade" recentemente. "O espaço tem uma visitação grande e a curiosidade do público vai além da questão política e arquitetônica. Não dá para não acompanhar o pensamento desse público e não gerar discussão. Começamos a entender a relação com a arte", diz Uiara. A partir disso, o museu começou a receber, ainda de forma tímida, exposições alternativas.
"Sobre a Sala dos Grandes de Minas, sempre pensamos figuras que foram representativas na história do mundo. Ainda estamos muito focados no estado, mas nada impede que a sala cresça. É muito sobre uma pesquisa de público", destaca.
Questionado sobre a próxima personalidade a ser representada entre os Grandes de Minas, Leônidas afirmou que, há planos para que a próxima figura seja uma mulher, mas ainda não há data ou pessoa definidas. Além disso, ele não descarta a realização de uma "enquete" para uma votação pública que defina quem deveria ocupar a Sala.
O espaço, assim como as outras partes do Palácio da Liberdade, podem ser visitados gratuitamente de quarta a sexta-feira (12h às 17h30), e aos finais de semana (10h às 17h).
A reportagem ainda apurou a possibilidade da escritora, compositora e poetisa brasileira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), autora de sucessos como "Quarto de Despejo" e "Casa de Alvenaria", ser a primeira mulher a ocupar espaço entre os Grandes de Minas. "Uma mulher na sala de retratos é urgente. Imagina ser uma mulher negra? Seria sem dúvidas uma honra ser Carolina Maria de Jesus, muito mais do que representatividade na literatura e na música, ela é um pensamento", conclui a gerente de Artes Visuais.
Veja quem está na Sala dos Grandes de Minas:
1. Antônio Olinto dos Santos Pires
2. João Pinheiro da Silva
3. José Cesário de Faria Alvim
4. Antônio Augusto de Lima
5. Dr. Eduardo E. da Gama Cerqueira
6. Afonso Augusto Moreira Pena
7. Crispim Jacques Bias Fortes
8. Francisco Silviano de A. Brandão
9. João Cândido da Costa Sena
10. Francisco Antônio de Salles
11. João Pinheiro da Silva
12. Julio Bueno Brandão
13. Wenceslau Brás Pereira Gomes
14. Delfim Moreira da Costa Ribeiro
15. Eduardo Carlos Vilhena do Amaral
16. Arthur da Silva Bernardes
17. José de Magalhães Pinto
18. José Francisco Bias Fortes
19. Clóvis Salgado da Gama
20. Juscelino Kubitschek
21. Milton Soares Campos
22. Alcides Lins
23. Noraldino de Lima
24. Julio Ferreira de Carvalho
25. João Tavares Correa Beraldo
26. Nísio Batista de Oliveira
27. Benedito Valadares de Oliveira
28. Gustavo Capanema Filho
29. Olegário Dias Maciel
30. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada
31. Fernando de Mello Vianna
32. Raul Soares de Moura
33. Israel Pinheiro da Silva
34. Rondon Pacheco
35. Antônio Aureliano Chaves de Mendonça
36. Levindo Ozanan Coelho
37. Francelino Pereira dos Santos
38. Tancredo de Almeida Neves
39. Helio de Carvalho Garcia
40. Newton Cardoso
41. Helio de Carvalho Garcia
42. Eduardo Brandão de Azeredo
43. Itamar Augusto Franco
44. Aécio Neves da Cunha
45. Antonio Augusto J. Anastasia
46. Alberto Pinto Coelho
47. Fernando Damata Pimentel
48. Romeu Zema Neto
Serviço
Sábado e domingo, às 11h e às 15h
*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos