Completada uma semana do rompimento da barragem da Lagoa do Nado, no parque municipal de mesmo nome, no Bairro Itapoã, Região Norte de Belo Horizonte, a reconstrução do espaço segue em ritmo lento, enquanto a prefeitura e os vereadores despendem esforços para tentar entender o que provocou o incidente. No último dia 14, um buraco na estrutura responsável pela contenção da lagoa causou a vazão de mais de 60 milhões de litros de água, o que secou o manancial artificial e trouxe transtornos para os frequentadores do parque, que foi interditado temporariamente.
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), não há previsão para a reabertura do espaço. A lagoa ocupa uma área de 22 mil m² dos 313 mil m² totais do parque, o que corresponde a 7%. Ainda assim, a PBH optou pelo fechamento total enquanto aguarda a análise de técnicos sobre as áreas degradadas e de risco, estudo que ainda não tem data para ser entregue.
Além do uso esportivo, com suas pistas de caminhada, quadras poliesportivas, pistas de skate e campos de futebol, o parque tem intensa atividade cultural, em seus teatros e biblioteca, e religiosa. A interdição do espaço fez com que a Pisada de Caboclo e Povos Indígenas, festividade religiosa realizada anualmente no Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado (CRCP), tivesse sua sétima edição, marcada para domingo (24) de manhã, deslocada para o Parque das Mangabeiras.
O festejo promove o encontro de povos tradicionais de terreiros de matriz afro-brasileira com povos indígenas, estreitamente ligado ao parque, explica Ricardo de Moura, conhecido como Pai Miranda, líder da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, uma das organizadoras do evento. Parte dessa conexão está no centro cultural, localizado em um casarão antigo, com quase cem anos, preservado dentro do parque. Ali está exposta a obra “Oguns Kabecilês – Enxadigma”, do artista Babilak Bah, que relaciona a ancestralidade africana à luta dos quilombos. Devido à interdição do parque, o público segue sem acesso à exposição.
O fato de o Parque Lagoa do Nado ser um dos poucos refúgios naturais restantes na capital mineira também reforça essa proximidade com os povos indígenas e de matriz afro-brasileira. “A interdição do parque impacta diretamente a continuidade da vida no local. Estamos com um espaço religioso fechado”, explica Pai Ricardo. “Esperamos que o parque seja devolvido à comunidade, com toda a segurança, o mais breve possível”, acrescenta.
Poder Público
Diante dos portões fechados, a pouca movimentação visível pelas grades do parque é de retroescavadeiras e caminhões com material de construção, deslocando-se pelos caminhos de pedra. O resgate de animais afetados pelo rompimento, que movimentou o dia seguinte ao incidente, já foi concluído pela Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica. Ao todo, 459 peixes foram transferidos para um lago no Parque Ecológico da Pampulha, e 154 cágados, encaminhados para estruturas do Ibama em Belo Horizonte.
Segundo a PBH, os trabalhos realizados atualmente no parque envolvem a implantação do canteiro de obras, a criação de acessos às áreas atingidas e a análise das áreas degradadas e de risco. Além disso, a prefeitura informou que as atividades do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado (CRCP) permanecem suspensas até a reabertura do parque.
O próximo passo será uma apuração conduzida por uma comissão especial formada por engenheiros civis e uma geóloga, que terá cinco dias para apresentar um relatório técnico preliminar. Entre as hipóteses analisadas, segundo a prefeitura, está a possibilidade de que a instalação de um dispositivo de controle do nível da água tenha causado o rompimento. Ainda de acordo com a PBH, os trabalhos da comissão incluem a análise do Relatório de Inspeção de Segurança Regular (ISR), que indicava uma condição aparentemente normal da estrutura.
A prefeitura também informou, por meio de nota, que a SMOBI já contratou o Relatório de Encerramento de Emergência (REE) e o Laudo Técnico de Ruptura, ambos exigidos pela Portaria IGAM 8, de 17 de março de 2023, em decorrência do rompimento da barragem.
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A investigação sobre o ocorrido também está na pauta dos vereadores. A Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana havia marcado uma visita técnica ao parque para segunda-feira (25), mas a atividade foi cancelada devido à convocação dos parlamentares para duas reuniões extraordinárias no plenário da Câmara. A comissão também aprovou a realização de uma audiência pública no dia 2 de dezembro para discutir a segurança das barragens na cidade.