Belo Horizonte está de olho no futuro e na adaptação às mudanças climáticas. Nesta sexta-feira (29/11) e neste sábado (30/11), a capital mineira sedia a Conferência Municipal do Meio Ambiente, que antecede um encontro nacional de especialistas, representantes da sociedade civil, acadêmicos e gestores públicos para discutir estratégias de enfrentamento às ondas de calor e outros desafios.


O evento faz parte da etapa preparatória da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que acontecerá em maio de 2025, em Brasília. Até lá, ainda haverá uma fase estadual, prevista para março de 2024. As discussões, as palestras e a eleição de delegados, que vão representar a capital no encontro nacional, buscam propor soluções que coloquem Belo Horizonte na vanguarda da adaptação climática e na preservação ambiental.


A conferência é realizada em meio a um cenário de estudos que apontam até nove ondas de calor adicionais em Minas Gerais até 2050, tempestades extremas e estiagens ainda mais prolongadas nos próximos anos. “Já avançamos muito em adaptar a cidade para as chuvas com as bacias de contenções. E vamos avançar ainda para ampliar as áreas verdes, parques, corredores verdes, jardins de chuva e refúgios climáticos”, afirmou Gilson Leite, secretário interino de Meio Ambiente e presidente da Fundação de Parques e Zoobotânica, em coletiva de imprensa na manhã desta sexta.

 




Arborização


A aposta de BH para driblar os efeitos do calor está em plantar 35 mil árvores na capital até o fim deste ano, meta anunciada em junho e que, segundo o secretário interino de Meio Ambiente, está a caminho de ser superada. “Já plantamos cerca de 30 mil árvores e ainda temos cinco mil programadas até 31 de dezembro. Talvez a gente até ultrapasse a meta”, disse. A Avenida Antônio Carlos é uma das áreas prioritárias para o plantio, assim como áreas degradadas e espaços destinados à preservação ambiental. 


Mas não basta plantar árvores; é preciso garantir sua sobrevivência. Para isso, a cidade tem investido em técnicas de plantio, inventário dos espécimes e monitoramento constante, afirma Gilson. "Tem muito a ver com o período de plantio e a assistência técnica. Plantar no período seco, sem irrigação adequada, é receita para perda. Temos trabalhado para minimizar essa mortalidade e aumentar a longevidade das árvores. Não temos dados exatos, mas, pelo que acompanhamos, nossa perda é muito baixa", aponta, ressaltando que o inventário dos espécimes trará dados mais concretos para subsidiar as ações.


Hoje, Belo Horizonte tem apenas 15% de seu território coberto por áreas verdes, conforme revela o Diagnóstico da Arborização Urbana do município, divulgado em agosto. O documento, elaborado para fundamentar a criação do Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU-BH), evidencia o que especialistas já vêm cravando há décadas: a distribuição desigual da vegetação urbana, com áreas nobres recebendo uma cobertura verde bem superior em comparação a vilas e favelas.


O estudo aponta que as periferias, em geral, têm menos de 5% de cobertura arbórea. Mesmo nas regiões mais arborizadas, parte dessas áreas se encontra em zonas de vegetação protegida ou em locais de baixíssima densidade populacional. Ainda que não tenha um inventário oficial, BH estima ter cerca de 550 mil árvores. O diagnóstico de arborização do município aponta para um déficit significativo de 383.421 árvores que, se preenchido, poderia ampliar a cobertura arbórea em 35,65 km².


Além da arborização, Belo Horizonte aposta em soluções baseadas na natureza, como jardins de chuva, que ajudam na drenagem urbana e no controle de enchentes, e refúgios climáticos, espaços com vegetação e sombra para mitigar os efeitos das ondas de calor. A modernização de parques, como o da Pampulha, segue a mesma linha, transformando áreas verdes em esponjas naturais para captação de água da chuva e reduzindo os impactos de enchentes.


Mobilidade é o maior poluente


Em coletiva, o secretário interino de Meio Ambiente apontou a mobilidade como um dos principais poluentes da capital e listou investimentos em energia limpa, como a nova frota de 950 ônibus movidos por tecnologias limpas certificadas pela União Europeia. O Plano de Mobilidade Limpa de BH, apresentado em setembro do ano passado, prevê substituir 40% da atual frota de transporte público por ônibus com energia limpa até 2030.


Em testes desde outubro, os ônibus elétricos são outra alternativa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas ainda sem previsão de implementação. Segundo Gilson Leite, Belo Horizonte já possui um inventário de emissões que vem sendo atualizado há mais de 10 anos, além de um plano de ação climática local. Ele avalia que a criação de uma coordenadoria especial de mudanças climáticas, parte da reforma administrativa que aguarda votação na Câmara, será essencial para articular as diversas iniciativas e expandir a governança climática na cidade.

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