A Serra do Espinhaço, no Norte de Minas, é a casa de uma nova (e rara) espécie de arbusto, nomeada “Lippia aonae”. Identificada após expedições realizadas pelo Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (PAT Espinhaço Mineiro), a espécie foi registrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).

 



 

A descoberta foi feita por pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP) e Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) a partir de uma coleta de Danilo Zavatin (USP) na região, em outubro de 2023.

 

 

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o estudo que levou à identificação da Lippia aonae incluiu ilustrações detalhadas, análises morfológicas e um mapa de distribuição. A iniciativa também integra esforços para a produção de um livro ilustrado sobre a flora da região de Monte Azul, também no Norte de Minas.

 

Segundo Pedro Henrique Cardoso, doutor em Botânica pelo Museu Nacional UFRJ e um dos pesquisadores envolvidos no projeto, todo o processo para descrever a Lippia aonae levou três anos: “A flora brasileira é extremamente rica, mas muitas de suas plantas, como Lippia aonae, estão em áreas de difícil acesso e, em diversos casos, foram coletadas poucas vezes, o que torna o trabalho dos taxonomistas ainda mais desafiador e relevante”, explica.

 

Ainda de acordo com o pesquisador, a nova espécie só está no Norte de Minas Gerais e desempenha um papel essencial no ecossistema, contribuindo para a manutenção da fauna ao fornecer recursos, como néctar, aos seus visitantes florais e polinizadores. “Ela foi encontrada no Parque Estadual Serra Nova e Talhado e no Parque Estadual Caminho dos Gerais. Isso ressalta a importância das unidades de conservação na proteção dessa espécie”, destaca.



O local onde a espécie foi encontrada pertence ao território do PAT Espinhaço Mineiro, que abrange uma área com 105.251 km², perpassando os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. O plano é voltado para 24 espécies classificadas como Criticamente em Perigo (CR), sendo 19 da flora, três de peixes e duas de invertebrados. Os benefícios das ações do plano serão refletidos em pelo menos 1.787 outras espécies ameaçadas, presentes no território.

 

 

Cardoso destaca que garantir a sobrevivência dessa espécie requer um conjunto integrado de ações que envolvam ciência, legislação e práticas de conservação no campo: “Embora Lippia aonae ocorra em áreas protegidas, existem ameaças como a criação de gado, incêndios provocados por atividades humanas, mineração e outros empreendimentos de grande escala que comprometem a integridade dos ecossistemas locais e das plantas endêmicas”.


O pesquisador ressaltou ainda que é fundamental ampliar os investimentos em pesquisa científica e fortalecer a legislação ambiental. “O manejo sustentável das áreas adjacentes e programas de educação ambiental para comunidades locais também são medidas essenciais para mitigar os impactos e assegurar a conservação desta e de outras espécies ameaçadas”, contou.


Lippia aonae

 

A Lippia aonae é endêmica da Cadeia do Espinhaço e cresce em campos rupestres e formações típicas do bioma Cerrado, entre 900 e 1,25 mil metros de altitude. O arbusto, com altura de 40 a 60 centímetros, possui folhas aromáticas e pegajosas que brilham ao sol. Apenas duas subpopulações foram registradas, ambas localizadas em áreas protegidas dos parques estaduais mencionados.

 

A nova espécie foi batizada em homenagem à professora Lidyanne Aona, curadora do Herbário HURB na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), por sua contribuição à botânica brasileira.

 

 

Com uma área de ocupação restrita a 12 km², a planta foi classificada como vulnerável, segundo critérios da International Union for Conservation (IUCN).


* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

compartilhe