Após seis dias do desaparecimento em Paris do fotógrafo mineiro Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, um dos contatos dele na capital francesa tem sido alvo de acusações e hostilidade nas redes sociais mesmo auxiliando na busca pelo homem, de acordo com a família.
O jovem vem sendo acusado de envolvimento no caso depois que apareceu ao lado de Flávio de Castro em fotos das redes sociais.
Foi ele quem entrou em contato com os familiares brasileiros informando que Flávio chegou a ser hospitalizado no dia em que deveria embarcar de volta ao Brasil.
"Ele está nos ajudando lá (em Paris). Está nos dando suporte lá. Mas a internet está crucificando o rapaz. Estão acusando ele. Estão tacando pedras na casa dele lá. Estão fomentando uma injustiça muito grande", afirma uma prima de Flávio.
"A internet decidiu que ele é culpado e por isso conseguiram chegar nas redes sociais do menino e na casa do menino", disse, em apelo para que a perseguição virtual cesse.
Em comentários nas redes sociais, algumas pessoas relacionam o amigo da França com o desaparecimento, acusando o rapaz abertamente de ter algum envolvimento. A reportagem procurou o amigo, que por enquanto não se pronunciou.
"É um pedido de socorro meu para que a gente possa evitar uma tragédia e evitar que isso (os boatos) ganhe um alcance ainda maior", pede a prima. Flávio é mineiro de Campo Belo, no Centro-Oeste de Minas Gerais e está desaparecido desde a tarde do dia 26 de novembro.
Flávio, fotógrafo profissional especializado em registrar imagens de eventos e produtos, encontrava-se em Paris desde 1º de novembro, com data de retorno marcada para o Brasil no dia 26. Apesar de ter realizado o check-in para o voo de volta, conforme confirmado pela empresa aérea, Flávio não embarcou na aeronave.
Durante parte de sua estadia na capital francesa, ele teve a companhia desse amigo, que figura em algumas fotos publicadas por Flávio em suas plataformas digitais.
No dia seguinte ao sumiço de Flávio (27 de novembro), um conhecido da família recebeu uma mensagem direta por rede social desse jovem amigo francês, relatando que Flávio havia sofrido um acidente e sido encaminhado ao Hospital Europeu Georges-Pompidou, porém, já teria recebido alta no dia anterior (26). Essa informação consta na declaração divulgada pela família.
Nas mídias sociais de Flávio, o perfil do rapaz é marcado e identificado pelo fotógrafo. Ele surge em fotos de viagem em poses planejadas, compartilhadas em três ocasiões por Flávio. Uma delas no Pavilhão Mollien, galeria do Museu do Louvre, em 24 de novembro, e outras duas nas ruas parisienses no mesmo dia: uma em local não especificado e outra na Rua Samson, no 13º distrito, Bairro Maison-Blanche, a aproximadamente 600 metros de onde o brasileiro se hospedava.
Em suas redes sociais, o amigo publicou uma mensagem buscando notícias sobre o paradeiro de Flávio. Anteriormente, sua última postagem, em outubro, mostrava-o vestindo a camisa da seleção brasileira com a legenda "eu te amo".
De acordo com o comunicado da família, as informações são de que, após deixar o hospital, Flávio teria se dirigido à administração do imóvel onde se hospedava, buscando prorrogar sua permanência por mais uma noite no apartamento.
Segundo a família, "ao que tudo indica", ele retornou ao apartamento situado na Rua des La Reculette, no 13º distrito de Paris, e a partir de então cessou as respostas às mensagens e desapareceu. O amigo relatou que estava com os pertences de Flávio, recuperados do Airbnb, incluindo seu passaporte. A família, no Brasil, permanece sem qualquer informação, como afirma a nota divulgada no dia 30 de novembro.
Diante da falta de notícias, a mãe de Flávio passou a efetuar ligações insistentes para o celular do filho e, na madrugada do dia 28, um indivíduo desconhecido atendeu, mas não se comunicava em português. Ele então passou o telefone para um brasileiro chamado Denis, funcionário de um restaurante francês.
Denis conversou com a mãe de Flávio e esclareceu que o aparelho celular foi encontrado dentro de um vaso de plantas, por volta das 7h da manhã do dia 27, na entrada do restaurante.
Flávio em Paris
O fotógrafo, que utiliza o nome profissional de Flávio Carrilho de Castro, se define como um admirador da fotografia tradicional. Sua última publicação nas redes sociais ocorreu no dia 25 de novembro, um dia antes da data prevista para seu retorno ao Brasil. A imagem, em preto e branco, retrata Flávio com uma câmera antiga nas mãos, no Museu do Louvre, em Paris.
Embora tenha desembarcado em Paris no dia 1º de novembro, a primeira publicação do fotógrafo em suas redes sociais aconteceu somente uma semana depois, no Cemitério de Montparnasse. A partir de então, foram compartilhadas 41 fotografias, abrangendo pontos turísticos, monumentos, cenas do cotidiano e retratos de pessoas. Flávio aparece em três imagens, demonstrando admiração e concentração, sempre com sua câmera fotográfica vintage em mãos.
Enquanto as buscas por Flávio prosseguem, seu sócio Lucien e sua prima Woiron se encarregam de gerenciar as informações, contatar as autoridades brasileiras e francesas, organizar documentos e administrar as contas da residência de Flávio, já que sua mãe reside no interior de Minas Gerais e necessita de apoio. Eles mencionaram que a polícia francesa ainda não estaria se dedicando ao caso com a devida atenção.
Na França, o tratamento dado aos desaparecimentos pelas autoridades varia conforme a gravidade e as particularidades de cada situação. Os desaparecimentos são classificados como "disparition inquiétante" (desaparecimento preocupante) e "disparition volontaire" (desaparecimento voluntário).
A prioridade nas investigações se concentra nos desaparecimentos preocupantes, quando há indícios de risco, como no caso de indivíduos com histórico de problemas mentais, menores de idade, idosos ou em circunstâncias suspeitas. Ainda não se sabe se a descoberta do celular de Flávio enquadra o caso como preocupante.
Já o desaparecimento voluntário se caracteriza pela decisão da pessoa de se afastar por vontade própria. A Constituição e o Código Civil garantem esse direito, desde que não haja prejuízo a terceiros, como abandono de dependentes, descumprimento de obrigações legais ou de responsabilidades de tutela.
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Em situações de desaparecimento voluntário, caso a polícia localize a pessoa, a decisão de divulgar ou não informações sobre seu paradeiro cabe exclusivamente a ela.