Concentração da caminhada aconteceu na Praça da Bandeira, região Centro-Sul de Belo Horizonte -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A. Press)

Concentração da caminhada aconteceu na Praça da Bandeira, região Centro-Sul de Belo Horizonte

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A. Press

A Avenida Afonso Pena, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi palco da 7ª Caminhada Pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas na manhã deste domingo (1º/12).

 

Com a participação do bloco carnavalesco Baianas Ozadas, os manifestantes se reuniram na Praça da Bandeira e avançaram até a Praça Tiradentes carregando faixas e cartazes com mensagens pela defesa do direito a uma vida livre de assédios, agressões e feminicídios.

 

 

Esta edição do evento relembrou especialmente o caso da advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, morta em 2022 em caso que tem seu então namorado como principal suspeito.


A passeata é organizada pelo Grupo Mulheres do Brasil e aconteceu também em outras cidades do país. A organização reúne milhares de integrantes e atua em diversas frentes pela sensibilização social e governamental acerca dos índices de violência contra as mulheres

 


Além das caminhadas e atos de rua, o grupo produz relatórios e cartilhas que atestam a realidade de violência cotidiana contra as mulheres no Brasil e no mundo e propõem estratégias de enfrentamento da questão. A organização estende ainda o debate para como o subjugo feminino é tonificado por outras formas de discriminação com as de ordem racial, econômica, capacitista e os preconceitos associados à sexualidade.

 

As caminhadas acontecem anualmente nos pontos de atuação do grupo. O Mulheres do Brasil reúne 129 mil associadas em 155 núcleos, 42 deles no exterior. Uma das líderes da organização em Belo Horizonte, Fernanda Andrade comemorou a participação de grande público no ato deste domingo.


“A adesão foi excelente. Tivemos a participação de  famílias, integrantes de 21 coletivos, como o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Sedese e OAB, Cruz Vermelha Brasileira Filial Minas Gerais, Comissão de Defesa da Mulher ALMG, Justiça por Carol, Defensoria Pública, além de três blocos de carnaval – Gato Escaldado, Bainas Ozadas e Charangueiras – e artistas como Jojo e Palito. A caminhada contou ainda com uma parada simbólica em frente ao Tribunal de Justiça, reforçando a importância do tema. Ficamos muito felizes com o resultado e com o engajamento da sociedade”, disse à reportagem.


Andrade reiterou que as caminhadas são uma manifestação pública nas ruas sobre a importância de se debater a violência contra a mulher. Ela destaca que o grupo reúne uma série de materiais informativos e educativos sobre o tema que são divulgados em manifestações como a desta manhã.


“Esses atos são essenciais para conscientizar a população e informar as mulheres sobre os diversos tipos de violência. No Instagram do Grupo Mulheres do Brasil – núcleo BH disponibilizamos materiais como o “Violentômetro”, além de e-books voltados ao público geral e empresas, para que elas possam abordar o tema internamente. Eventos como a caminhada ampliam o alcance desse conteúdo, promovendo reflexões e incentivando mulheres a reconhecerem e denunciarem situações de violência”, conclui.





Caso Carol

Com participação de familiares de Carolina Magalhães e o rosto dela em camisetas, os manifestantes reivindicaram justiça no caso da morte da advogada de 40 anos em junho de 2022. 


Carol, como era conhecida em seu círculo de convivência mais próximo, caiu do oitavo andar do prédio em que morava no Bairro São Bento, em Belo Horizonte. O caso foi inicialmente tratado como suicídio, mas investigações da polícia civil apontaram que o advogado Raul Rodrigues Costa Lages, namorado da vítima, é o responsável pela morte.

 


Raul tornou-se réu em setembro deste ano, quando o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) aceitou a denúncia do Ministério Público (MPMG). De acordo com a tese da promotoria, o suspeito agrediu a companheira e a deixou desacordada. Com a mulher sem possibilidade de reação, o advogado ainda teria limpado a casa e realizado outras atividades domésticas antes de cortar a tela de proteção de uma das janelas do apartamento, por onde jogou a vítima.

 

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O advogado responde ao crime em liberdade. A denúncia ainda aponta que o relacionamento de Raul e Carol era conturbado e com brigas frequentes. O suspeito estaria ‘inconformado’ com a possibilidade do término do namoro à época do assassinato que, pelas circunstâncias descritas na investigação, enquadra-se como feminicídio.

 

A gradação das formas de violência até o ato final do assassinato de uma mulher por sua condição de gênero é uma das formas apresentadas para conscientizar sobre relacionamentos abusivos e alertar para os riscos a ele atrelados. O Grupo Mulheres do Brasil, inclusive, elaborou um Violentômetro que explica os níveis de atenção necessários para a proteção feminina.

 

Evandro Magalhães, pai de Carol, participou da caminhada ao lado da esposa Maria Ignês Magalhães, mãe da vítima. Ao Estado de Minas, ele recordou os contornos torpes e cruéis envolvendo o assassinato da filha e destacou a importância de manifestações para auxiliar na prevenção de casos semelhantes. 



“A violência contra a mulher ocorre de forma reiterada. No caso da minha filha ela foi assassinada e o indivíduo simulou um suicídio. Graças a Deus, a Polícia Civil descobriu os elementos que provam de maneira muito clara que ela foi assassinada e a pessoa que a matou faltou com a verdade quando relatou o ocorrido. O que eu e minha mulher esperamos é que a justiça seja feita e que esse caso sirva de alerta para muitas outras mulheres que estão em relacionamentos abusivos e não percebem o perigo em que elas se encontram. É muito importante que isso seja divulgado e que outras mulheres fiquem alertadas para que tragédias assim não se repitam em outras famílias”, destacou Evandro, que, assim como dezenas de outros manifestantes, tinha o rosto de Carol estampado em uma camiseta laranja, cor escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para simbolizar a luta contra o feminicídio.