Amigos e familiares do fotógrafo mineiro desaparecido em Paris, na França, relatam sensação de impotência em relação ao caso. O consultor de empresas e professor de ética, Rafael Basso, informou que as imagens de câmera de segurança foram solicitadas, mas que a polícia francesa negou devido às leis nacionais. Natural de Belo Horizonte, Flávio de Castro, de 36 anos, está desaparecido desde o dia 26 de novembro.
“A gente se sente muito impotente diante de tudo isso. A gente tem distribuído cartazes, feito um trabalho artesanal, indo em comerciantes ver se tem câmera, mas a polícia tem meios para saber isso. A polícia tem formas de investigar, mas, para ela, é mais um caso corriqueiro, então a gente se sente totalmente impotente e invalidado também”, conta o professor.
O amigo, que também compartilha as informações do caso nas redes sociais, diz não saber mais como ajudar, pois, além dele, há apenas outros dois amigos em Paris cuidando do caso. De acordo com ele, esse não é um protocolo comum para a polícia francesa, pois eles respeitam muito a vida privada das pessoas e acreditam que se Flávio quis dar um tempo é um direito dele. Os amigos que estão em território parisiense devem ir novamente à delegacia em busca de novas informações.
Segundo Basso, a polícia fez uma varredura em hospitais, necrotérios, hospitais psiquiátricos e em abrigos, mas não encontraram Flávio. Os amigos foram informados que a polícia não pode fazer mais nada no momento e que não vão disponibilizar as imagens do perímetro urbano da cidade, que poderiam ajudar na busca. A reportagem do Estado de Minas buscou contato com o Departamento de Informação e Relações Públicas das Forças Armadas da França, mas sem sucesso.
No Brasil, os familiares também seguem preocupados e desamparados. Conforme relatado pela prima do fotógrafo, Joyce Barbosa, a polícia francesa não considera uma investigação por enquanto e, por isso, não permite acesso às câmeras urbanas, nem à movimentação bancária de Flávio. Para a instituição francesa, apenas casos mais graves, como estupro e terrorismo, resultam em investigações.
“A gente só vai conseguir movimentar isso se o Itamaraty pedir uma investigação e pedir explicações para a polícia francesa. A embaixada entrou em contato com a família também e replicou na verdade a resposta da polícia que a gente recebeu aqui”, conta a servidora pública Joyce Barbosa.
Questionada sobre a contratação de algum advogado em Paris para cuidar do caso, Joyce negou a ação. A família, agora, espera as orientações formais da polícia e do Itamaraty, pois não sabem o que precisa ser realizado. Em nota, o Itamaraty informou ao Estado de Minas que o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Paris, tem conhecimento do caso, está em contato com as autoridades locais e presta assistência consular aos familiares do nacional. No entanto, não pode fornecer informações detalhadas sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros devido a Lei de Acesso à Informação e ao decreto 7.724/2012.
Desaparecimento
Segundo informações preliminares, Flávio desapareceu na última terça-feira (26/11) em Paris, mas teria caído no Rio Sena antes de sumir. Conforme Rafael Basso, o acidente ocorreu a poucos metros da beira do rio e próximo da Torre Eiffel horas antes do desaparecimento.
O professor contou ainda que, devido à queda, o amigo se internou no hospital Georges Pompidou, nas proximidades, no início da manhã, por volta das 6h, e deixou a unidade de saúde ao meio-dia. Ele alega ter tentado acesso às informações do prontuário médico, mas não conseguiu, segundo publicou a RFI.
O amigo disse também que entrou em contato com a agência que intermediou o aluguel do apartamento onde o amigo estava hospedado. A empresa, segundo diz, confirmou ter recebido a visita de Flávio, ainda com as roupas molhadas, a fim de garantir mais um dia de hospedagem.
Na sequência, segundo a família, "ao que tudo indica", ele retornou ao apartamento situado na Rua des La Reculette, no 13º distrito de Paris, e a partir de então cessou as respostas às mensagens e desapareceu. Amigos foram ao apartamento e recolheram os pertences de Flávio, incluindo seu passaporte.
Celular encontrado
Diante da falta de notícias, a mãe de Flávio passou a efetuar ligações insistentes para o celular do filho e, na madrugada do dia 28, um indivíduo desconhecido atendeu, mas não se comunicava em português. Ele então passou o telefone para um brasileiro chamado Denis, funcionário de um restaurante francês.
Denis conversou com a mãe de Flávio e esclareceu que o aparelho celular foi encontrado dentro de um vaso de plantas, por volta das 7h da manhã do dia 27, na entrada do restaurante.
Flávio chegou a Paris no dia 1º de novembro para assistir a um casamento, juntamente com Lucien Esteban, filho de franceses e sócio dele em uma empresa de fotografia, a Toujours, na capital mineira. Esteban retornou ao Brasil no dia 8, como já estava previsto, enquanto Flávio permaneceu em Paris.
O fotógrafo se define como um admirador da fotografia tradicional. Sua última publicação nas redes sociais ocorreu no dia 25 de novembro, um dia antes da data prevista para seu retorno ao Brasil. A imagem, em preto e branco, retrata Flávio com uma câmera antiga nas mãos, no Museu do Louvre, em Paris.
"Ele desaparece de um dia para outro, quando tudo estava previsto para ele voltar [ao Brasil]. Até meia-noite de segunda-feira (25), estava falando com clientes. A polícia acolheu o caso e desde então a gente vai lá e pede uma atualização. A luta nossa é para que eles abram a mala e abram o celular, e uma investigação para entender o que aconteceu", explicou Basso.
O que dizem as autoridades
Enquanto as buscas por Flávio prosseguem, seu sócio Lucien e sua prima Woiron se encarregam de gerenciar as informações, contatar as autoridades brasileiras e francesas, organizar documentos e administrar as contas da residência de Flávio, já que sua mãe reside no interior de Minas Gerais e necessita de apoio. Eles mencionaram que a polícia francesa ainda não estaria se dedicando ao caso com a devida atenção.
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A representação diplomática do Brasil na França informou por meio de nota que está a par do desaparecimento. "O Consulado-Geral do Brasil em Paris está acompanhando o caso, provendo à família a assistência consular cabível permitida pelos acordos internacionais assinados por Brasil e França e nos limites da legislação francesa".
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice