Última postagem de Flávio feita em suas redes sociais, no Museu do Louvre, em Paris -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Última postagem de Flávio feita em suas redes sociais, no Museu do Louvre, em Paris

crédito: Reprodução/Redes Sociais

A polícia francesa transferiu a denúncia do sumiço do fotógrafo mineiro Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, em Paris, para um departamento especializado na investigação de desaparecimentos. A informação é de Rafael Basso, consultor de empresas, professor de ética e amigo do fotógrafo, que vem sendo procurado por familiares e amigos desde o dia 26, data em que Flávio deveria ter embarcado em voo de volta para o Brasil. Segundo Basso, que também é mineiro e reside na capital francesa, o caso ganha agora um novo status. Com isso, deverá ser acompanhado de perto pelo Itamaraty. A expectativa dele é que a mala e o celular do amigo, encontrado em um vaso de plantas do lado de fora de um restaurante, possam ser abertos para facilitar as investigações.

 

"O que a gente espera é que o consulado nos acolha, para a gente poder abrir a mala em toda segurança e enviar o celular para a família, se for o caso, ou abrir o telefone, mas que isso seja feito de uma forma que respeite a vida privada do Flávio e que também não coloque a nossa segurança em risco", disse o professor. Basso, o também brasileiro Pablo Araújo, fotógrafo, e o francês Alex Gautier, estudante de moda, levaram os pertences do fotógrafo mineiro nesta segunda-feira (2/12) à delegacia do quinto distrito da capital francesa. Gautier é a última pessoa conhecida a ter falado com Flávio, pelo celular, na noite da última terça-feira. A polícia francesa não aceitou ficar com duas malas fechadas com senha e com o iPhone do brasileiro desaparecido.

 

“A polícia nos informou que o caso foi encaminhado para um departamento especializado em pessoas desaparecidas. Depois disso, a gente começou uma pressão para que a embaixada entrasse em contato. Conseguimos o contato do adido da Polícia Federal (PF), com quem trocamos mensagens. e recebemos, então, o protocolo que vai ser seguido daqui para frente para abertura das malas e entrega do celular", explicou Basso. "Eles falaram que é o tempo da brigada, o que não necessariamente é o tempo da família", acrescentou.

 

 

Um aviso de "desaparecimento inquietante", termo técnico usado na França, foi enviado a todos os hospitais e delegacias do país, como é praxe em casos assim. O Consulado-Geral do Brasil em Paris afirma que "mantém contato constante" com a família do brasileiro e com as autoridades francesas.

 

Estado de Minas entrou em contato com Itamaraty para verificar se houve alguma atualização no caso, mas não obteve nenhum detalhamento. “O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Paris, tem conhecimento do caso, está em contato com as autoridades locais e presta assistência consular aos familiares do nacional. Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações detalhadas sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”, disse, por meio de nota.


Duas malas de alumínio e o celular de Sousa estão com seus amigos desde quarta (27/11). O grupo estava no apartamento alugado por ele durante sua estadia na França, que começou em 1º de novembro. Sua volta para o Brasil, a princípio, deveria ter ocorrido em um voo da Latam no dia 26.

 

Foi Gautier quem alertou a família de Sousa sobre o desaparecimento, na noite do dia seguinte. Ele conheceu o fotógrafo durante a viagem e disse que o viu pessoalmente pela última vez no Bairro de Châtelet, por volta das 20h do dia 25.

 

"Ele me disse que ia fazer a mala e dar um último passeio noturno. Eu não quis incomodá-lo e deixei-o, porque fazer as malas é estressante. Entendi que ele não queria que eu fosse com ele e voltei para casa, moro com meus pais. Ele me mandou mensagens depois, dizendo que tinha passado uma superestadia comigo, que a viagem tinha sido inesquecível."

 

O voo de Flávio estava previsto para a tarde do dia 26, mas por volta das 12h, conta Gautier, o brasileiro enviou-lhe foto da pulseira da emergência do hospital Georges Pompidou, próximo das margens do Sena e da Torre Eiffel. Explicou que tinha caído no Rio Sena e ficado no hospital das 6h às 12h, com hipotermia. Nesse dia, a mínima em Paris foi de 8°C.

 

Gautier disse que, por pudor, não pediu mais detalhes sobre as circunstâncias do acidente. Sousa acrescentou, segundo ele, ter ido à agência imobiliária Check My Guest, onde alugou o apartamento, para prorrogar em uma noite sua estadia. Na agência, teriam emprestado a ele roupas secas. A última mensagem de Sousa, conta o francês, foi por volta das 19h30, dizendo que tinha descansado no apartamento, ia jantar e voltar a dormir.

 

Na quarta-feira, Gautier não recebeu resposta às mensagens enviadas ao fotógrafo mineiro. Alarmado, foi até o apartamento por volta das 18h, encontrou a luz acesa, mas ninguém para abrir a porta. Tentou a senha da entrada, mas ela já estava vencida. Ligou para a imobiliária, que afirmou que uma faxineira entrou no apartamento de manhã para fazer a limpeza e encontrou apenas as malas fechadas e itens de higiene.

 

A agência tentou contato no celular de Sousa. Atendeu um funcionário do bistrô Les Ondes, no 16º distrito de Paris, às margens do Sena e a apenas 1,5km do hospital onde ele estivera internado na véspera. O celular tinha sido encontrado em um vaso de flores do lado de fora.


Autorização para abertura


A mãe de Flávio escreveu de próprio punho uma carta autorizando a abertura das malas e o desbloqueio do celular do filho único. Isso não bastou, porém, para convencer a polícia francesa a atender o pedido. Ela é viúva e mora em Candeias (MG).

 

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Os últimos posts de Sousa no Instagram foram fotos de pontos turísticos de Paris, como a Pont Neuf e o Museu do Louvre, e em Amiens, cidade 160 km ao norte de Paris, na véspera do desaparecimento. Em Belo Horizonte, ele tem uma empresa de fotografia de eventos, a Toujours. Ele viajou a Paris com o sócio, Lucien Esteban, para fotografar um casamento de conhecidos. Esteban, que é filho de franceses, retornou a Belo Horizonte uma semana depois, e Sousa continuou na França.


*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice