Depois de nove dias, o paradeiro de Flávio Castro de Sousa, 36 anos, segue desconhecido. O fotógrafo mineiro, de Candeias, no Centro-Oeste de Minas Gerais, desembarcou em Paris em 1º de novembro para assistir a um casamento. Seu retorno para o Brasil deveria ter acontecido na tarde do dia 26 do mesmo mês. No entanto, caiu no Rio Sena, foi hospitalizado, recebeu alta e, desde então, não teria sido mais visto. O nome de Flávio foi incluído na lista de Difusão Amarela, “Yellow Notice”, da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e o caso tem sido acompanhado pela Polícia Federal brasileira.
O brasileiro foi até a França acompanhado de seu sócio, Lucien Esteban, que voltou para Belo Horizonte em 8 de novembro, como já estava previsto. No entanto, o fotógrafo permaneceu na capital francesa. Sua última publicação nas redes sociais ocorreu no dia 25 de novembro (uma foto dele mesmo, em preto e branco, com uma câmera antiga nas mãos, no Museu do Louvre), um dia antes da data prevista para seu voo.
Ainda em 25 de novembro, por volta das 20h, Sousa se despediu do amigo francês Alex Gautier, que conheceu no Instagram dias antes, no bairro de Châtelet. À Folha de São Paulo, ele afirmou que o brasileiro teria lhe dito que faria as malas e daria “um último passeio noturno”. No dia seguinte, conta Gautier, o brasileiro enviou-lhe uma foto da pulseira de emergência do hospital Georges Pompidou, dizendo que tinha caído no rio Sena e ficado no hospital das 6h às 12h, com hipotermia. Nesse dia, a mínima em Paris foi de 8°C. Gautier disse que, por pudor, não pediu mais detalhes sobre as circunstâncias da queda.
Logo depois, o fotógrafo avisou ao amigo que havia ido à agência imobiliária Check My Guest, onde alugou o apartamento, para prorrogar em uma noite sua estadia. Na agência, teriam emprestado a ele roupas secas. Ainda no dia 26, a última mensagem de Flávio, conforme o francês, foi por volta das 19h30, dizendo que tinha descansado no apartamento, ia jantar e voltar a dormir. Desde então não houve mais notícias sobre seu paradeiro.
Pertences
O celular de Flávio foi encontrado em um vaso de flores do lado de fora do bistrô Les Ondes, no 16º distrito de Paris, às margens do Sena e a apenas 1,5 km do hospital onde esteve internado. Além de Gautier, outros dois amigos do mineiro, Rafael Basso, professor de filosofia, e Pablo Araújo, fotógrafo, cuidam do recebimento de informações em Paris e acionam as autoridades brasileiras e francesas.
O grupo disse ter pedido acesso às imagens de câmeras, mas a polícia negou o pedido devido às leis nacionais. Além disso, a autoridade não considera o caso como uma investigação por enquanto e, por isso, não permite acesso às câmeras urbanas nem à movimentação bancária de Flávio.
Sete dias após o sumiço do fotógrafo, ontem (4/12), a polícia francesa transferiu a denúncia do desaparecimento de Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, para um departamento especializado na investigação de desaparecimentos, conforme informação de Rafael Basso. Com isso, o caso deverá ser acompanhado de perto pelo Itamaraty.
“Impotência”
Sem muitas notícias, família e amigos de Flávio relatam sensação de impotência em relação ao caso. Nessa segunda-feira (2/12), o professor Rafael Basso desabafou sobre como o caso estava sendo tratado pelas autoridades francesas. “A gente tem distribuído cartazes, feito um trabalho artesanal, indo em comerciantes ver se tem câmera, mas a polícia tem meios para saber isso. A polícia tem formas de investigar, mas, para ela, é mais um caso corriqueiro, então a gente se sente totalmente impotente e invalidado também”, disse.
O amigo, que também compartilha as informações do caso nas redes sociais, diz não saber mais como ajudar, pois, além dele, há apenas outros dois amigos em Paris cuidando do caso. De acordo com ele, esse não é um protocolo comum para a polícia francesa, pois eles respeitam muito a vida privada das pessoas e acreditam que se Flávio quis dar um tempo é um direito dele. Os amigos que estão em território parisiense devem ir novamente à delegacia em busca de novas informações.
Ainda segundo Basso, a polícia fez uma varredura em hospitais, necrotérios, hospitais psiquiátricos e em abrigos, mas não encontraram Flávio. No Brasil, os familiares também seguem preocupados e desamparados. Questionada sobre a contratação de algum advogado em Paris para cuidar do caso, Joyce Barbosa, prima do fotógrafo, negou a ação. “A gente só vai conseguir movimentar isso se o Itamaraty pedir uma investigação e pedir explicações para a polícia francesa. A embaixada entrou em contato com a família também e replicou, na verdade, a resposta da polícia que a gente recebeu aqui”.
*Estagiárias sob supervisão do subeditor Rafael Oliveira