Após quase duas semanas de desabastecimento, Belo Horizonte recebeu 1,9 mil doses da vacina monovalente contra a COVID-19. Disponível a partir desta sexta-feira (6/12) em 18 centros de saúde — dois por regional —, o quantitativo reduzido será destinado exclusivamente ao público infantil.
A medida, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), busca mitigar perdas de doses, já que o imunizante tem validade de apenas 19 horas depois da abertura do frasco. Os endereços dos centros de saúde estão disponíveis no site do Executivo municipal, que aguarda novos lotes para ampliar a distribuição e ampliar o acesso da população.
A prioridade agora são as crianças de 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias, desde que cumpram critérios como intervalo de três meses desde a última dose e ausência de sintomas de COVID-19 nos últimos 30 dias. Para se vacinar, as crianças devem estar acompanhadas de pais, mães ou responsáveis e apresentar documento de identificação com foto, CPF e cartão de vacina.
Desde maio deste ano, o Ministério da Saúde recomenda que pessoas dos grupos prioritários recebam uma dose anual da vacina monovalente contra a COVID-19. Em Belo Horizonte, porém, a cobertura vacinal está aquém do esperado: apenas 50,75% do público-alvo foi imunizado, enquanto a meta é 90%. Até o momento, mais de 130 mil doses já foram aplicadas.
O cenário é ainda mais preocupante entre crianças. Na faixa etária de 5 a 11 anos, apenas 18,49% receberam a dose monovalente. Entre os menores de 6 meses a 2 anos, a cobertura do esquema primário não chega a 3%. O público estimado para receber a proteção é de 76.042. No grupo de 3 a 4 anos, o índice sobe para 24,53%, mas ainda está longe do ideal.
Enquanto isso, os casos da doença continuam a crescer. Nos últimos 14 dias, BH registrou 480 novos casos de COVID-19, totalizando 10.941 diagnósticos em 2024. Cem pessoas morreram em decorrência da doença neste ano, sendo que 83 delas tinham 60 anos ou mais. Apesar disso, o secretário municipal de saúde, Danilo Borges, afirmou em coletiva de imprensa na quinta-feira (4/12) que a situação na capital mineira está "tranquila" e segue sob monitoramento diário.
Para o infectologista Leandro Curi, ex-integrante do extinto Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da Região Metropolitana de BH, a reposição tardia de vacinas preocupa menos que a adesão à vacinação. Ele ressalta as taxas vacinais de todos os imunizantes têm diminuído. “Algumas semanas de atraso, eventualmente meses, podem não representar necessariamente um aumento drástico de infecções”, disse em entrevista anterior ao Estado de Minas.
Cinco meses sem vacina contra catapora
Além do desabastecimento recorrente da vacina contra a COVID-19, BH enfrenta outro desafio: a falta da vacina contra a catapora. Sem reposição há cinco meses, a última remessa de 5 mil doses foi insuficiente para atender à demanda mensal de 6,5 mil doses.
“A gente gostaria de ter essas duas doses disponíveis na nossa rede, mas dependemos do repasse da Secretaria Estadual de Saúde, que monitora os números de Belo Horizonte, sabe que a gente já esgotou nossos estoques e sabe da nossa demanda. Agora nos resta aguardar e tomar outras medidas de proteção”, afirmou Borges à imprensa.
Essa ausência compromete a proteção infantil e aumenta o risco de surtos de varicela e complicações como o herpes-zóster. O “cobreiro”, como é conhecido, pode causar bolhas dolorosas, cicatrizes permanentes e até perda de visão ou audição. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 20% das pessoas que tiveram catapora desenvolvem herpes-zóster posteriormente.
O esquema vacinal contra a catapora prevê duas doses: a primeira, aos 15 meses, com a tetraviral (que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola), e a segunda, aos 4 anos, com a monovalente varicela. Sem a tetravalente, a imunização contra a varicela deveria ser realizada com a monovalente entre os 12 e 15 meses. Contudo, Minas Gerais não recebe a vacina tetraviral, o que deixa a imunização dependente da monovalente, agora indisponível.
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A Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG) confirmou que BH já esgotou seus estoques, mas não deu prazo para a reposição. Por sua vez, o Ministério da Saúde negou desabastecimento e atribuiu a redução no envio de doses a problemas com fornecedores internacionais.