Na semana em se comemorou o Dia Nacional do Samba, celebrado há 60 anos em 2 de dezembro, dois importantes passos foram dados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que pavimentam o caminho que transforma o gênero musical em patrimônio cultural do estado e do município.
Na quarta-feira (4/12), a PBH anunciou a oficialização do samba como patrimônio cultural da capital. Uma programação está marcada para este sábado (7/12) com a entrega do Inventário Participativo e o Dossiê de Registro de Samba que reconhecem o título. Ontem, o Iepha abriu para colaboração pública o Cadastro do Samba em Minas Gerais: Grupos, Coletivos e Expressões Associadas ao Samba.
O evento para entrega do Inventário Participativo e o Dossiê de Registro de Samba faz parte das comemorações dos 127 anos da capital mineira e contará com rodas de sambistas, apresentações de escolas de samba e blocos caricatos, além de um show da cantora Aline Calixto.
A celebração vai acontecer no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira/Cresan Mercado da Lagoinha. O documento que será apresentado no evento foi organizado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte e reconhece o samba como Patrimônio Cultural da cidade pela sua importância cultural e histórica.
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, a elaboração do documento surgiu de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura, a Fundação Municipal de Cultura e a Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Projeto República: Núcleo de Pesquisa, Documentação e Memória. O estudo teve como protagonistas os mestres e as mestras do samba e o Coletivo de Sambistas Mestre Conga, movimento criado em agosto de 2020, com o objetivo de organizar ações e projetos relacionados ao samba mineiro.
Para o sambista do Aglomerado da Serra, Dé Lucas, o reconhecimento do samba como patrimônio cultural do município traz evidência ao gênero. “É uma superdecisão. O samba é uma das modalidades culturais mais importantes do país. E nem todas as capitais brasileiras dão a devida evidência ao samba, como o Rio de Janeiro e São Paulo fazem. A decisão eleva o samba a um novo patamar e valoriza os intérpretes, os compositores e os músicos da modalidade em geral. O samba sempre foi colocado à margem da sociedade, e a transformação da nossa música em patrimônio cultural mudou essa visão”, afirma.
Já o sambista Dudu Pinheiro acredita que a oficialização municipal vai fomentar o samba e viabilizar que ele tenha mais reconhecimento em editais de valorização da cultura. “Essa oficialização joga luz nas pessoas que trabalham pela cultura popular e coloca em evidência quem faz a cidade ser o que ela é. O samba é muito mais que um estilo musical; ele também é parte da vida das pessoas, e Belo Horizonte conseguir esse reconhecimento oficial é muito importante. O samba é tradição, mas tornar o gênero patrimônio cultural traz mais relevância”, avalia.
‘PEDIDO RELEVANTE’
De acordo com o diretor de Proteção e Memória do Iepha, Adriano Maximiano, o processo para transformar o samba em patrimônio começou em janeiro deste ano por iniciativa da Escola de Samba Cidade Jardim, do Coletivo Mestre Conga e da Associação Velha Guarda da Faculdade do Samba de Belo Horizonte. As associações fizeram um pedido de registro, aprovado pelo Iepha em fevereiro.
Uma consulta pública para receber sugestões para o cadastro do samba em Minas e suas expressões associadas foi aberta. Essa fase foi encerrada na segunda passada (2/12). Segundo o Iepha, as contribuições recebidas, além de outras surgidas em reuniões com detentores ao longo do ano, desde a abertura do processo de registro estadual, em fevereiro, foram consolidadas, e o formulário do Cadastro do Samba em Minas Gerais foi aberto.
O cadastro vai funcionar nos moldes dos já existentes no Iepha, como os de banda de música; de fazedores de violas e violeiros; de presépios e lapinhas; de flautas tradicionais; de lugares de cozinha mineira no estado; de folias, entre outros.
MAPA POR REGIÕES
Adriano Maximiano explica que, com o cadastro, é possível mapear em quais locais dentro do Minas Gerais o gênero está. “Isso vai ajudar não só a entender onde está o samba, mas ajuda a gente a entender a importância dele, a relevância dele nas regiões de Minas Gerais, em quais regiões é mais presente, qual região é menos presente. Acima de tudo, nesse período que se inicia agora, vai haver muitos trabalhos e fóruns de escuta, de realização de inventários participativos, por exemplo, que é outra ferramenta, tudo para subsidiar a criação desse dossiê”, detalha, destacando que o dossiê é a última etapa.
Com o documento pronto, o Conselho Estadual do Patrimônio e Cultura (Conep) vai votar se o samba é patrimônio ou não de Minas. Segundo Maximiliano, o documento conta com vários capítulos, incluindo levantamento do valor histórico, valor artístico, cultural e relevância para a sociedade. O dossiê termina com um capítulo chamado Salvaguarda. “Salvaguarda são as ações de política pública necessárias para que esse bem não se acabe. O plano de salvaguarda é o que o Estado e a sociedade como um todo se comprometem a fazer para a preservação desse bem.” Uma das perguntas presentes no formulário questiona os desafios que essas pessoas passam para manter produzindo para a cultura.
De acordo com o Iepha, uma vez aberto o Cadastro do Samba em Minas Gerais: Grupos, Coletivos e Expressões Associadas ao Samba não tem data para terminar. “Os Cadastros do Patrimônio Cultural abertos para fins de patrimonialização por meio do instrumento do registro são de fluxo contínuo e permanecem abertos sem data estipulada para encerramento visando a compreensão dos bens culturais ao longo do processo de salvaguarda.”
BOM MOMENTO
O presidente da Escola de Samba Cidade Jardim, Alexandre Silva Costa, conhecido como Li, de 54 anos, participou das reuniões junto ao Iepha para construir o cadastro. O sambista acredita que tornar o samba Patrimônio Cultural fortalece o gênero. “A escola de samba foi criada para dar sociabilidade, representatividade ao povo negro, que foi liberto da escravidão. Com esse cadastro, as coisas mudam de patamar. É a legitimação social pela força do Estado”, aponta Li.
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Li é filho do criador da agremiação, que já se prepara para o carnaval do ano que vem. O sambista recebe a notícia da nova fase do processo em bom momento. De acordo com Li, a quadra onde a escola ensaia está em reforma. O espaço será reinaugurado no domingo, 15 de dezembro, no lançamento do samba enredo de 2025.
Já o presidente da Associação Velha Guarda da Faculdade do Samba de Belo Horizonte, Carlos Roberto da Silva, de 64, conta que, desde 1975, monta um acervo para construção do museu do samba em BH. “É uma importância muito grande fazer esse registro do samba, não só do samba mineiro. E fazer esse registro é essencial para nós, sambistas mineiros, termos a nossa história no cenário da cultura brasileira.”
O lançamento do formulário com construção pública aconteceu ontem, ao fim da exibição da 8ª Jornada Técnica de 2024 – Samba e Patrimônio Cultural, no canal do Iepha-MG no Youtube.
*Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz
Serviço
“Horizontes do Samba - Patrimônio Cultural BH”
Quando: Hoje (sábado)
Horário:. Das 11h às 22h
Onde: Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira/ Cresan Mercado da Lagoinha (Av. Pres. Antônio Carlos, 821 - Lagoinha).
Ingresso: Entrada gratuita, sem a necessidade da retirada de ingressos.
Classificação. Livre
Programação
11h - Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município para análise do dossiê de Registro e deliberação do Samba como Patrimônio da Cidade.
14h30 - de Samba com Mestras e Mestres
de Belo Horizonte
16h30 - Escola de Samba Unidos dos Guaranys encontra Escola de Samba Cidade Jardim e Blocos caricatos Leões da Lagoinha e Estivadores do Hawaí. Participação especial da Monarquia
do Samba.
17h30 - Samba da Calixto encontra Fran Januário e bloco Orisamba.
19h30 - Bloco Afro Fala Tambor encontra com o grupo Samba da Meia Noite.
Cadastro do Samba em Minas Gerais: Grupos, Coletivos e Expressões Associadas ao Samba
Formulário está disponível na página do Iepha na internet, no endereço www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/cadastros-do-patrimonio-imaterial
Os dados fornecidos serão tratados e protegidos de acordo com o disposto na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) com a finalidade de execução da política pública do patrimônio cultural.