Tempestade pode atingir BH até sábado -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Chuvas fortes em Belo Horizonte preocupa especialista

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicam que Belo Horizonte registrou o outubro mais chuvoso em 114 anos, com volume 162% superior à média histórica. Enquanto os moradores da capital ainda enfrentam os efeitos das inundações, a Prefeitura de Belo Horizonte revelou que foram investidos cerca de R$ 1 bilhão em obras para prevenção de desastres causados pela chuva, além de R$ 578 milhões em projetos de micro e macrodrenagem.

 

 

Todos os anos, Belo Horizonte lida com inundações e problemas decorrentes de temporais. Após 155 dias sem chuva, a capital sofreu com as consequências do aumento nas precipitações.


 

Segundo Alexandre Nagazawa, arquiteto e urbanista, e sócio fundador da BLOC Arquitetura Imobiliária, o clima apresentou uma dinâmica visivelmente alterada na última década. Além disso, a densidade populacional cresceu rapidamente, com moradores ocupando áreas sem planejamento urbano. “O planejamento não previa esse volume de água, as obras de infraestrutura de drenagem pluvial estavam previstas para um tipo de ocupação. Hoje, vemos que elas não suportam esse volume todo”, afirmou.

 

Alexandre Nagazawa, arquiteto, urbanista e sócio fundador da BLOC

Alexandre Nagazawa, arquiteto, urbanista e sócio fundador da BLOC

Divulgação BLOC Arquitetura

 

 

Nagazawa também explicou que a topografia de Belo Horizonte é bastante declivosa, naturalmente propensa a alagamentos e responsável pelo escoamento da água da chuva para as áreas urbanas mais baixas. No entanto, antes, as ruas e terrenos na região centro-sul, por exemplo, eram menos ocupadas e possuíam terrenos baldios, casas e jardins permeáveis. Isso tudo possibilitava um melhor escoamento da água da chuva. "A topografia permanece muito declivosa, mas agora, basicamente, totalmente impermeável", disse.

 

Para um futuro adaptado aos eventos climáticos extremos e com uma visão de cidade mais verde e eficiente, o arquiteto sugere a criação de grandes obras de infraestrutura, como bacias e parques com grandes lagoas de contenção. “Essas áreas vão combater as ilhas de calor, arrefecer o clima e melhorar a qualidade ambiental do bairro. Essas áreas são raras em Belo Horizonte, principalmente próximas à Avenida do Contorno", explicou.

 

 

A população também precisa ser educada, de acordo com Nagazawa, para entender seu papel na limpeza urbana. Além disso, para ele, a fiscalização de ocupações irregulares e obras ilegais, que recobrem áreas permeáveis, é fundamental. "Enquanto a população não se educar e não tiver consciência desses problemas, e começar a cobrar por um projeto de Estado que combata o problema climático, com obras que realmente enfrentem, em sistemas integrados, toda essa questão dos alagamentos, nada vai ser feito", destaca.


 

Para além da população, o arquiteto acredita que os gestores públicos, prefeitos, vereadores e todos os agentes envolvidos devem trabalhar com projetos de infraestrutura eficazes e rápidos. "Em paralelo, deveria ser feito um trabalho também junto da legislação urbanística para premiar ações que vão de encontro à sustentabilidade, à preservação de áreas permeáveis, bolsões verdes dentro da cidade", afirma.

 

Alexandre Nagazawa também trouxe uma reflexão sobre o quanto as discussões climáticas são levadas a sério no país: "Eu que trabalho com o mercado imobiliário, em várias discussões tem gente que acha ruim a Área de Preservação Permanente (APP), acha bobagem, proteger nascentes. São pessoas viajadas que vão para fora, têm capacidade de ver ótimos exemplos, mas quando chegam aqui não levam o Brasil a sério".

 

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Por último, o sócio fundador da BLOC criticou: "Aqui pode tudo, aqui pode destruir vegetação, pode deixar a cidade toda pelada sem árvore nenhuma, pode destruir nascente, pode ocupar a área de APP, pode jogar lixo na rua, que aqui está tudo bem. Então, assim, é uma crítica, realmente, à educação da nossa sociedade com relação ao tema do meio ambiente".

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Fernanda Borges