Locomotiva e vagões do futuro trem Rio-Minas, que tem previsão de entrar em operação no primeiro semestre de 2025. Trecho Três Rios-Sapucaia (RJ), passando por Chiador (MG) -  (crédito: Oscip Amigos do trem/Divulgação)

Locomotiva e vagões do futuro trem Rio-Minas, que tem previsão de entrar em operação no primeiro semestre de 2025. Trecho Três Rios-Sapucaia (RJ), passando por Chiador (MG)

crédito: Oscip Amigos do trem/Divulgação

Após nove anos de espera, mineiros e fluminenses terão, finalmente, um novo transporte de passageiros. Está previsto para entrar nos trilhos, no primeiro semestre de 2025, o trem turístico Rio-Minas, que vai circular entre Três Rios e Sapucaia, ambas no Rio de Janeiro, passando por Chiador, na Zona da Mata mineira, onde fica a primeira estação ferroviária das Gerais, agora em fase adiantada de restauração. No total, serão 36 quilômetros de um trecho com belas paisagens, fazendas centenárias e patrimônio cultural precioso. “Estamos muito satisfeitos, esperamos muito por esse dia. Essa etapa foi decisiva”, comemora a presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Amigos do Trem, Cyntia Nascimento.

 

Na quarta-feira (11/12), foi firmado na sede do Ministério dos Transportes, em Brasília (DF), um acordo entre a VLI (companhia de soluções logísticas que opera ferrovias, portos e terminais) e a Amigos do Trem. Em nota, a companhia informou que a assinatura do Contrato Operacional Específico (COE), que regula a possibilidade de operação de um trem de passageiros conectando as cidades de Três Rios e Sapucaia (RJ), possibilita uma nova rota turística sobre trilhos no país, a ser operada e administrada pela Amigos do Trem”. Após a assinatura, o COE será encaminhado à Agência Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), responsável pela análise e autorização da operação.

 

Para viabilizar todo o processo, a companhia investiu cerca de R$ 40 milhões na malha férrea, além de ceder gratuitamente quatro locomotivas para a Amigos do Trem. “A assinatura representa o entendimento entre VLI e a Amigos do Trem quanto a obrigações e responsabilidades operacionais; entrará em vigor após a expressa autorização da ANTT para o transporte de passageiros com finalidade turística e histórico-cultural, nos termos da Resolução ANTT 5975/2022”, afirma o CEO da VLI, Fábio Marchiori.

 

 

 

A devolução de trechos não operacionais prevista na proposta de renovação antecipada da Ferrovia Centro-Atlântica poderá originar novas possibilidades de operação similares, uma vez que a concessão é vocacionada para o transporte de carga geral”, acrescenta Marchiori.

 

Para a viabilização operacional do COE pela Amigos do Trem, a VLI cedeu gratuitamente quatro locomotivas, uma oficina ferroviária em Recreio, na Zona da Mata, pátios e linhas de manobra, bem como a recuperação da via permanente do trecho, com a substituição de 5 mil dormentes, dentre outros itens. Os vagões que farão o transporte de passageiros integram o acervo da Amigos do Trem e serão transportados pela VLI até a cidade de Três Rios, em um prazo de 120 dias contados a partir da assinatura do COE.

 

 

Novo capítulo

 

O percurso do trem de passageiros tem extensão total de 36 quilômetros, sendo considerado promissor do ponto de vista turístico em razão da relevância histórica da região de Três Rios e Sapucaia, que reúne ainda paisagens naturais e se encontra nas proximidades de outros centros urbanos. “Precisaremos, a partir de agora, de participação, com recursos, das prefeituras dos três municípios (Três Rios, Sapucaia e Chiador, esse na Zona da Mata mineira), para fazer a manutenção dos carros e outras ações fundamentais”, destaca Cyntia. No total, serão transportados, em cada viagem, 1.014 passageiros ou 78 em cada um dos 13 vagões.

 

Na assinatura do acordo, a presidente da Oscip agradeceu à VLI por contribuir para que o projeto, dentro de toda a sua complexidade, se tornasse realidade, bem como o empenho de municípios, empresas e demais entes públicos, além de voluntários da Amigos do Trem e todos aqueles que já passaram pela nossa história. “É uma grande satisfação participar da construção de um novo capítulo do turismo ferroviário no Brasil”.Este será o primeiro trem turístico interestadual do Sudeste do país. “A partir da autorização da ANTT, a Amigos do Trem passará a ser o operador ferroviário do trecho. Teremos total autonomia”, observa Cyntia.

 

 

A Amigos do Trem foi criada há 26 anos pelo mineiro de Juiz de Fora (Zona da Mata), Paulo Henrique do Nascimento, que faleceu em novembro de 2018 e dedicou décadas para estruturar as bases do projeto e colocar em práticas suas ideias. O projeto concebido por ele percorreria 168 quilômetros, nos fins de semana e feriados. No roteiro, estavam Cataguases, Leopoldina, Recreio, Volta Grande e Além Paraíba, na Zona da Mata, Sapucaia (RJ), Chiador e Três Rios (RJ). Trata-se do antigo ramal ferroviário Leopoldina.

 

Desde a mobilização para colocar o trem turístico nos trilhos, o EM vem documentando o caso. No último dia 28, a coluna “Nossa História/Nosso Patrimônio” mostrou o andamento das obras de restauro da estação de Chiador, a primeira de Minas, inaugurada, em 1869, pelo imperador dom Pedro II (1825–1891), por onde passará o trem turístico. O imóvel histórico, antes em ruínas, tem obras patrocinadas pela Eletrobras.

 

 

A chegada da estrada de ferro a Chiador propiciou o intercâmbio com outras localidades, inclusive o litoral, e promoveu o surgimento das indústrias de laticínio e cerâmica. O intenso comércio com o Rio de Janeiro garantiu o crescimento do povoado, que, em 1880, se tornou distrito de Mar de Espanha.

 

Memória


Em 19 de maio de 2018, a pacata cidade de Recreio viveu um momento histórico. Bem cedo, veio gente de todo lado para ver a partida do trem Rio-Minas, que, naquele dia, fazia uma viagem-teste em direção a Cataguases, em um trajeto de 60 quilômetros. A equipe do Estado de Minas estava presente e postou um vídeo que viralizou na internet.

 

 

 

Tendo à frente Paulo Henrique do Nascimento, idealizador do projeto e falecido em novembro daquele ano, a viagem envolveu 15 pessoas, sendo sete a bordo e oito de carro, munidos de rádios de comunicação para fazer acompanhamento. Naquela viagem-teste, os passageiros ficaram de fora, apenas acenando de longe para o trem que trafegava em velocidade baixa (3 a 5 km/h) com duas locomotivas e três vagões.