Fiéis foram às ruas de Santa Luzia no primeiro dia da programação especial dos 280 anos do jubileu em louvor à padroeira da cidade -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Fiéis foram às ruas de Santa Luzia no primeiro dia da programação especial dos 280 anos do jubileu em louvor à padroeira da cidade

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

A imagem de Santa Luzia sai em procissão, na noite desta sexta-feira (13), pelas ruas da cidade que leva seu nome, acompanhada de uma multidão de fiéis e de um clima de grande alegria para saudar a padroeira e protetora da visão. Com público estimado em 50 mil pessoas – de hoje até domingo (15), Dia dos Romeiros –, Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), celebra a data com missas, bênçãos e cortejos com banda de música. Não faltam também as tradicionais barraquinhas, incluindo um espaço gourmet com alimentos típicos.

 

Desta vez, a festa no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia brilha ainda mais, unindo religiosidade popular e resultando em um grande espetáculo de fé. São comemorados os 280 anos do templo localizado na Praça da Matriz, no Centro Histórico, e o jubileu da padroeira. Ao longo do trajeto da procissão luminosa (Rua Direita, Largo do Bonfim, Rua Floriano Peixoto e Serro), as casas estão enfeitadas com bandeiras, toalhas, flores e velas. O som é das bandas de música Geraldo de Brito e Estrela de São João.

 

 

"Completamos 280 anos da paróquia e do jubileu. Portanto, estes dias são festivos. A devoção a Santa Luzia é muito anterior à criação da paróquia, que pertencia à de Roça Grande, em Sabará. A partir de 1744, no antigo Arraial do Bom Retiro, nossa paróquia começou sua vida própria”, disse o reitor do Santuário de Santa Luzia, padre Felipe Lemos de Queirós.

 

 

Padre Felipe contou ainda que, para receber bem os visitantes, foi inaugurada parte da Casa dos Romeiros, ao lado do santuário. O imóvel, da década de 1930, foi restaurado pela paróquia para abrigar também um museu, uma loja de objetos religiosos, banheiros e outros serviços.

 

À frente do andor, decorado com muitas flores, seguiu, no cortejo, que saiu às 19h, uma jovem representando Santa Luzia. Ao lado, um grupo vestido de anjos.

 

 

Devoção e cura

 

A primeira missa deste 13 de dezembro foi celebrada à meia-noite, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Nivaldo dos Santos Ferreira, com a execução das músicas de José Maria Lopes, compositor luziense que viveu no século 19. Participaram da celebração eucarística os festeiros dos últimos 13 anos.

 

Durante o dia, moradores e romeiros de várias cidades da RMBH estiveram no Santuário Santa Luzia para pedir graças, agradecer bênçãos alcançadas e fortalecer sua crença.

 

O engenheiro Tony Dornelas veio do município vizinho de Lagoa Santa acompanhado da mulher, Maria Reis, contadora, e dos filhos Maria Luiza, de 10 anos, e Davi, de 2. Esta é sua primeira vez na cidade. "Vim agradecer pela cura de uma doença nos olhos. Agradeço a Santa Luzia", contou Tony. Livre de um acúmulo de líquido sob a retina, o engenheiro garantiu, na fila para beijar a fita da imagem: "Esta santa é boa!".

 

As bênçãos de Deus, por intercessão de Santa Luzia, levaram à cidade a moradora de Venda Nova, em BH, Estefânia Rocha. Ao visitar a Sala dos Milagres, ela contou que sonhou com Santa Luzia na noite anterior. Curiosamente, na manhã desta sexta-feira, recebeu o telefonema da filha lhe chamando para ir à cidade. "Como não vir agradecer tantas graças alcançadas?", perguntou Estefânia.

 

Diante do altar, três moradoras de Santa Luzia renovaram sua fé e os pedidos de graças. "Fazemos isso todos os anos. Pedimos a luz para os olhos e também para a visão espiritual de todos", disse Solange Loureiro, professora, ao lado da filha Mariana Carneiro Loureiro, de 28 anos, jornalista, e da irmã Simone Carneiro.

 

De joelhos, o pedreiro aposentado Joaquim Nicolau Nunes lembrou que a festa de Santa Luzia é uma tradição, e comparece à procissão a cada 13 de dezembro.

 

 

Templo de fé

 

Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), o Santuário Santa Luzia é considerado um dos templos católicos mais seguros do estado, dispondo de um moderno sistema de vigilância. Tornou-se também símbolo das campanhas de bens culturais devido ao resgate, em 2003, de três anjos barrocos que iriam a leilão no Rio de Janeiro (RJ). As peças sacras podem ser contempladas na nave: dois ladeando a tarja do arco-cruzeiro e outro, o do sepulcro, no coroamento do altar de Nosso Senhor dos Passos.

 

Quando a paróquia foi criada, ainda não existia a Arquidiocese de Mariana (de 1745), a primeira de Minas e sexta do país. Assim, o bispo do Rio de Janeiro, dom Frei João da Cruz, criou a Paróquia Santa Luzia, que passou a pertencer a Mariana. Muito depois, em 1921, ela começou a fazer parte territorialmente da então instalada Arquidiocese de BH. A capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, formando-se no entorno um rancho para tropeiros que chegavam da Bahia a fim de abastecer a região das minas de ouro. No início, quando era capela, a edificação ficava de frente para a Rua do Serro. Ao se tornar igreja, ficou virada para a Rua Direita, como está hoje.

 

A história se completa com informações contidas no Inventário do Patrimônio Cultural da Arquidiocese de BH/PUC Minas. Entre 1721 e 1729, a capela foi ampliada por iniciativa do capitão-mor João Ferreira dos Santos e de outros pioneiros, com apoio do padre Lourenço de Valadares Vieira, vigário de Sabará. Assim, o templo se tornou capela filial da Freguesia de Santo Antônio de Roça Grande, pois Santa Luzia estava vinculada à Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.

 

Mas nem tudo foi tranquilo nos primórdios da paróquia criada em 19 de novembro de 1744. A população de Roça Grande, por perder a posição da sede, foi se queixar ao bispo. Relatos do cônego Raimundo Trindade, autor de “Instituições de igrejas no bispado de Mariana”, mostram que a transferência foi anulada pelo desembargador do Paço da Bahia e só regularizada bem mais tarde, em 29 de fevereiro de 1780, por meio de ordem régia.

 

De 1744 a 1778, a pequena construção sofreu alterações, tendo contribuído nos serviços o sargento-mor Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento à cura da visão. Os elementos artísticos do interior do santuário saltam aos olhos. “Além da excepcional qualidade do entalhe da segunda fase do barroco (estilo dom João V), a igreja apresenta o requinte do rococó e a linguagem despretensiosa dos padrões neoclássicos”, explica a historiadora Elizabete Tófani. Ao longo dos séculos 19 e 20, houve intervenções arquitetônicas e artísticas, algumas alterando a fachada original, outras promovendo a conservação.

 

 

Cortejo carrega a imagem de Santa Luzia, padroeira da cidade

Cortejo carrega a imagem de Santa Luzia, padroeira da cidade

Túlio Santos/EM/D.A Press

 

História de luz

 

Um painel de grandes proporções, esculpido pelo padre Mário José Neto, pode ser visto, nestes dias do jubileu, perto do altar-mor do santuário. Ele ilustra a história de Santa Luzia, palavra que vem do latim, significando “portadora da luz” e que, para os fiéis católicos, é o nome da protetora dos olhos.

 

Nascida em Siracusa, na Itália, no ano de 304, Santa Luzia pertencia a uma família rica, da qual recebeu formação cristã, a ponto de ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Porém, com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família. O rapaz era pagão.

 

Ao pedir um período para analisar o casamento e tendo a mãe gravemente enferma, Santa Luzia propôs à mãe que fossem em romaria ao túmulo da mártir Santa Águeda, e que a cura da grave doença seria a confirmação do “não” para o casamento. Reza a tradição que, milagrosamente, foi o que ocorreu com a chegada das peregrinas e, assim, Santa Luzia voltou para Siracusa com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimentos pelos quais passaria, a exemplo de Santa Águeda.

 

Santa Luzia vendeu tudo o que tinha, deu aos pobres, e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Não querendo oferecer sacrifício aos falsos deuses nem quebrar seu voto, ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Conta-se que, antes de sua morte, arrancaram-lhe os olhos. Assim, Santa Luzia é reconhecida pela vida que levou por Jesus até as últimas consequências.

 

O prefeito da cidade, Pascásio, quis levar à desonra a virgem cristã, mas não conseguiu. Nem as chamas do fogo, às quais foi exposta, nem a espada que acabou com sua vida.

 

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Serviço

 

Jubileu de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Grande BH

 

  • Sábado (14), às 19h30 – Missa solene presidida pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo

 

  • Domingo dos Romeiros (15) – Missas na Tenda da Fé, atrás do santuário, às 7h, 9h, 11h (seguida de procissão), 14h e 16h (seguida de procissão). Às 19h30, haverá Missa Solene de Encerramento, presidida pelo bispo auxiliar dom José Otácio Oliveira Guedes.