Belo Horizonte ocupa o 6º lugar no ranking das capitais brasileiras com maior prevalência de consumo abusivo de álcool na população adulta. O dado é do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa), que realizou uma pesquisa entre 2010 e 2023 sobre dependência e saúde dos brasileiros.
No primeiro ano do estudo, a capital mineira apresentou uma prevalência de 20,9%. Em 2023, considerando os 30 dias anteriores à pesquisa, BH registrou 22,4%. Salvador lidera o ranking, com 28,9%, seguida pelo Distrito Federal (25,8%) e Cuiabá (24,5%). Manaus, por outro lado, apresentou a menor frequência, com uma redução de 4,8 pontos percentuais ao longo dos 13 anos analisados, passando de 17,4% para 12,6%.
Essa prevalência é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Beber Pesado Episódico (BPE), equivalente ao consumo de 60g ou mais de álcool puro (cerca de quatro doses ou mais no Brasil) em pelo menos uma ocasião no último mês.
O clínico-geral Wesley Medeiros afirma que, entre os fatores que levam ao consumo elevado de álcool, estão questões culturais e sociais. Ele destaca os principais: “Fácil acesso, por ser uma droga lícita e barata; questões culturais, como beber socialmente, que talvez seja a principal porta de entrada; além de questões sociais, como menor acesso à educação, cultura, emprego, segurança e estrutura familiar. Quanto menores essas condições, maior é a chance de problemas com o álcool”, explica.
De acordo com o Cisa, esse comportamento está associado a um maior risco de prejuízos imediatos, como amnésia alcoólica, quedas, envolvimento em brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido e intoxicação alcoólica. Quando frequente, o BPE pode intensificar o impacto negativo do álcool em diversos órgãos e sistemas, especialmente no trato gastrointestinal, fígado, pâncreas, sistema nervoso e sistema cardiovascular.
Saúde pública
O clínico-geral também aponta que o uso excessivo de bebidas alcoólicas representa um problema de saúde pública. “O álcool é cardiotóxico, neurotóxico e afeta gravemente o sistema gástrico, principalmente o fígado. Pode estar intimamente relacionado a doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade, entre outras”, alerta.
“Além de impactar a saúde, o consumo excessivo afeta questões sociais, como o aumento da criminalidade, violência doméstica e acidentes de trânsito. De forma geral, o álcool traz grandes malefícios à saúde como um todo”, prossegue.
Em consonância, o médico de família e comunidade e cooperado da Unimed-BH, Artur Oliveira Mendes, ressalta que a bebida está profundamente arraigada na sociedade, mas que é necessário controle e consciência sobre o uso. “Precisamos superar a ideia de que o álcool é indispensável nas celebrações e começar a valorizar uma boa saúde, além de cultivar momentos de entrosamento sem esse ‘lubrificante’ social, porque ele ainda é uma droga e precisamos ter atenção em relação a isso”, conclui.
Internações
Entre os impactos negativos do consumo nocivo de álcool estão as hospitalizações e os óbitos decorrentes de doenças e agravos associados ao uso abusivo. De acordo com a pesquisa do Centro, Minas Gerais ocupou o 4º lugar entre os estados com internações atribuíveis ao álcool em 2023. A taxa registrada no estado foi de 36,5 por 100 mil habitantes. As taxas mais altas foram no Paraná (65,3) e no Rio Grande do Sul (69,9).
Saiba quais são as principais doenças
As principais doenças relacionadas ao consumo elevado de álcool afetam o sistema gastrointestinal, como pancreatite e cirrose hepática. Outros sistemas também sofrem os malefícios, como o sistema nervoso central e periférico (demência, neuropatias, depressão, entre outros) e o sistema cardiovascular (cardiomiopatia alcoólica), condição que pode levar à insuficiência cardíaca.
Além de ser causa direta, o álcool tem um grande potencial para agravar doenças já pré-existentes, como diabetes e hipertensão. Também é um fator de risco para diversos tipos de câncer.
Uma morte a cada quatro horas
O estudo da Cisa também revela que, no Brasil, uma pessoa com mais de 55 anos morre a cada quatro horas vítima do consumo abusivo de álcool. Os motivos são as doenças decorrentes da dependência, como cirrose, outras complicações hepáticas, hipertensão e problemas de saúde mental relacionados a esse consumo.
Com base em informações do Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial da Saúde), o estudo mostra que as demais faixas etárias mantiveram índices estáveis na última década. A faixa acima dos 55 anos foi a única a apresentar aumento, passando de 22% para 35% do total de internações atribuídas ao álcool que resultaram em morte nos últimos dez anos.
Em comparação, a população de 18 a 34 anos demonstrou queda, passando de 17,1% das internações atribuídas ao álcool que levaram à morte em 2010 para 11,8% em 2023, último ano do levantamento.
Embora a população acima de 55 anos registre o maior número de mortes relacionadas ao consumo abusivo de álcool, ela não é a maior consumidora desse tipo de bebida. Em 2023, a prevalência de consumo nessa faixa etária foi de 8,6%, enquanto entre pessoas de 18 a 34 anos atingiu 26,9% e 22,9% entre a população de 35 a 54 anos.
O Estado de Minas procurou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e a Secretaria Municipal de Saúde para obter detalhes sobre os dados de óbitos e internações em Minas Gerais e BH devido a doenças decorrentes do uso excessivo de álcool, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.