O projeto surgiu em Belo Horizonte, e isso muita gente não sabe

O projeto surgiu em Belo Horizonte, e isso muita gente não sabe", explicou Wanderley Venturini, de 62 anos, que trabalhou por 40 anos nos Correios

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

Todos os anos, a magia do Natal ganha vida por meio das cartinhas escritas por crianças que sonham em ter um fim de ano especial. Em Minas Gerais, a tradicional campanha Papai Noel dos Correios é responsável por recolher esses pedidos e conectá-los a padrinhos dispostos a transformar sonhos em realidade.

 


Desde sua criação, a iniciativa tem mobilizado famílias, empresas e comunidades, promovendo a solidariedade e o espírito natalino. Crianças em situação de vulnerabilidade social escrevem cartinhas direcionadas ao "Papai Noel" com pedidos que vão desde brinquedos simples, roupas e materiais escolares a itens mais simbólicos. As cartas são recebidas pelas agências dos Correios, onde ficam à disposição de padrinhos que se dispõem a adotá-las.

 


Ideia nasceu em BH

“O projeto surgiu em Belo Horizonte, e isso muita gente não sabe”, explicou Wanderley Venturini, de 62 anos, que trabalhou por 40 anos nos Correios, sendo quatro deles dedicados à coordenação da campanha. Mesmo após a aposentadoria, ele continua envolvido em entregas de presentes natalinos.

 

 

Venturini relembrou que tudo começou em 1989, há exatos 35 anos, quando alguns trabalhadores de uma unidade no centro da cidade começaram a se sensibilizar com as inúmeras cartas para o “Papai Noel” que a instituição recebia no período do fim do ano. “As que mais chamavam a atenção eram as de crianças em situação de vulnerabilidade social, que às vezes pediam comida, material escolar ou coisas para os pais”, relembrou.

 

E desde 2010, os alunos de escolas públicas são convidados a também expressarem seus desejos ao Papai Noel. Como é o caso dos alunos da Escola Municipal Ignácio Alves Martins, em Esmeraldas. “Muitas vezes não conseguimos proporcionar o presente que nossos filhos desejam, é emocionante e tocante ver meu filho escrever sua cartinha com tanto carinho e esperança", declarou a servidora pública Morgana Diniz, mãe do Arthur, de 6 anos, aluno do colégio, que pediu um avião de brinquedo.

 

 

O processo de escrita das cartinhas, muitas vezes recheado de ansiedade e inocência, revela a pureza e a esperança das crianças atendidas. Foi o caso do Lukas, 10 anos, filho da Wanderleia Luciana Costa: “A campanha é importante e traz alegria para o meu filho. Ele ficou tão animado que colocou até a numeração do calçado errado”.

 

Já a dona de casa Keila Souza contou que a Mel, sua filha de 9 anos, ficou muito animada e esperançosa ao escrever as cartinhas: “Ela pediu material escolar e um kit de slime. Foi muito bom acompanhar a expectativa dela. Fez a alegria das crianças numa época muito importante para todos”.

 

 

Histórias emocionantes

 

Wanderley Venturini relembrou inúmeras histórias emocionantes atreladas à campanha. “Muitas dessas crianças vão receber o único presente legal do ano. Elas recebem a gente gritando, cantando e batendo palma. Uma menina de 7 anos, uma vez, escreveu um bilhete e me entregou: ‘obrigado por lembrar de nós’. Você imagina que triste uma criança se sentir esquecida?”, contou com a voz embargada.

 

Às vezes, até o Papai Noel se emociona diante das situações que encontra. Wanderley relembrou uma história em que uma menina de cinco anos que, mesmo com febre alta, insistiu em participar da festa para receber seu presente. "Ela estava quase desfalecida no colo da professora, mas na hora em que anunciei o nome dela, ela se levantou correndo, pegou o brinquedo e abraçou o Papai Noel. Parecia que ela tinha sarado naquele instante", conta Wanderley. O amigo, que estava fantasiado de Papai Noel não conteve as lágrimas. "Quando olhei para trás, vi que o Papai Noel estava chorando. Brinquei com ele: 'Papai Noel não chora, Vinicius'. Mas ele me contou depois que não resistiu ao saber que a menina estava doente e, mesmo assim, quis esperar o presente".

 

Ciclo de solidariedade

 

Pensar na família antes de si mesmo também foi uma realidade para a pesquisadora Luiza de Melo, 21. Quando criança, ela escreveu uma cartinha para o projeto: “Minha mãe pediu pra eu escrever: material escolar, mochila e boneca. Mas a minha professora pediu que eu riscasse dois, acabei pedindo só uma boneca. No final, ganhei tudo que eu queria”.

 

Luiza contou que a mãe ficou surpresa e ela sentiu que ainda existia esperança no mundo. Foi com esse sentimento que a pesquisadora resolveu dar continuidade ao ciclo de solidariedade. Atualmente, ela apadrinha crianças da Campanha no Natal: “Dar presente para alguém que você conhece é especial, mas alguém que você não conhece e que precisa de coisas básicas é ainda mais gratificante. Fica o sentimento de fazer a diferença”, finalizou.


Muito mais que brinquedos

 

Das inúmeras histórias contadas por Venturini, muitas revelavam a dura realidade vivida por muitas famílias, que obrigam crianças a deixar de pedir brinquedos e presentes tradicionais para solicitar itens básicos para parentes, como alimentos, roupas e material escolar, que acabam prevalecendo sobre os desejos infantis.

 

Venturini lembra ainda uma carta que ficou marcada: "O menino queria mesmo uma piscina, mas quando descobrimos, ele havia pedido uma pomada para a avó, que estava internada. Ele pensou nela antes de si mesmo". O ex-coordenador da campanha contou que os Correios também recebem muitos pedidos com aparelhos ortopédicos e até cartas de denúncia de violência, que são enviadas aos órgãos competentes.

 

A simplicidade de um pedido emocionou ainda mais Wanderley. "Uma vez, um menino pediu bichinhos de zoológico dentro de um cercado. Mas ele escreveu: 'se não der, eu me contento com um pedaço de pudim'. No encerramento da campanha, ele recebeu os bichinhos e também o pudim", conta Venturini. A história não parou por aí: o garoto foi convidado a participar de um programa de culinária na TV local, onde ele mesmo preparou a sobremesa, transformando o momento em uma lembrança inesquecível.

 

Para Wanderley Venturini, que mesmo após sua aposentadoria seguiu empenhado em levar alegria ao Natal dos pequenos, entregando presentes e levando música para escolas e creches, o que realmente o motiva é a reação de pais e filhos ao verem seus pedidos atendidos: "Ver a reação desses pais e crianças é motivador. Uma ação social, por menor que seja, vai ser tudo para alguém. Nada é insignificante". Para Wanderley, no Natal a mensagem que fica é que, os gestos, por mais simples que possam parecer, têm um impacto profundo na vida daqueles que mais precisam de esperança e apoio.

 

Para o coordenador regional de negócios dos Correios de Minas Gerais, Fabrício Ângelo de Oliveira, é gratificante para uma empresa pública abraçar essa causa social: “O projeto está fazendo 35 anos, estamos com mais de 300 voluntários, para nós é um orgulho atender essas crianças”.

 

Segundo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), no ano passado, em todo o Estado, foram cerca de 30 mil cartinhas. Em Belo Horizonte, foram cerca de 8.500, e 100% dos pedidos foram atendidos. Já em 2024, em todo o Estado, foram cerca de 56 mil cartinhas. Em Belo Horizonte, foram cerca 15 mil. E a expectativa é de que , novamente, todas as cartinhas sejam atendidas.

 

Fabrício de Oliveira finalizou reforçando a importância de que os padrinhos entreguem com rapidez os presentes. “O fim do ano já é normalmente agitado para a empresa, é uma época onde o tráfego postal dobra. Para ajudar a viabilizar as entregas antes do Natal, é importante que as pessoas se preocupem em entregar os presentes dentro do prazo”.

 

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Como ajudar?

 

Para participar da campanha basta visitar uma agência dos Correios participante ou acessar o site oficial da iniciativa, onde as cartinhas também podem ser encontradas de forma digital. Depois de escolher uma cartinha, o padrinho deve comprar o presente solicitado e levá-lo na própria agência, que se encarrega de fazer a entrega ao destinatário.

 

Nem todas as agências dos Correios disponibilizam cartinhas físicas para adoção. A lista com as agências participantes e os prazos para adoção e entrega de presentes, que variam por estado, podem ser conferidos no site dos Correios (www.correios.com.br).

 

*Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco