A estrada federal na altura de São Domingos do Prata, um dos trechos que mais concentram desastres entre dezembro e janeiro na ligação de BH com o Espírito Santo -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A estrada federal na altura de São Domingos do Prata, um dos trechos que mais concentram desastres entre dezembro e janeiro na ligação de BH com o Espírito Santo

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Para quem segue de Minas Gerais em direção ao Espírito Santo, vencidos os riscos da Rodovia da Morte – a BR-381 entre Belo Horizonte e João Monlevade – a BR-262 rumo ao litoral revela novos desafios: falta de conservação do pavimento, histórico de quedas de barreiras e muitos acidentes. Mas é depois da rodovia em Minas Gerais que o perigo pode se tornar ainda maior, uma vez que mesmo em condições ruins, o trecho mineiro, com 11 mortes nos recessos de dezembro e janeiro, se mostra menos violento do que o capixaba, com 18 vítimas, como mostra levantamento da reportagem do Estado de Minas considerando o período de 20 de dezembro a 31 de janeiro em cinco anos, de 2019 a 2023.

 


Já no sentido oposto da BR-262, rumo ao Triângulo Mineiro, onde há pedágio e conservação, o motorista se expõe a menos riscos, ainda que eles existam e não sejam poucos. Para identificar os segmentos que exigem maior atenção nessa estrada que corta Minas Gerais de Leste a Oeste, a equipe do EM criou elaborou informações, com base em dados oficiais, que podem ajudar no planejamento dos motoristas mineiros durante o período de movimento intensificado pelas festas e recesso próximos.

 


Com base em informações de estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e de concessionárias dos trechos pedagiados, o levantamento do EM aponta os principais fatores que têm impacto na segurança viária, como chuvas e condições do pavimento, além de pontos críticos para risco de acidentes.

 

 

Nos 230 quilômetros entre João Monlevade e Martins Soares, foram 125 acidentes, 11 mortes e 187 feridos no trecho mineiro durante o período analisado, sobretudo devido à alta velocidade em acidentes que resultaram em colisões frontais, transversais e saídas de pista.

 


Os trechos mais perigosos

Nesse percurso, Manhuaçu é o município que tem os pontos mais críticos, concentrando 61 acidentes, quatro mortes e 76 pessoas feridas. Abre Campo, Matipó e São Domingos do Prata têm duas mortes, cada, no período. Uma pessoa também morreu em Reduto nesses últimos cinco anos avaliados.

 

 

Entre os trechos com mais acidentes está a área urbana de João Monlevade e o Km 148, perto da ponte sobre o Rio Doce, em São Domingos do Prata. Nesse local, antes da travessia, foram registrados dois acidentes no segmento de mil metros, envolvendo cinco carros, deixando uma pessoa morta e três feridas.

 

João Monlevade é a partida para a BR-262, assim como o é para seguir na BR-381. Lá, os problemas começam com o intenso tráfego urbano, com travessias de pedestres e veículos rumo a destinos locais transitando entre acessos e encontrando viajantes de ritmos diferentes. A manutenção do pavimento é um obstáculo ainda mais grave com o tráfego ampliado e as chuvas.

 

 

Passadas as margens do Rio José Pedro, se inicia em Pequiá a travessia da BR-262 em território do estado do Espírito Santo, por pelo menos mais 200 quilômetros até Vitória ou vias que levam a outros destinos, como Guarapari. Uma estrada que registrou, de 20 de dezembro a 31 de janeiro dos últimos cinco anos, um total de 204 acidentes, com 18 mortes e 259 feridos, mostrando-se mais mortal do que o trecho mineiro da BR-262.

 

Marechal Floriano, com o registro de 24 acidentes foi o município com mais mortes nesse segmento, com seis óbitos e um total de 31 feridos. As armadilhas do trecho se traduziram em acidentes sobretudo em condições de alta velocidade, sendo as colisões frontais o tipo de desastre mais frequente.

 

Na região, o município de Domingos Martins vem em seguida, com um total superior de acidentes (39 registros), resultando em quatro mortes e 57 feridos. As principais causas são a exaustão ou as noites de pouco sono que levam os motoristas a dormir ao volante. Os acidentes registrados com mais frequência foram colisões contra objetos ou obstáculos.

 

As ameaças sob chuva

No percurso mineiro da BR-262 em direção ao litoral, a observação de chuvas influiu pouco nos acidentes no intervalo avaliado pelo EM, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), levando a 11 ocorrências, com uma morte e 17 pessoas feridas no período, em Abre Campo. Do total, quatro acidentes foram em Manhuaçu.

 

Já no Espírito Santo, condições de chuva, garoa ou chuvisco coincidiram com 29 acidentes, com três pessoas mortas e outras 39 feridas. Pista escorregadia e alta velocidade foram observadas pelos agentes da PRF como indicativos de causa dos desastres, que em sua maioria foram colisões frontais e saídas de pista.

 

Motoristas devem ficar atentos também às condições das estradas e à sinalização. No sentido Espírito Santo, quase na divisa com Minas, buracos podem danificar o veículo ou causar acidentes na altura do Km 14, em Martins Soares, entre plantações de café e postos de abastecimento.

 

No segmento capixaba, buracos também levaram parte do pavimento do trevo do município de Marechal Floriano, perto do acesso pela rodovia ES-470, em Santa Maria.


Desafios rumo ao Triângulo Mineiro

Duplicada entre Betim, na Grande BH, e Nova Serrana, na Região-Centro-Oeste de Minas, a BR-262 também apresenta trechos críticos que devem ser observados nos 440 quilômetros até Uberaba, no Triângulo, onde dá acesso a outras rodovias. Ao todo, nos dois meses de festas e recessos pesquisados nos últimos cinco anos, ocorreram nesse trajeto 369 acidentes, deixando 28 pessoas mortas e outras 442 feridas.

 

A alta velocidade foi o fator mais importante para os desastres no período avaliado, segundo observação dos agentes da PRF, que também classificaram a maioria das ocorrências como saídas de pista.

 

Nesse segmento, o município com o trecho mais mortal da BR-262 é Luz, na Região Centro-Oeste de Minas, onde 35 acidentes deixaram 11 pessoas mortas e 60 feridas. Também no trecho se destacam entre os desastres o excesso de velocidade e as saídas de pista.

 

O segundo ponto de atenção devido ao alto número de acidentes é Nova Serrana, uma vez que a via passa próximo à zona urbana e a acessos importantes. De 20 de dezembro a 31 de janeiro, entre 2019 e 2023, o total de acidentes chegou a 53, com cinco óbitos e 58 pessoas feridas.

 

Sob chuva, a estrada registrou no mesmo período 114 acidentes, sete mortes e 147 feridos. Condições que fazem de Luz mais uma vez destaque de violência no tráfego no Centro-Oeste mineiro, com 13 acidentes sob chuva, chuvisco ou garoa, que deixaram cinco pessoas mortas – o mesmo total de Nova Serrana em todas as condições climáticas – e outras 28 feridas.

 

Na mesma região, mas mais próximo ao Triângulo, no município de Córrego Danta, há buracos no asfalto na estrada de pista simples que cruza a serra ao lado de uma plantação de eucalipto, na altura do Km 556. Um local onde se deve redobrar a atenção, devido à formação de neblina. A recomendação nesses casos é reduzir a velocidade e usar faróis baixos.

 

Buracos também são problema no trecho estreito que passa pela área rural de Araxá, no Alto Paranaíba, na altura do Km 688, na via que contorna os dois acessos à cidade pelas rodovias BR-428 e BR-452.

 

Os motoristas devem se atentar aos dias mais movimentados para se prevenir. Nos últimos anos, a Concessionária Triunfo-Concebra, da BR-262, tem trabalhado com a previsão de fluxo mais intenso de veículos nas sextas-feiras que antecedem o Natal e o réveillon, até as 14h, e nos sábados, após as 14h. Para o retorno, os horários mais movimentados foram observados nas segundas-feiras após os feriados, depois das 12h.

 

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Revisar o carro é fundamental

A Polícia Rodoviária Federal chama a atenção para a importância de checar a conservação dos pneus, providência fundamental antes de começar a viagem em uma época em que as chuvas são frequentes. Pneus com vida útil parcial, que funcionam bem em tempo seco, podem causar sérios problemas com pista molhada, aumentando as chances de derrapagem e aquaplanagem – perda de contato com o solo devido ao grande volume de água.

 

Para garantir uma boa visibilidade durante a condução, é importante se lembrar das palhetas do limpador de para-brisas. Pouco utilizadas na maior parte do ano, se estiverem ressecadas elas podem comprometer a limpeza do vidro, dificultando a visão do motorista. O uso de produtos específicos no reservatório do limpador também é recomendado, pois auxilia na remoção de sujeiras como óleo e pó.

 

“Procure viajar preferencialmente durante o dia, porque a chuva, que é constante nesses meses de dezembro e janeiro, compromete a visibilidade. Com a noite, isso fica ainda pior. Recomendamos também uma boa revisão na parte elétrica do veículo, que é muito acionada neste período de chuvas, pois o motorista tem de ligar faróis, ar-condicionado, ventilação, podendo sobrecarregar o sistema”, alerta o porta-voz da PRF em Minas Gerais, inspetor Aristides Amaral Júnior.