Uma erosão que já escavou o aterro e ameaça engolir o acostamento e a faixa da esquerda da BR-040, na altura de Esmeraldas, na Grande BH, é um dos sintomas de falta crítica de manutenção da estrada que liga Minas Gerais a Goiás. Os 594 quilômetros foram devolvidos pela concessionária Via040 ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em agosto de 2023, mas usuários afirmam que antes disso os cuidados com a via já deixavam a desejar.
Mato alto, asfalto esburacado e erosões são obstáculos desde o Bairro Califórnia, em Belo Horizonte, até Esmeraldas. A reportagem do Estado de Minas percorreu a parte da via dentro da Grande BH para mostrar como a combinação de chuvas, manutenção precária e movimentação intensa na região deterioram a estrada em ritmo acelerado.
O rombo aberto pelas chuvas na altura do KM503, sentido Sete Lagoas, onde a rodovia passa sobre um aterro de quase 15 metros de altura acima do Bairro Esmeraldas 3 é o dano mais impressionante e perigoso. Uma voçoroca se abriu com mais de sete metros na margem da via e ameaça engolir o acostamento e a pista lenta da direita. Todo o barranco foi escavado pela água até a beira da Avenida 2.
Caminhões e carretas passam rentes à beira do abatimento. Uma defesa feita com um monte de asfalto de um palmo de altura criou um cinturão no acostamento à volta da erosão para tentar impedir que mais água das chuvas desça pela drenagem da rodovia e continue a escavar o aterro.
Da parte de baixo, se vê que uma das estacas de fixação do guardrail de metal foi escavada e ficou dependurada. O solo da margem já se foi, o que permite avistar com nitidez os alicerces da rodovia em seus vários níveis estratificados.
Uma lona preta foi estendida sobre o buraco e quase é arrancada pelo deslocamento dos veículos que passam em alta velocidade, sobretudo os maiores. O peso de mato arrancado pela raiz com torrões de terra e cinco cones colocados sobre a lona tentam segurá-la. Outros sete cones foram colocados ao redor do acostamento para alertar motoristas e demarcar o perigo. Os cones laranjas e brancos têm a insígnia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), indicando não se tratar de uma providência do Dnit.
Cerca de 50 metros antes dessa erosão, um antigo caminho de terra que desce para o Bairro Esmeraldas 3 aos poucos também ameaça o aterro da rodovia. Do outro lado, no sentido Belo Horizonte, uma drenagem de concreto não comportou a água das chuvas e uma grande erosão também se inicia.
O impermeabilizador Edilson Martins de Souza, de 55 anos, mora há 12 anos em uma casa a menos de 100 metros da erosão e conta que desde outubro, após as chuvas, o rombo começou a engolir a BR-040. "O perigo é ficar sem a BR e o barranco descendo vai tampar também a estrada aqui do bairro (Avenida 2). Quem mora de frente vai ser mais ameaçado. A defesa Civil já veio olhar. A (Polícia Rodoviária) Federal todo dia vem e olha", afirma.
Uma rodovia que parece esquecida
A violência dos acidentes continua alta e mais obstáculos podem piorar a situação para os motoristas. Entre janeiro e novembro de 2024, o número de mortos no trecho mineiro da rodovia que teve a concessão devolvida, de Contagem a Paracatu, aumentou de 62 para 65 no comparativo com o mesmo período de 2023. Os dados são da PRF. Por outro lado, os acidentes diminuíram um pouco, de 902 para 877 e os feridos de 1.069 para 1.048.
Nos acostamentos e nos canteiros centrais, os destroços de pneus, lanternas, para-choques, para-lamas, carrocerias e peças de veículos são vestígios de uma rotina de acidentes e prejuízos.
Os problemas da Rodovia BR-040 já podem ser vistos assim que o motorista passa pelo viaduto sobre o Anel Rodoviário, no Bairro Califórnia, Região Noroeste de BH. O asfalto está desgastado e há vários buracos nas pistas. Os painéis de informação de tráfego estão todos apagados e o mato alto encobre parte das placas de sinalização.
Em Contagem, na Grande BH, os problemas continuam. Placas de sinalização no KM530 caíram ou ficaram dependuradas, impossibilitando a identificação pelos condutores. Em alguns trechos, o mato cresceu tanto nos acostamentos e nos canteiros centrais de separação dos sentidos que as folhagens já invadem as pistas.
Os buracos, fundos ou largos, se multiplicam nas pistas da direita e central, concentrando-se na altura da Ceasaminas, onde o tráfego pesado de caminhões é intenso. Os acostamentos também também apresentam problemas, como sulcos profundos e asfalto degradado.
Em Ribeirão das Neves os buracos também se destacam e o matagal engole os pontos de embarque e desembarque dos ônibus. Até a sinalização do Perímetro Urbano, que serve para avisar aos motoristas em viagem que há veículos de trânsito local, pedestres e transportes de passageiros mais lentos nas proximidades, foi obstruída.
O caminhoneiro de Colatina (ES) Jhony Marcos Damião dos Santos, de 39 anos, sente que sem a concessão a situação da rodovia piorou muito nas mãos do Dnit. "A concessão é um apoio, uma segurança para rodar, faz a remoção dos veículos quebrados o que é importante nessa estrada que não é toda duplicada. A manutenção está esquecida. Muitos buracos perto de Belo Horizonte e principalmente depois de João Pinheiro. Os motoristas precisam dobrar a atenção e ir na velocidade da via. Tem muita imprudência, com motoristas querendo correr e ultrapassar e aí precisam desviar dos buracos. Aí que ocorrem os desastres", afirma.
O comerciante e dono de loja de acessórios e elétrica de caminhão, Antônio Ferreira Rosa, de 57 anos, poderia até ganhar muitos clientes com as avarias causadas nas estradas esburacadas ou em acidentes, mas preza a segurança. "A concessão faz falta. Com ela os caminhoneiros e motoristas de carros de passeio têm o apoio em caso de danos, têm guinchos. E o Dnit não dá conta de guinchar e nem de cuidar da manutenção, como podemos ver com essas chuvas", critica.
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O trecho da rodovia entre Belo Horizonte e Juiz de Fora passou a ser administrado pela EPR Mineira, enquanto o trecho entre Belo Horizonte e Brasília voltou ao Dnit. A Via 040 encerrou as operações após o fim da concessão. A empresa se comprometeu a duplicar cerca de 500 km da rodovia, mas apenas 73 km foram entregues.
O Dnit informou que foram executadas ações iniciais para estancamento do "processo evolutivo do problema, com a execução de cordão com material betuminoso que impede que a água conduzida pelo sistema de drenagem superficial danificado continue a atingindo o corpo do aterro na erosão instalada no km 503 da BR-040/MG".
A autarquia, em conjunto com as empresas supervisora e construtora, afirma estar avaliando a condição local para definição do melhor processo de restabelecimento da geometria do talude afetado, considerando-se, principalmente, o período de chuvas intensas e as dificuldades de execução de serviços de terraplenagem durante o mesmo.
"Até que a nova concessionária assuma a rodovia, o Dnit acompanha e executa as ações de manutenção, conforme cronograma", informa.
A BR-040 tem uma nova concessão para o trecho entre Minas e Goiás que está em fase de procedimentos para assinatura de contrato. A Vinci Highways, empresa francesa, venceu o leilão para a concessão dos 594,80 quilômetros, que ligam Cristalina, em Goiás, a Belo Horizonte. A empresa ofereceu um desconto de 14,32% sobre a tarifa básica de pedágio.