Empresários de bares e restaurantes da Avenida Fleming, no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, resolveram se juntar para tentar impulsionar a vida noturna do local. A ideia, que partiu dos proprietários do Sô Madruga, mobilizou outros comerciantes, totalizando 14 casas envolvidas, que decidiram montar uma rede de apoio e unificar a divulgação dos estabelecimentos instalados na via por meio de uma página no Instagram.
Os sócios Rômulo Neto e Wallace Augusto, donos do bar inspirado na série de TV “Chaves”, que abriu as portas na capital há três anos, relataram que desde a pandemia de COVID-19 o movimento na região diminuiu muito, e as mesas vazias passaram a ser um incômodo geral. Foi então que, conversando com os comerciantes vizinhos, eles pensaram em criar uma nova proposta de marketing para o corredor.
Segundo os empresários, a página ficará pronta até o fim deste ano. Ainda está sendo definido o layout e o nome do perfil, que será utilizado não só para divulgar individualmente cada bar, mas para informar o público sobre novidades.
Neto destacou que os empresários têm expectativa de promover eventos, como encontros gastronômicos, e pretendem elaborar opções de entretenimento para o próximo carnaval. “Quem acessar a página vai conseguir ver todos os estabelecimentos que estão disponíveis ali em volta, e ter uma noção do que cada lugar tem para oferecer. A intenção é chamar a atenção das pessoas para a avenida”, afirmou.
Marcelo Fernandes, proprietário do bar Sirène Fish & Chips, explicou que a ideia é primeiro ganhar o público da região, para que a Fleming se torne o “quintal” da casa dessas pessoas: “Não precisa ir para a zona sul e se deslocar muito longe para encontrar entretenimento e gastronomia. Em primeiro lugar, queremos que o público que mora próximo seja nosso cliente”.
O Sirène foi inaugurado na avenida em setembro de 2021 e, segundo Fernandes, 2024 começou bem complicado, com uma queda no faturamento de 30% a 40% no primeiro semestre. “Agora no segundo semestre as coisas começaram a querer melhorar.”
DÁ PARA IR DE CARRO?
A falta de clientes, segundo os empresários envolvidos no projeto, também está fortemente ligada a um problema no entorno dos comércios: os flanelinhas. O bar e restaurante Tatu Bola está com as portas abertas há apenas quatro meses, mas o administrador Carlo Antonio já percebe a relevância desse tipo de reclamação. De acordo com ele, os comerciantes querem passar ao cliente a certeza de que poderão acessar e estacionar na região sem problemas, garantindo que encontrarão seus veículos em perfeito estado na volta para casa.
Vando Fontes – sócio do grupo Almanaque e proprietário do Vaka Loka Lounge Bar e de dois comércios na Rua Alberto Cintra, corredor de bares no bairro União, na Região Nordeste da capital – relatou que a questão não é uma particularidade da Pampulha. “Já liguei pra polícia por conta desse problema de flanelinhas”, explicou.
O empresário do Sirène Fish & Chips explicou que esses corredores de bares enfrentam um fluxo grande de veículos, transportando o público, que nem sempre encontra opções de estacionamento viáveis. “São muitos carros na avenida, muita gente estaciona a dois ou três quarteirões de distância, em locais mal iluminados e que oferecem esse risco de arrombamento dos veículos.”
A reportagem esteve na Avenida Fleming e se deparou com uma vastidão de opções de bares e restaurantes em funcionamento. Mas o cenário interno realmente não era muito animador e as mesas vazias confirmavam as reclamações dos proprietários.
No bar Sô madruga, o motorista Paulo Aleluia se reunia com alguns familiares. Segundo ele, a região é uma das melhores para se frequentar, porém ir de carro exige certos cuidados: “Opto por lugares com estacionamento. Viemos aqui para conhecer, mas ainda sinto receio da segurança do carro aqui na avenida.”
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que a questão dos flanelinhas é uma demanda da Guarda Civil Municipal, que executa desde 2017 a “Operação Flanelinha" para combater o crime de extorsão contra motoristas que estacionam seus veículos nas vias públicas das nove regionais da cidade.
Conforme a PBH, a operação foi realizada 107 vezes de janeiro a outubro deste ano, com 928 abordagens a pessoas suspeitas, com 12 sendo conduzidas a uma unidade da Polícia Civil. Em 2023, foram 55 operações, com abordagens a 650 suspeitos.
APROVEITAR A PAISAGEM
Para quem mora na região não há dúvidas de que a extensa rua de bares tem muito entretenimento a oferecer. Márcio Henrique e Raquel Marcelina, que aproveitavam a noite no Sô Madruga, residem na Região de Venda Nova e explicaram que, se morassem perto, frequentariam mais a avenida por ser “atrativa e diversa”.
Carlo Antonio, administrador do Tatu Bola, revelou que a nova página do Instagram servirá para impulsionar a imagem natural da região, já que a avenida é famosa e está próxima ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha: “É um lugar com um público legal, com uma demanda reprimida. As pessoas que moram na região precisam saber que não precisam se deslocar para outros lugares para encontrar entretenimento. E a cidade toda pode passar a considerar a Pampulha um local representativo de diversão dos mineiros”.
Marcelo Fernandes acrescentou que o perfil vai divulgar promoções e que os empresários pretendem ter como estratégia vincular os comércios locais. Foi o que reforçou seu vizinho Rômulo Neto: “A gente pensou em oferecer, inclusive, um programa de fidelidade em que, ao visitar um local, o cliente ganhe desconto em outro, por exemplo, para fortalecer o vínculo com a região”.
QUEDA GERAL
O empresário Felipe Aguiar explicou que apesar de não sentir tanto o problema de segurança, a queda de movimento também chegou na Região Centro-Sul da cidade. Aguiar, além de sócio do Grupo Almanaque, é proprietário do Mito Bar, localizado na Rua Pium-Í, point da vida noturna em BH. “Eu acredito que a queda é geral, eu senti uma redução no movimento e, recentemente, três bares aqui da rua fecharam as portas”, contou.
Em BH, é comum que comerciantes conversem e criem grupos para se apoiar. Tanto Vando Fontes quanto Felipe Aguiar relataram estar em grupos de WhatsApp com colegas, mas a ideia de se unir para divulgar os estabelecimentos nas redes sociais nunca foi pensada, tornando a Avenida Fleming pioneira. “Unificar essa divulgação realmente pode ser uma ideia legal”, ressaltou Aguiar.
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A expectativa dos empresários é alta, e o começo do próximo ano deve trazer ainda mais novidades. “Estamos nos preparando para lançar, no início de 2025, outras propostas. Uma das iniciativas vai ser o carnaval para família na avenida e um espaço kids gigante”, adiantou Rômulo Neto. O idealizador do projeto declarou se sentir honrado por tornar a ideia possível. “Fico feliz de conseguir convencer os empresários a participar”, disse, ressaltando que acredita no potencial da Fleming para ser a mais frequentada da cidade.
Unidos pelo Marketing
Para tirar a ideia do papel, o grupo de empresários contratou uma agência de marketing. Os 14 bares envolvidos na ação são: Tatu Bola Bar Fleming, It’s Surreal, Sô madruga, Surubim, Altas horas Fleming, Dona fulô Fleming, Anoz Gastrobar, Sirène Fish & Chips Fleming, Filé Espeto & Cia, Rei do Pastel Gourmet, Deu Samba Domingo, Bar & Boi, Mindoca Botequim e Amadís Fleming Restaurante e Bar.
* Estagiária sob supervisão da editora Crislaine Neves