Os estudantes Pedro Coimbra e Valentina Chaves, ambos de 16 anos, têm diante dos olhos um Belo Horizonte formado não apenas pelo nome da capital dos mineiros como também na vastidão perto de tocar o céu. Longe do Mirante do Mangabeiras, no terraço de um prédio de 25 andares, a engenheira Josuama Mendes Costa abre os braços e saúda a cidade, que celebra hoje os 127 anos de sua inauguração. E, nesse período, de histórias, cultura, convívio, troca de experiências, avanços e encontros.
Do ponto em que se encontra, no mesmo terraço, na Praça Sete, o analista de sistemas Eduardo Gustini pode enxergar a Avenida Sapucaí, onde mora, há 20 anos, Dirce Gomes Viana Patta. Na Sapucaí, atualmente em obras de requalificação, ela contempla o pôr do sol, o alto dos edifícios na Avenida Afonso Pena, os arcos do Viaduto Santa Tereza e a movimentação na Praça da Estação.
A cidade vai muito além dos limites da Avenida do Contorno, e segue para as alturas do Bairro Tupi, na Região Norte. É na elevação coberta de pedra, chamada pelos moradores de “Monte”, que Marinalva Maria de Jesus faz suas orações. “Vem, aqui, gente de todos os credos: evangélicos, católicos, pessoas de religiões de matriz africana, enfim, todos. É um lugar de respeito.”
Nada mais oportuno, portanto, do que a palavra respeito para homenagear BH. E que não seja pronunciada só nas alturas, em datas especiais, mas diariamente. “Tudo o que queremos, e precisamos, é de um presente e de um futuro sempre melhores para nossa cidade”, destaca Pedro Coimbra, no Mirante das Mangabeiras.
FÉ E UNIÃO NO ALTO DO MONTE, NA REGIÃO NORTE
O Sol raiou cedo, e a pastora Marinalva Maria de Jesus, moradora do Bairro Jaqueline, na Região Norte de Belo Horizonte, começou os preparativos, juntamente com a filha Jéssica Priscila Mercês, para seguir até o Monte. Na companhia delas, Emmanuelly, de 12, e Lorenzo, de 4, filhos de Priscila.
Conhecida também como Monte do Tupi ou Lajeado, a elevação fica a poucos metros de uma rua asfaltada no Bairro Tupi, na mesma região onde Marinalva mora. Certamente poucos belo-horizontinos conhecem esse ponto ou o caminho de terra, cercado de árvores, que leva ao topo da montanha, onde, segundo a pastora, “há uma concentração espiritual muito forte”.
Após chegar ao local, colocar seus pertences sobre as pedras e respirar fundo, a família passa a contemplar a vastidão. “Temos uma vista privilegiada, uma parte distante do Centro da cidade. Sinto a presença do Espírito Santo”, contou Marinalva, ao abrir a Bíblia e ler um versículo do Salmo 121: “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra”.
Enquanto a família faz suas orações, a equipe do EM identifica marcas de cultos e até uma frase escrita em tinta verde sobre o lajeado: “O sangue de Jesus tem poder”. A cantoria dos passarinhos e de centenas de cigarras faz o pensamento voar, assim como os olhos encontram, numa árvore, um solitário gambá. Num trecho da trilha, há vestígios de que choveu em alguma madrugada, e tudo inspira uma perfeita comunhão com a natureza – sem barulho de carros, sirene de ambulâncias, burburinho urbano. Depois de contemplar uma região de forte energia, como bem disse Marinalva, é hora de visitar outros mirantes e ver BH “do alto dos seus 127 anos”.
RITMO DE NOVOS TEMPOS NA AVENIDA SAPUCAÍ
Depois de passar horas “nas alturas”, a equipe do EM se encontra agora num plano não tão elevado, sem perder, claro, o foco na paisagem urbana. Moradora da Avenida Sapucaí há duas décadas, Dirce Gomes Viana Patta, autônoma, sente as mudanças na região com ações do programa de requalificação urbana “Centro de todo mundo”, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Observando da balaustrada, reconhecida como bem cultural e urbanístico, Dirce fica em silêncio um segundo e, na sequência, diz que a cidade está mais colorida, com mais beleza. “Antes, a gente olhava e tudo parecia um deserto”.
Na avenida, há tempos bem distintos. De manhã, o sol bate forte, e muitos pais passeiam com suas crianças, enquanto, ao cair da tarde, o espaço é tomado por pessoas de todas as idades, principalmente os jovens, que aproveitam o visual para encerrar o dia no ritmo da Sapucaí.
Conforme a PBH, a previsão de término da obra, incluindo os serviços de paisagismo e implantação de mobiliários em todos os trechos, é o primeiro semestre de 2025. A primeira etapa das obras de requalificação urbana da Sapucaí já foi concluída, com a reabertura do trecho entre a Avenida Assis Chateaubriand e a Rua Tabaiares aos pedestres e comerciantes – os serviços de paisagismo do trecho liberado ainda estão em andamento. Para janeiro, está prevista a liberação ao público do trecho entre a Rua Tapuias e Avenida do Contorno.
A CIDADE AOS PÉS DE QUEM BUSCA HARMONIA
Inaugurado em agosto, o charmoso Terraço Niê tem esse nome em homenagem ao arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1907-2012), autor do projeto do edifício no qual se encontra o restaurante, mais exatamente no vigésimo quinto andar. Antes chamado de Prédio do Bemge, o ícone arquitetônico da Praça Sete, no Centro de BH, se tornou P7 Criativo – Agência de Desenvolvimento da Indústria Criativa, sob a gestão da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Misturando a elegância dos anos 1950 com a tecnologia do século 21, o edifício tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) exibe, logo na entrada, na Rua Rio de Janeiro, o revestimento de pedra lioz rosa, um convite a conhecer, em cada espaço, outros elementos preservados, incluindo tijolos de vidro, tacos de peroba, painel do artista plástico mineiro Mário Silésio (1913-199), azulejos, cerâmica e luminárias.
E lá no topo – o elevador vai até o 24º andar, depois há um lance de escada até o Niê –, vem a grande surpresa para moradores que ainda desconhecem e visitantes de primeira viagem: a contemplação da paisagem em 360 graus. Diante dos olhos, há um panorama em perfeita harmonia: a capital, os arredores, as empenas do Circuito Urbano de Arte (Cura), Avenida Afonso Pena, Serra do Curral, serras da Piedade e Soledade, áreas verdes e outros elementos da natureza. A engenheira belo-horizontina Josuama Mendes Costa, residente no Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste, gosta do que vê e abre os braços ao render elogios a cidade. “Do alto, a gente vê melhor como BH é bonita”, diz Josuama, cujo nome tem origem africana. “A família do meu pai é da Nigéria.”
Também curtindo o terraço do edifício de 1953, o analista de sistemas Eduardo Gustini, morador do Bairro Nova Suissa, na Região Oeste, observa que, na correria do dia a dia, pouco se nota. “E não percebemos como a cidade realmente é. Bonita demais!”
Ainda no Centro de BH, vê-se o também restaurado Edifício Acaiaca, construção da década de 1940, que ostenta, na fachada, os índios ou efígies indígenas – um de olho na Rua Espírito Santo, outro, na Rua dos Tamoios. No 25º andar do edifício, fica o espaço de 650 metros quadrados, igualmente com vista de 360 graus. Até segunda-feira (16/12), pode ser vista a exposição da artista plástica Ale Cioletti. Mensalmente, ocorre o “Fim de tarde no Terraço Acaiaca”, experiência cultural com happy hour e imersão na história do prédio. Informações no instagram @terracoacaiaca.
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DO MIRANTE, BH APONTA OS CAMINHOS DO FUTURO
De novo, nas alturas, para encerrar o passeio. Pedro Coimbra namora Valentina Chaves há oito meses e, numa tarde ensolarada deste mês, levou a jovem, natural de Montes Claros, na Região Norte do estado, para conhecer o Mirante do Mangabeiras, um dos pontos mais elevados da capital, com 1.170 metros de altitude. Nesse local de inspiração e encantamento, a jovem de 16 abriu o coração: “Do alto, tenho uma sensação de liberdade, me sinto mais leve ao admirar a cidade”.
Pedro complementou: “Sempre me sinto acolhido em Belo Horizonte. Mantenho uma relação de muito amor com a cidade. Vendo esta paisagem daqui do mirante, imagino o futuro. E quero o melhor para a capital”.
Um dos pontos turísticos de destaque da cidade, o Mirante do Mangabeiras fica no Bairro Mangabeiras, atrás do Palácio do Governador, em uma área de aproximadamente 35,4 mil metros quadrados. Com dois decks de madeira instalados, medindo cada um cerca de 125 metros quadrados, o espaço proporciona ao visitante bela experiência a todos. Está bem à frente o famoso Belo Horizonte.