O pai e a madrasta de Ian Henrique Almeida Cunha, acusados de matar o menino de 2 anos em 2023, foram condenados por homicídio qualificado. O julgamento dos dois acabou na madrugada desta quinta-feira (12/12) em Belo Horizonte.


O pai do menino foi condenado a 26 anos e 8 meses de prisão, em regime fechado, por homicídio qualificado por motivo torpe e contra menor de 14 anos.


Já a madrasta foi condenada a 35 anos de reclusão, em regime fechado, por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel, com recurso que dificultou a defesa e contra menor de 14 anos.


 

O julgamento, que começou na terça-feira (10/12), foi retomado na manhã de ontem com o depoimento dos dois acusados. A mulher negou o crime e imputou as agressões ao pai da criança. Ela afirmou que, no dia do crime, Ian havia urinado na cama e que, por isso, o pai acordou o menino e o agrediu.


Ela narrou que ela pegou a criança no colo, mas que o homem arrancou o menino dos braços dela e o jogou no chão. Logo depois, ele deu um empurrão na criança. Nervosa, ela foi para o outro quarto chorando. Falou que o menino não ficou desacordado com a queda e não mostrou nenhuma debilidade naquele momento.


Momentos depois, ela mostrou para o namorado que a criança tinha um galo na cabeça por causa das agressões dele. O homem disse que não era pra se preocupar e que falaria pra mãe da criança que o menino tinha sofrido uma queda, motivo do inchaço. Depois disso, ela identificou um novo hematoma, agora na testa do Ian. 


Relatou ainda que ao longo da noite, a criança vomitou por duas vezes. Que colocou a criança na cama pra dormir com ela, acordou à noite e percebeu que o menino estava convulsionando.


No hospital, questionado pela médica sobre o que tinha ocorrido, o homem disse que não sabia o que havia acontecido porque estava trabalhando e chegou em casa já com o filho passando mal. Diante da polícia, ela não quis prejudicar o namorado e disse que a criança tinha escorregado no chão de casa que estava cheio de gordura.


Já o pai afirmou em depoimento que saiu de casa para ir trabalhar como garçom na noite do crime e que, em determinado momento, recebeu mensagem da namorada dizendo que o filho dele e a filha dela sofreram um choque, uma batida entre os dois, em casa. Ele saiu de casa às 18h20 e retornou às 4h da madrugada.

 

Ele afirmou que não ouviu o áudio enviado pela namorada na íntegra, mas escutou a parte de que o filho estava vomitando. Achou que o mal-estar fosse por algo que a criança tinha comido. O acusado afirmou que não teve conhecimento de nenhum detalhe da agressão e que só ficou sabendo pelos médicos no hospital das múltiplas fraturas no crânio da criança.

 

 

O pai se emocionou em plenário ao lembrar que brincava muito com o filho, jogavam futebol juntos e tratava a criança sempre com carinho nos dias que ficava com ele. Disse que não é verdade os depoimentos de testemunhas de que ele era agressivo com o Ian.

 

No primeiro dia de julgamento, onze testemunhas prestaram depoimento no Tribunal do Júri. A mãe do menino disse que havia terminado o relacionamento com o pai da criança porque descobriu uma traição. Ela ressaltou que, após o nascimento de Ian, o homem era atencioso com a criança, mas passou a ser “super agressivo” ao longo do tempo.

 

Ela relata ainda que evitava deixar o filho ir à casa do pai, já que a criança amamentava, mas que, após os 2 anos de idade do menino, foi determinado pela Justiça o direito de o pai ficar com a criança a cada 15 dias.

 

A mãe afirmou que, posteriormente, o pai e a madrasta do menino ficaram super nervosos após ela conseguir na Justiça o aumento de pensão alimentícia. Disse ainda que o filho chorava e tinha resistência em ir para a casa do pai. Por duas vezes, a criança voltou da casa dele com lesões, uma delas com o ouvido sangrando. Por isso, ela fez um Boletim de Ocorrência na polícia e, desde então, o filho não retornou com novas lesões, até o dia da sua morte.

 

No dia do crime, o pai ligou para a mãe dizendo para ela ir com os documentos do Ian para o hospital porque ele tinha caído e batido a cabeça.

 

A médica que atendeu a criança na emergência no dia dos fatos também foi ouvida e disse que a gravidade do traumatismo na cabeça é incomum para uma queda da própria altura e que Ian chegou em estado grave no hospital.

 

Uma médica pediatra perita afirmou no tribunal que avaliou os relatórios e documentos médicos do atendimento da criança e respondeu que, dada a estatura da criança, entre 80 e 90cm, seria improvável sofrer um trauma da gravidade que sofreu a vítima causado por uma queda da própria altura.

 

Além disso, uma testemunha que trabalhou de garçom em um evento junto com o pai na data dos fatos e uma vizinha do casal na época também foram ouvidas ontem.

 



 

Relembre o caso

 

O crime aconteceu na casa do pai de Ian, no Bairro Jaqueline, na Região Norte de Belo Horizonte. Ele teria saído para trabalhar e deixado o bebê com a namorada e filha dela, de 4 anos na época.

 

 

De acordo com a denúncia realizada pela Ministério Público de Minas Gerais, no período entre a noite do dia 7 de janeiro e a madrugada do dia seguinte, a suspeita “agindo com dolo homicida, com utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima e emprego de meio cruel, matou a vítima Ian Henrique”. A madrasta teria mantido o bebê em completa agonia e sofrimento por horas dentro da casa.


Ainda segundo a denúncia do MPMG, o pai da criança é réu no crime por ter tido ciência dos graves ferimentos de Ian no início da madrugada, mas só ter levado o bebê para o hospital no fim da madrugada, o que teria impedido “com essa demora, que a criança recebesse tempestivo e eficaz tratamento médico, razão pela qual a vítima não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.” Além disso, na condição de pai, tinha o dever legal de proteção, cuidado e vigilância do menino.

 

O crime

 

O pai, ao chegar em casa do trabalho de madrugada, teria encontrado Ian desacordado no sofá com ferimentos na cabeça, com as pernas tortas e sem conseguir abrir os olhos, de acordo com relatos dele durante o interrogatório policial. Ele confrontou a namorada sobre o estado do filho. Ela, por sua vez, teria dito que o menino poderia ter sido agredido por sua filha de 4 anos. Além disso, disse que no dia 7 de janeiro, na hora do almoço, Ian teria escorregado na cozinha e batido a cabeça, mas que ela teria dado um medicamento e o menino ficou bem. 

 

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Às investigações, o homem disse que acredita que a filha da namorada agrediu Ian com o gesso que tinha nos dois pés. Além disso, afirmou que o filho nunca havia reclamado de qualquer agressão por parte da madrasta, mas que ela tinha ciúmes da genitora de Ian.

 

Segundo o pai de Ian, após questionar a mulher do que havia acontecido, ele levou o bebê ao Hospital Risoleta Neves, onde foi constatado que o menino tinha uma lesão na cabeça e escoriações no queixo. Durante o atendimento, Ian teve duas paradas cardíacas e foi necessário, para tentar salvá-lo, a transferência para o Pronto-Socorro. Os médicos relataram, ainda, que a criança estava com as mãos tortas e as pernas duras.

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