Depois do longo período de seca, com quase cinco meses de estiagem, o bastante aguardado período chuvoso veio e se estabeleceu. Se por um lado as chuvas trouxeram um alívio para o calor e alimentaram reservatórios de água, por outro vieram os transtornos corriqueiros dos períodos chuvosos, especialmente nas grandes cidades, como enchentes, alagamentos e deslizamentos.

 

Saber como lidar ao se ver diante dessas situações é crucial para evitar tragédias, como a ocorrida na última terça-feira (24/12), quando carros foram arrastados pela força de água para dentro de um córrego no Barreiro. Assim, o Estado de Minas reuniu recomendações junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) de como as pessoas devem agir diante de enchentes, alagamentos e outras situações de atenção durante as chuvas (confira as dicas abaixo).

 

Nesta quinta-feira (26/12), a capital mineira está em alerta para pancadas de chuva e pode registrar volume de 40 mm até às 8h de sexta-feira (27/12). 

 



 

Recentemente, a Defesa Civil Estadual anunciou uma parceria com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e operadoras de telefonia para que celulares exibam alertas direcionados diante de situações extremas, como no caso de chuvas fortes. Os avisos são enviados para os aparelhos por meio de georreferenciamento a partir das antenas de telefonia e são exibidos compulsoriamente na tela dos celulares, acompanhados de um alerta sonoro. A iniciativa é parte de uma estratégia que visa antecipar à população eventos que exigem maior atenção - até então, os avisos da Defesa Civil se restringiam a SMS, WhatsApp e reportagens na mídia.

 


Especialistas, no entanto, apontam que os alertas são apenas o topo do funil de um ciclo de medidas para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos. "O alerta é o primeiro passo de um ciclo que tem que ser cumprido. Esse sistema tem que vir junto de um treinamento para que a população saiba exatamente o que fazer", explica Léo Farah, engenheiro geotécnico e diretor da Ong Humus, atuante em focos de desastres e em áreas de risco iminente.


Léo explica que a organização desenvolve, também, programas de capacitação para prevenção de situações de emergência, e cita como referência os protocolos seguidos no Japão, onde a população é constantemente capacitada para lidar com fenômenos como tsunamis e furacões. Outro exemplo, mais próximo, são as áreas próximas a minerações, onde os moradores passam por treinamentos de rotas de fuga.

 


Iniciativas como esta são adotadas pelas defesas civis municipais em bairros de maior risco durante as chuvas. O engenheiro defende que estes treinamentos sejam ampliados para que a população saiba o que fazer ao receber alertas de chuvas fortes. “Muitas pessoas não sabem o que uma chuva de 40mm significa. É importante ter mensagens direcionadas para que elas saibam se devem permanecer em casa ou buscar abrigo na escola do bairro, na igreja, no centro de saúde", detalha.

 


Melhor prevenir


Acima de tudo, a principal recomendação diante das chuvas é evitar se expor ao perigo, destaca o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. “A principal dica é não ser pego de surpresa. Ou seja, não sair de casa se tiver previsão de chuva forte. E, se já estiver na rua, mudar a sua rota, não passar por locais sujeitos a alagamentos, porque essa situação [transbordamento] é muito dinâmica e pode te pegar de surpresa”, detalha.


Alagamentos, transbordamentos, enchentes e enxurradas estão entre os principais perigos que acompanham as fortes chuvas. Algumas cidades, como Belo Horizonte, são dotadas de mapeamentos das áreas com maior risco destas ocorrências. No caso da capital mineira, diversas ruas e avenidas têm placas com os dizeres "evite transitar neste local em caso de chuva forte". A seleção dos pontos que recebem este alerta é feita a partir do Mapa de Inundações, que leva em conta não apenas o histórico de inundações do local, mas também estudos da rede de água pluvial e córregos da região.

 


A recomendação dos bombeiros é evitar estes locais. Porém, caso o motorista veja um alagamento à frente, o caminho a seguir é desviar a rota, ou, até mesmo, estacionar e procurar abrigo em algum local alto e seguro. “A gente orienta que quando a água está na altura do pneu do carro, que é próximo da altura dos joelhos de uma pessoa adulta, essa água já tem força e altura suficientes para levar veículos”, explica o tenente Barcellos.


Evitar tragédias


Caso a água esteja acima das rodas e, portanto, não seja mais possível sair daquele local, o primeiro passo é acionar o mais rapidamente possível o Corpo de Bombeiros, pelo número 193. Se o nível da água subir ainda mais, a orientação é para sair pela janela da frente e ir para o teto do veículo, o que, explica o tenente, vai facilitar para que os ocupantes do carro sejam resgatados. “Ao irem para o teto, auxiliem as crianças a fazer isso com segurança e se agarrarem às partes laterais do veículo. Essa é uma orientação extrema, onde a pessoa está vendo a água subir e entrar dentro do veículo pode causar uma submersão e um afogamento”, detalha.

 


Sair do veículo e tentar enfrentar a água não é uma opção devido à força da enxurrada, argumenta o tenente. “A água esconde alguns perigos. Além de estar contaminada, pode ter ali um ponto de sucção, uma boca de lobo aberta, que vai sugar pessoas, então jamais entre nessa água”, explica.


Foi diante de um cenário deste que a influenciadora Jennifer Soares Martins, de 28 anos, morreu ao ser arrastada por uma enxurrada, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, no mês de novembro - a primeira morte em decorrência do atual período chuvoso em Minas Gerais. Até o momento, seis pessoas já morreram em meio às fortes chuvas nos municípios de Uberlândia, Ipanema, Maripá de Minas e Coronel Pacheco. 

 

Na ocasião, em Uberlândia, a jovem estava em um carro junto do marido, Wallison Lima, de 31, quando uma enchente tomou conta da rua. O casal decidiu sair do carro após outro veículo, arrastado pela enxurrada, colidir com o deles. Os dois, do lado de fora, se agarraram à lateral do carro enquanto pessoas que estavam em um comércio próximo esticaram uma escada, para que pudessem se apoiar. Em determinado momento, Jennifer se desequilibrou e foi arrastada pela enxurrada, e seu corpo foi encontrado minutos depois, alguns metros à frente.

 


O tenente Barcellos explica que num cenário como este, o mais correto é arremessar cordas que estejam presas em algum local firme para que alguém possa se apoiar. Ainda assim, a orientação é para que pessoas que não tenham treinamento para este tipo de atividade não se aventurem a entrar na água e nem jogar objetos. “É uma situação muito arriscada que pode gerar ainda mais vítimas. Numa situação extrema, onde as pessoas estejam numa enxurrada, se elas puderem se ancorar, terem algum meio de estarem presas em objetos mais pesados e fixos, essa é uma orientação para prevenir que sejam levadas pela água”, detalha.


Outros cenários


Para além das enxurradas, as fortes chuvas também apresentam outros perigos à população, como ventanias e raios. Ao procurar abrigo das águas, a recomendação é evitar ficar embaixo de árvores, placas, outdoors e postes - além do risco de eletrocussão, há possibilidade dessas estruturas serem arrastadas pelos ventos fortes e atingirem alguma pessoa. “Procure estruturas fixas, dentro de edificações mais robustas, espere a chuva passar, para depois voltar a transitar na rua sem esse risco”, detalha o tenente Barcellos.

 


Pessoas que morem em terrenos próximos a encostas também devem ter atenção especial a sinais de que pode ser preciso sair da residência e procurar abrigo em outro local, mesmo antes de alertas da Defesa Civil. A exemplo, estalos nas paredes e outros fenômenos que indicam movimentações de massa do solo - e que podem levar a soterramentos.

 


O tenente Barcellos explica alguns dos sinais mais visíveis, como o aparecimento de trincas e rachaduras nas paredes. “O abatimento de árvores ou postes que vão se inclinando, dando indícios de que aquele terreno pode estar se movimentando. Ao perceber isso, são sinais que você deve sair imediatamente do local”, explica.


Por fim, o porta-voz reforça que, diante de qualquer uma destas situações, seja em casa ou na rua, a principal recomendação é se manter calmo e acionar o Corpo de Bombeiros pelo número 193.

 

Principais dicas para agir diante de uma enchente

 

  • Ligar imediatamente para o Corpo de Bombeiros pelo número 193
  • Mudar a rota para desviar de locais possíveis de inundação
  • Não avançar caso a água esteja na altura da roda ou acima do joelho
  • Caso a água suba, não enfrentar a enxurrada. Subir em cima do carro é a melhor decisão
  • Se for levado pela água, tente se segurar em locais pesados e firmes, como postes
  • Mantenha a calma e aguarde a chegada das equipes de resgate

 

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Fonte: Tenente Barcellos, porta-voz do CBMMG

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