O acervo do primeiro museu da América Latina dedicado à memória da educação corre o risco de se peder. Situação de abandono foi constatada durante visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao Museu da Escola Professora Ana Maria Casasanta e à Biblioteca Bartolomeu Campos Queirós, localizados no câmpus da Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores, no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital. Os espaços guardam, de maneira precária, um patrimônio material e bibliográfico que está entre os mais raros do país.
O museu foi criado em 1994, e inicialmente ficava no prédio da antiga Secretaria de Estado da Educação na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de BH. Depois, foi transferido para o Instituto de Educação de Minas Gerais e, desde 2012, está no atual endereço. “Esses documentos contam a trajetória das instituições educacionais em Minas Gerais, boa parte do que a Secretaria de Estado de Educação produziu nos últimos cem anos, como políticas pedagógicas, diagnósticos e projetos”, explica o servidor Mário Jardim, responsável pela Biblioteca Bartolomeu Campos Queirós.
Segundo a ALMG, são pouco mais de 5 mil itens inventariados em 80 pastas, entre mobiliário, jogos educativos, cartilhas, fotografias, documentos textuais e depoimentos orais que reconstroem a história da educação no estado e no país. As peças mais antigas datam da segunda metade do século 19.
Um dos pontos levantados pela comissão é a falta de uma legislação que ampare sua criação e funcionamento. Não há um museólogo responsável para gerir e organizar o acervo, o que leva à falta de controle de empréstimos de peças a terceiros. Durante a visita, realizada em novembro, foram constatadas também infiltrações, falta de climatização nos ambientes e exposição de peças ao sol por falta de cortinas.
O museu, que já chegou a ter 18 mil visitantes, hoje conta com a atuação de voluntários e só abre sob demanda, principalmente de escolas. De acordo com a ex-coordenadora do equipamento, Neuma Marçal, as dificuldades começaram quando o acervo foi para o Instituto de Educação: “É uma escola muito grande, era fácil copiar uma chave. À noite, acontecia o desvio do acervo”.
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
Para evitar a perda e a deterioração das peças, a diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Andrea Moreno, que acompanhou a visita, defendeu a digitalização de todo o acervo. Juliana Filgueiras, professora do Departamento de História da instituição, aprovou um projeto por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapemig) para digitalizar uma pequena parte do acervo. “É uma documentação única, só conhecida por pesquisadores, que precisa ser mais cuidada. Digitalizar é preservar e democratizar o acesso”, pontuou.
Como representante da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) acredita que a solução esteja na “institucionalização” do museu. Conforme a ALMG, uma audiência pública sobre a situação do equipamento está prevista para este ano.
“A memória da educação em Minas e no país está sendo apagada por falta de responsabilidade do governo. Há a falsa ideia de um museu em pleno funcionamento. A maior parte do acervo está em salas fechadas, falta cuidado com a documentação. O museu não existe, verificamos só a resistência individual dos interessados”, afirmou a deputada.
O QUE DIZ A SEE-MG
Sobre a situação do aparelho, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) informou que o Museu da Escola Ana Maria Casasanta Peixoto foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) em 2005. Devido a esse tombamento, foi possível a criação do museu em um prédio estadual.
A SEE/MG ressaltou, em nota enviada em novembro, que segue trabalhando para atender às demandas do local e busca parcerias estratégicas para garantir a manutenção e o desenvolvimento do espaço. A decretaria informa que “está tomando as medidas necessárias para solucionar questões como climatização e infiltrações”. Além disso, “o empréstimo de peças do acervo é realizado de forma controlada, com o acompanhamento do Sistema Eletrônico de Informações (SEI)”, disse o órgão em nota.