Mulher trans foi executada à luz do dia em avenida da Região Centro-Sul de BH
 -  (crédito: Arquivo pessoal/Reprodução)

Mulher trans foi executada à luz do dia em avenida da Região Centro-Sul de BH

crédito: Arquivo pessoal/Reprodução

A morte de Jeane Lui, mulher trans executada a tiros, na madrugada desse domingo (5/1), pode estar ligada à disputa entre duas facções criminosas do Rio de Janeiro, que têm domínio em aglomerados de Belo Horizonte. Jeje Sucesso, como era conhecida, foi alvejada na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Luxemburgo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.


De acordo com o boletim de ocorrência, levantamentos preliminares deram conta que Jeane era filiada do Terceiro Comando Puro (TCP), organização criminosa carioca fundada em 2000 a partir de um desmembramento do Terceiro Comando. Na capital mineira, informações dos órgãos de segurança pública apontam que o grupo comanda o tráfico de drogas no Cabana do Pai Tomás, na Região Oeste. 


 

Momentos antes do homicídio, a mulher teria se envolvido em uma briga com um homem, identificado como “Marlin”, conhecido como chefe do tráfico do Aglomerado Morro das Pedras. A região é liderada pelo Comando Vermelho, outra facção do Rio de Janeiro, rival do TCP. “É possível que traficantes tenham se aproveitado do momento de descuido da vítima e a atacado”, aponta o registro policial. 


 

No entanto, outra possível motivação para o crime, segundo o B.O. confeccionado no dia, é que em um momento mais cedo, antes da discussão com “Marlin”, Jeane também teria brigado com outra mulher, ainda não identificada. Além disso, durante o embate, a vítima teria arremessado uma pedra contra o desafeto. 


Execução 


Aos 32 anos, a mulher foi brutalmente assassinada a tiros por dois homens que estavam em uma motocicleta. Uma amiga, que a avistou do outro lado da Avenida Raja Gabaglia, quando saía para ir à padaria, presenciou o momento do crime. Segundo relatado ao Estado de Minas, o homem se aproximou já com a arma em punho e, aproveitando que Jeane estava de costas para ele, efetuou o primeiro disparo. Mesmo caída no chão, o atirador continuou disparando antes de fugir em uma motocicleta junto com o comparsa.


 

Próximo ao corpo, a polícia recolheu na manhã desse domingo mais de dez cápsulas de munição de grosso calibre. Até esta tarde, os suspeitos ainda não haviam sido localizados. A ausência de câmeras de segurança operantes na área dificulta a identificação dos suspeitos, diz a Polícia Militar (PM). 


De acordo com a PM, a vítima tinha passagens por tráfico de drogas, lesão corporal e agressão e havia deixado a prisão no ano passado. O caso está sob investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de Minas Gerais, que ainda não definiu uma linha de investigação, mas aposta nos depoimentos de testemunhas e na análise das cápsulas de munição encontradas no local para identificar os autores do crime.


 

Jeje Sucesso


Jeane é lembrada pelos moradores por sua alegria contagiante e paixão pelo samba. A família não soube informar à polícia se ela vinha recebendo ameaças. Para a Escola de Samba Cidade Jardim, a qual fazia parte, a perda é irreparável. "Ela era nosso ‘sucesso’. Uma pessoa que transformava qualquer ambiente em um lugar mais leve e divertido”, afirma Alexandre Silva Costa, presidente da agremiação, que mora ao lado da quadra da escola e ouviu os tiros que interromperam a vida da amiga. "Foi uma coisa covarde. Ouvir os disparos e depois saber que foi com ela, foi devastador", conta.

 

 

A polícia ainda investiga se o assassinato de Jeane foi motivado por transfobia. O fato, porém, reforça a dura realidade da violência enfrentada por pessoas trans no Brasil. Minas Gerais ocupa o quinto lugar no ranking de estados com mais registros de violência contra a população trans, conforme o último dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado em janeiro de 2024 com dados referentes a 2023.


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"Jeane começou perdendo na vida: preta, trans, favelada. Mas nunca deixou de sorrir e lutar. A vida não foi amável com ela, como ela foi com a vida", declara Alexandre. "Ela chamava todo mundo de ‘sucesso’, era muito engraçada. Foi assim que surgiu o apelido, Jeje Sucesso. Onde estava, fazia todo mundo sorrir. O pessoal ficava encantado com ela”, contou em entrevista à reportagem do Estado de Minas.