Foto do livro dos heróis e heroínas da pátria, com páginas de metal -  (crédito: MOISÉS NAZÁRIO/AGÊNCIA SENADO)

Foto do livro dos heróis e heroínas da pátria, com páginas de metal

crédito: MOISÉS NAZÁRIO/AGÊNCIA SENADO

História com H maiúsculo – de Hipólita, escrita com todas as letras da coragem e agora eternizada no “Livro dos heróis e heroínas da pátria”. Única mulher participante da Conjuração Mineira (1788-1789), um dos principais movimentos anticoloniais do Brasil, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo (1748-1828), natural de Prados, na Região do Campo das Vertentes, tem sua memória reverenciada nas páginas do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília (DF), após sanção da Lei 15.086, de 2024, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). A publicação no Diário Oficial da União ocorreu na segunda-feira (6/1).

 

Conforme divulgado pela Presidência da República, foi reconhecida a importância de Hipólita Jacinta “pela participação ativa na Conjuração Mineira e por ter colaborado na comunicação entre os inconfidentes, financiado algumas das ações e oferecido sua residência para encontros e reuniões do movimento” cujo principal expoente foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).

 

No “Livro dos heróis e heroínas da pátria”, cujas páginas são de metal, Hipólita Jacinta figura entre outros mineiros ilustres, além de Tiradentes: Darcy Ribeiro (1922-1997), Chico Xavier (1910-2002), Juscelino Kubitschek (1902-1976), Santos Dumont (1873-1932) e Zuzu Angel (1921-1976). “Viva Hipólita! Uma mulher que defendeu a democracia, a liberdade, a independência e a república, muito antes da ocorrência de qualquer levante nesse sentido”, diz, com orgulho e satisfação, a historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloísa Starling, coordenadora, na instituição, do Projeto República.

 

 

A contemporaneidade de Hipólita é impressionante, destaca Heloísa. “Ela ensina muito às mulheres de hoje. Em pleno século 18, fez algo proibido às mulheres, que era entrar na cena pública. E falar com voz própria e defender a liberdade, dar ordens às tropas. Costumava dizer que ‘quem não tem competência para as coisas, que não se meta nelas’”.

 

Autora de “Independência do Brasil, as mulheres que estavam lá” (Bazar do Tempo/2022), Heloísa observa que Hipólita não foi presa pela Coroa portuguesa, mas sofreu uma pena que pode ser pior do que a morte, como diziam os gregos: o esquecimento. “Ela foi apagada da história, mesmo com o protagonismo e a ação política. Por isso é tão importante a inscrição no ‘Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria’”. Os bens de Hipólita foram confiscados, mas ela conseguiu recuperar cerca de 90%.

 

 

Legado

 

A iniciativa teve origem em projeto de lei da Câmara dos Deputados (PL 2.285/2023), de autoria do deputado federal Jonas Donizette (PSB-SP). Durante a tramitação do projeto no Senado, o projeto teve como relator o senador Cid Gomes (PSB-CE).

 

 

Reconhecida como a única mulher a participar ativamente da Inconfidência Mineira, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo fazia parte da elite de Vila Rica, atual Ouro Preto. Pertencia a uma das três famílias mais ricas do Campo das Vertentes. A Fazenda Ponta do Morro – localizada entre a vila de São José del-Rei (atual cidade de Tiradentes) e o arraial de Prados, em Minas – de sua propriedade, era espaço de encontros e reuniões secretas dos participantes do movimento.

 

“Seu legado foi resgatado ao longo dos anos graças aos esforços de mulheres empenhadas em revelar a participação feminina na história nacional. Em 1999, houve a concessão póstuma à Hipólita Jacinta Teixeira de Melo da Medalha da Inconfidência, e ela se tornou a primeira mulher a receber tal distinção, destacou Cid Gomes durante a análise da matéria na Comissão de Educação e Cultura (CE), segundo informações da Agência Senado.

 

Panteão da Inconfidência


Em 29 de abril de 2023, 234 anos após o fim da Conjuração Mineira, importante movimento anticolonial contra a derrama (cobrança forçada de impostos atrasados) e a dominação da Coroa Portuguesa, a figura de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo voltou à tona da história, emergindo de séculos de apagamento. Em cerimônia no Panteão da Inconfidência, no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, na Região Central, houve descerramento da lápide simbólica – ela foi sepultada em um cemitério de Prados, o que demanda pesquisas. Embora Hipólita tenha pertencido a uma família rica e influente daquele período, até hoje não se encontrou nenhuma imagem ou descrição física que a caracterizasse.

 

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Foi em 2022 que, sob a coordenação de Heloísa Starling, a pesquisa histórica sobre a inconfidente teve êxito em demonstrar o papel de Hipólita na defesa da liberdade, da independência e soberania. O relato está no livro “Independência do Brasil, as mulheres que estavam lá”. A figura da brava mineira ganhou música das compositoras Zélia Duncan e Ana Costa, “Dona Hipólita Jacinta”. Eis um verso: “Hipólita, Hipólita, insólita a tua coragem/Na margem da história de ontem/Anseio de liberdade”.