O estouro de um pneu é apontado entre as possíveis causas do mais grave acidente já registrado nas rodovias federais do país. Uma colisão entre um ônibus e uma carreta que transportava um bloco de granito matou 39 pessoas há exatamente um mês, em 21 de dezembro, na BR-116, em Teófilo Otoni, Região do Vale do Mucuri. A Polícia Civil de Minas Gerais, porém, ainda não divulgou o laudo pericial confirmando ou descartando essa hipótese.
De lá para cá, no último dia 26, o mesmo tipo de problema pode ter causado outro acidente grave, envolvendo um automóvel e um coletivo, na BR-135, em Joaquim Felício, na Região Central de Minas, que deixou quatro mortos. Mas, afinal, estouros de pneus são ocorrências comuns? E o motorista pode evitá-las?
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A reportagem fez essa pergunta a dois fabricantes e a um engenheiro especializado. A resposta é que o estouro de pneus em boas condições e compatíveis com o veículo é extremamente raro, a menos que ocorra um impacto contra um buraco ou algum desnível acentuado. Mário Pinheiro, engenheiro mecânico e membro da Comissão Técnica de Dinâmica Veicular da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE Brasil), explica que, via de regra, esse tipo de problema só acontece quando o componente apresenta alguma falha estrutural.
O especialista lembra que, enquanto estão rodando, os pneus sofrem aumento da pressão interna devido à elevação da temperatura causada pelo atrito com o solo. Trata-se de uma situação normal e prevista no projeto, mas perigosa caso o componente tenha alguma falha: nesse cenário, a alta pressão pode provocar um estouro. "A bolha é o maior perigo", adverte Pinheiro, referindo-se a um tipo de dano comum que pode surgir nos ombros (paredes laterais dos pneus), especialmente após impactos contra buracos ou guias de calçadas.
"Na grande maioria dos casos, os pneus estouram pelos flancos, que são mais flexíveis. É uma questão técnica, para que a banda de rodagem, mais rígida, permaneça sempre em contato com o solo", esclarece o engenheiro. Ele acrescenta que outros fatores, como sobrecarga do veículo e problemas na suspensão, também podem facilitar a ocorrência de estouros, principalmente se já houver algum problema estrutural.
Pinheiro destaca outro fator que pode causar o estouro de pneus: reformas realizadas fora dos parâmetros. "Alguns modelos de pneus permitem a reutilização, mas o serviço deve ser feito por especialista e em um número limitado de vezes", ressalta. Marcos Aoki, diretor de vendas da Bridgestone no Brasil, também alerta que a reforma desses componentes é viável em alguns casos, mas exige respeito às especificações técnicas.
O especialista da Bridgestone explica as diferenças entre recapagem, recauchutagem e remoldagem. Na recapagem, apenas a banda de rodagem do pneu é substituída; na recauchutagem, os ombros (parte externa entre a banda de rodagem e o flanco) também são trocados; já na remoldagem, a renovação inclui os flancos. Por fim, há ainda o pneu ressulcado, que tem os sulcos da banda de rodagem refeitos após o desgaste.
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Pneus de veículos pesados são mais suscetíveis a estouros?
De acordo com os representantes dos dois fabricantes consultados pela reportagem, veículos pesados não são mais propensos a estouros de pneus do que os carros de passeio. "Não destacamos essa comparação, pois ambos os tipos de pneus, para automóveis e veículos pesados, são projetados para contextos distintos e possuem características técnicas específicas", explica Aoki, da Bridgestone.
"Não há uma relação direta entre veículos pesados e uma maior probabilidade de estouro dos pneus", reforça Siqueira, da Continental. Contudo, ele observa que veículos pesados frequentemente são submetidos a uso intenso, o que provoca maior desgaste em todos os componentes, inclusive nos pneus. Por isso, a manutenção deve ser mais constante. Além disso, ele destaca a importância de respeitar a capacidade máxima de carga do veículo e de distribuir adequadamente o peso do material transportado pela carroceria.
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Cuidados
- Manter os pneus calibrados de acordo com a indicação do manual do proprietário;
- Fazer o rodízio de pneus periodicamente;
- Evitar sobrecarga no veículo;
- Fazer a manutenção preventiva de componentes atuam diretamente sobre os pneus, como amortecedores, molas, freios, rolamentos, eixos e rodas;
- Respeitar as medidas e especificações determinadas pelo fabricante do veículo ao substituir os pneus;
- Manter a direção alinhada e as rodas balanceadas;
- Optar pelo pneu indicado ao tipo de uso: nada de usar componentes off-road em veículos que circulam majoritariamente no asfalto, ou vice-versa;
- Inspecionar os pneus regularmente e não utilizá-los se estiverem danificados com cortes, bolhas ou "carecas". Se as camadas internas, como as cintas metálicas, estiverem expostas, já passou, e muito, da hora de trocar os componentes: a vida útil é indicada pelo TWI, uma saliência que atravessa os sulcos da banda de rodagem. O limite de profundidade mínimo é de 1,6 mm;
- Não permitir o contato do pneu com derivados de petróleo ou solventes, que "atacam" a borracha;
- Evitar direção agressiva, com freadas fortes, mudanças bruscas de direção e velocidades elevadas, especialmente em dias muito quentes.